Se um carro sem condutor ainda lhe parece uma coisa do futuro ou que só imagina nos filmes, prepare-se porque pode estar cada vez mais próximo da realidade. Depois de o estado norte-americano da Califórnia ter sido o primeiro a autorizar a circulação de carros que não precisam de condutor nas suas estradas, agora também o Reino Unido vai poder testar estes carros em quatro cidades – Bristol, Greenwich, Coventry e Milton Keynes. Os defensores deste tipo de veículos falam em maior segurança na condução e poupanças de energia, mas, por enquanto, os testes ainda exigem a presença humana.
Com os primeiros códigos de conduta a sair na primavera deste ano, o Reino Unido espera ter uma legislação completa sobre os carros sem condutor até 2017 – que, na Europa, só existe na Alemanha e Suécia. Por agora é exigido que os carros em teste tenham um condutor humano qualificado, mas no futuro é preciso definir outras regras como: “quem será responsável por um acidente no caso dos carros sem condutor?” Imagine-se então como seria se se realizasse a ideia de Mike Hearn, antigo funcionário da Google e programador de software de Bitcoins: um carro sem condutor e sem dono, que desenvolve a própria atividade profissional, ganha dinheiro e abastece-se e até pode mudar de cidade à procura de emprego.
Os testes vão permitir perceber qual o desempenho do carro sem condutor – no Reino Unido pondera-se que o nível de exigência possa ser maior do que para os condutores humanos. A título de exemplo, o carro que a Google testou em estrada em 2012 no Nevada, nos Estados Unidos, embora tenha tido um bom desempenho, teve de ser alvo de intervenção humana por duas vezes. Além de o teste ter sido feito num percurso já conhecido, não passou por rotundas, passagens de nível, estradas de terra batida, zonas escolares e comerciais, nem foi testado com chuva, nevoeiro, vento ou neve. Mas para perceber como é que um carro sem condutor funciona o Telegraph preparou uma animação (aqui).
Em busca da condução perfeita está a equipa de investigadores da Universidade de Stanford, na Califórnia, que há cerca de dez anos constrói carros sem condutor, alguns deles para as competições da agência de projetos tecnológicos do Departamento de Defesa dos Estados Unidos (Defense Advanced Research Projects Agency). O objetivo de promover estas tecnologias estava relacionado com a meta do governo de ter 30% dos veículos militares não tripulados até 2015, para diminuir o número de baixas.
No teste feito na pista Thunderhill Raceway Park, na Califórnia, o carro que não precisa de condutor foi sujeito a vários tipos de curvas diferentes (15) e a situações diversas, assim como a retas onde podia acelerar ao máximo. O robot mostrou que sabe exatamente quando deve travar ou abrandar consoante a situação.
Desde a altura em que o carro “Stanley” venceu a corrida no Deserto de Mojave, em 2005, ao percorrer cerca de 211 quilómetros em seis horas e 53 minutos, a uma média de 31 quilómetros por hora, até aos mais de 190 quilómetros por hora atingidos em 2012, a equipa do Laboratório de Design Dinâmico, da Universidade de Stanford, foi introduzindo alterações. Mas, mesmo para um carro sem condutor, a componente humana continua a ser importante. “Precisamos de saber o que os melhores condutores fazem que os torna tão bem sucedidos”, disse em comunicado de imprensa Chris Gerdes, coordenador da equipa. “Se conseguirmos encontrar um paralelo entre isso e os dados da dinâmica de veículos, podemos fazer um uso melhor das capacidades do carro.”
Medindo a atividade cerebral dos condutores profissionais, a equipa de Chris Gerdes verificou que, durante as tarefas mais complexas, os condutores usavam menos o cérebro, o que os levou a especular que a condução nessas situações poderia depender mais da intuição e da memória muscular. Os algoritmos foram modificados para se equipararem o mais possível às reações humanas, mas há uma parte que não pode ser introduzida no robot – as reações humanas imprevistas e a capacidade de quebrar as regras. Como o cérebro humano pode considerar vários fatores e situações em simultâneo, os condutores experientes podem levar o carro até ao limite, pisar as linhas delimitadoras ou até sair da pista – estratégias humanas que algoritmos de um carro sem condutor não podem reproduzir.