As eleições presidenciais ameaçam tornar-se uma espécie de primárias para a escolha do candidato mais forte da direita. A anunciada disponibilidade de Pedro Santana Lopes apanhou de surpresa o PSD que não queria falar tão cedo nestas eleições e que considerava que era um assunto mais explosivo para a esquerda, com o tabu de Guterres, do que para a direita.
Agora, as peças do xadrez começam a sobrar. Marcelo Rebelo de Sousa ainda não disse que não, mas vai empurrando uma decisão para o outono. Rui Rio, remetido ao silêncio, estreitou as relações com a direção de Passos e mandou calar aqueles que a partir do Porto queriam dinamizar uma plataforma para apoio a uma candidatura presidencial – um sinal registado com agrado na São Caetano e que veio ajudar a aproximar posições. Pedro Santana Lopes desde a semana passada que se tem desdobrado em declarações sobre a disponibilidade em avançar para uma candidatura, o que a seu ver deve ser feito desejavelmente até abril. “Ele é intuitivo. Achou que Guterres não vai avançar e quis marcar terreno”, comentou ao Observador um ex-dirigente, referindo-se ao prolongamento do mandato do socialista como Alto-Comissário para os Refugiados.
As opiniões, contudo, dividem-se no PSD. Há quem veja no avanço de Santana um bluff, apenas uma estratégia do ex-primeiro-ministro de picar Marcelo Rebelo de Sousa e obrigá-lo a tomar uma decisão mais cedo do que quereria, ou seja, lá para o outono.
O próprio Santana assumiu esta semana na SIC Notícias que já conversou com Marcelo sobre as presidenciais. Disse-lhe, pelo menos, duas coisas: que era bom que houvesse vários candidatos presidenciais da área do centro-direita e que estes deviam apresentar uma candidatura muito antes da campanha para as legislativas, que terão lugar em outubro. O professor de Direito retorquiu com aquilo que é a sua tese e que também a tem repetido ao longo das últimas semanas: não se deve misturar as legislativas com as presidenciais e, portanto, só no final do ano é que os candidatos presidenciais se devem apresentar.
Há dez anos, enquanto Cavaco não dizia oficialmente se era candidato a Presidente – só o fez a 20 de outubro -, Santana Lopes também alimentou uma novela parecida. Foi sempre menos taxativo do que agora, mas fez várias declarações a admitir que podia estar interessado na corrida, provocando dessa forma o candidato por que todo o PSD esperava.
Entre os mais próximos de Santana, porém, a convicção é a de que o ex-primeiro-ministro quer ir até ao fim da corrida. Otimistas, lembram que Mário Soares começou a campanha presidencial em 1985 com 8% dos votos e conseguiu ganhar as eleições numa segunda volta.
Na direção do PSD, este é um assunto fora da agenda. Entre os sociais-democratas ninguém estava a pensar, há algumas semanas, que se estaria a discutir as presidenciais desta forma logo nos primeiros dias de janeiro. E rejeitam qualquer ideia de primárias, ou seja, vários candidatos da direita numa primeira volta, que fizessem a triagem para a segunda volta. “Não é essa a tradição” à direita nas presidenciais, referem.
Mesmo assim, há quem não desista de Marcelo, que já teve várias oportunidades para dizer que ‘não’ nas últimas semanas e não o fez. “Digo o mesmo sobre Marcelo que Augusto Santos Silva disse sobre António Guterres: Já é tarde para dizer que não é candidato”, afirmou ao Observador um dirigente do PSD.
E, claro, há ainda Rio. “Se avançar até pode ser do agrado de Passos, para arrumar o assunto e não ser candidato ao PSD”, refere fonte próxima do primeiro-ministro.
CDS não segue Santana
O CDS observa com prudência. Até aqui, vários dirigentes, como António Pires de Lima ou Nuno Magalhães, apontavam Marcelo como o melhor candidato. Santana era uma carta fora do baralho. Se esta candidatura se tornar a única do espaço da direita, as opiniões dividem-se sobre se, assim, não será melhor o CDS tentar apresentar um candidato próprio.
Ao Observador, Pires de Lima, ministro da Economia, mantém que Marcelo “é a única possibilidade de candidato apoiado pela direita que tem hipóteses de ganhar” e defende que o timing desejável para se desenharem as candidaturas presidenciais, que partem dos próprios sendo que depois disso é que os partidos formalmente se pronunciam, é “antes do verão”.
A candidatura presidencial é uma matéria que vai constar no acordo de coligação pré-eleitoral para as legislativas que PSD e CDS deverão assinar em breve. Mas, segundo fontes tanto do PSD como do CDS, não deverá ficar inscrita uma frase taxativa sobre candidatura conjunta. Uma vez que esta é unipessoal e não compete aos partidos, o mais provável (e ao mesmo tempo flexível) é os dois partidos se comprometerem a trabalhar para uma apoiar uma candidatura de centro-direita à Presidência da República. Se se apresentarem vários candidatos à esquerda e à direita e, assim, aumentarem as probabilidades de uma segunda volta nas eleições, PSD e CDS podem unir esforços nesse segundo momento.
“Está tudo em aberto e mesmo os possíveis candidatos estão todos à espera uns dos outros, nomeadamente, à espera do PS”, explicou um dirigente do CDS, esclarecendo que o apoio do partido “depende dos candidatos” de direita que aparecerem. Para além de Santana não ser um candidato com hipóteses de ganhar, os centristas não perdoam a queda do Governo de coligação em 2005 – o Governo PSD-CDS era comandado por Santana e Portas e acabou por ser “despedido” pelo então Presidente da República, Jorge Sampaio, em rota de coligação com o social-democrata.