Mais de 360 plantas raras das 578 analisadas no Cerrado brasileiro, considerado um centro da biodiversidade no mundo, estão em risco de extinção, segundo um estudo a ser divulgado esta segunda-feira no Rio de Janeiro, declarou um dos organizadores.

“O `Livro Vermelho da Flora do Brasil – Plantas Raras do Cerrado´ será lançado esta segunda-feira à tarde, no Solar da Imperatriz, no Jardim Botânico do Rio de Janeiro”, afirmou um dos coordenadores do estudo, Gustavo Martinelli. As 366 plantas raras estão organizadas em três categorias de risco de extinção – criticamente em perigo, em perigo, e vulnerável -, tendo sido avaliadas no estudo coordenado pelo Centro Nacional de Conservação da Flora (CNCFlora), que envolveu ainda mais 107 especialistas.

Segundo Martinelli, “os biomas do Cerrado (centro-oeste do Brasil) e Mata Atlântica (no litoral brasileiro) são considerados `hotspots´ da biodiversidade, ou seja, são áreas das mais ameaçadas no Brasil e no mundo”. O organizador do estudo – que é também coordenador-geral do CNCFlora, ligado ao Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (IBRJ) – disse que este é “o segundo estudo lançado sobre espécies da flora brasileira em risco de extinção desde 2013”. “Lançámos em 2013 o `Livro Vermelho da Flora do Brasil´, no qual foram analisadas cerca de 4.600 espécies, sendo que sendo que 2.108 foram consideradas ameaçadas, ou sejas, oito por cento das espécies da flora total brasileira foram estudadas e apenas quatro por cento foram consideradas ameaçadas”, afirmou.

Martinelli disse que no total, o Brasil possui 45.811 espécies na sua flora, um número que foi avançado este ano, mas que poderá subir conforme o avanço das pesquisas nesta área.

“Ainda há muitas espécies a serem analisadas e nós iremos continuar o trabalho, tentando atingir o total de espécies da flora brasileira”, sublinhou o coordenador do CNCFlora. “Este foi o compromisso que o Brasil assumiu junto da Convenção da Diversidade Biológica (CDB — instrumento internacional) para 2020, avaliar o risco de extinção de toda as espécies da flora brasileira”, acrescentou o investigador.

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Os livros vermelhos, de acordo com Martinelli, “têm como principal objetivo subsidiar os tomadores de decisão com informação científica qualificada para orientar as iniciativas de preservação da biodiversidade florística do país, de forma a cumprir metas estabelecidas na CDB, da qual o Brasil é um dos signatários”.

“Num país com as dimensões continentais com do Brasil, as ameaças tem uma dinâmica muito complexa, dependendo das regiões, podendo algumas espécies terem múltiplas ameaças”, disse. “Entretanto, a principal ameaça é a destruição dos habitats, dos ambientes em que estas espécies da flora vivem através, por exemplo, da expansão da agricultura, de obras de infraestruturas (hidroelétricas), extração da madeira, entre outras”, explicou.

Segundo Martinelli, o Governo e a sociedade devem estar cientes deste problema e agir em conjunto, com medidas de curto e longo prazo, para evitar a extinção das espécies da flora brasileira.

Junto com o “Livro Vermelho da Flora do Brasil – Plantas Raras do Cerrado”, serão lançados hoje o livro “Áreas Prioritárias para Conservação e Uso Sustentável da Flora Brasileira Ameaçada de Extinção (em colaboração com o Laboratório de Biogeografia da Conservação/CB-Lab, da Universidade Federal de Goiás) e o “Plano de Ação Nacional (PAN) para Conservação do Faveiro-de-Wilson”.

O “Livro Vermelho da Flora do Brasil” ganhou em outubro de 2014 o prémio Jabuti, da área da literatura, no Brasil. As três publicações estarão disponíveis no sítio eletrónico do CNCFlora (http://cncflora.jbrj.gov.br/portal) a partir de terça-feira.