A precisamente dois meses do dia em que se comemoram os 41 anos do 25 de abril de 1974, e ainda no rescaldo das desavenças que envolveram Assunção Esteves e Vasco Lourenço no ano passado, a presidente da Assembleia da República vai almoçar esta terça-feira na Associação 25 de abril, a convite dos capitães. Trata-se de um almoço privado, “sem agenda predefinida”, que, de acordo com o gabinete da Presidente, já está marcado desde o ano passado. Vasco Lourenço, no entanto, não exclui que possa vir a servir para acertar o passo quanto às cerimónias comemorativas da Revolução dos cravos.
“Não há agenda predefinida, por isso nada está excluído, podemos falar sobre tudo”, limitou-se a dizer o coronel e presidente da Associação 25 de abril ao Observador, quando questionado sobre se o encontro iria servir para tratar de questões relacionadas com as comemorações da data e com uma eventual ida dos militares ao Parlamento. A confirmar-se, seria a primeira vez em quatro anos que a Associação 25 de abril estaria representada na sala do plenário aquando das comemorações.
A verdade é que os capitães de abril já não marcam presença na sessão solene comemorativa do aniversário da revolução desde que Pedro Passos Coelho foi eleito primeiro-ministro e o atual Governo tomou posse. Inicialmente não quiseram estar presentes, por considerarem que o ciclo político que se vivia era contra os ideais e valores preconizados pelo 25 de abril. Foi assim em 2012 e voltou a ser assim em 2013. No ano passado, ano em que se assinalavam os 40 anos da revolução, a resposta ao convite da Assembleia voltou a ser ‘não’, mas o episódio foi mais conturbado.
A propósito da data redonda, Vasco Lourenço tinha ponderado aceitar o convite dessa vez, mas com a condição de os militares poderem usar da palavra durante a sessão solene no Parlamento. A Presidente da Assembleia da República, no entanto, viria a recusar a ideia dizendo que o convite era apenas para estarem presentes, já que não houve nenhuma indicação dos partidos para alterar os moldes das intervenções parlamentares. Por isso, se queriam falar “o problema era deles”, disse na altura. Rapidamente se acendeu o debate, que terminou apenas com o presidente da Associação 25 de abril a cortar o mal pela raiz: “Se o problema é nosso, então o problema está resolvido, não estaremos presentes”. E não estiveram.
O Observador sabe que o almoço desta terça-feira, que vai decorrer na própria Associação 25 de abril, partiu de um convite dos militares a Assunção Esteves, feito ainda no rescaldo da polémica de 2014. “O almoço já está agendado há muito tempo”, confirmou fonte do gabinete da Presidente ao Observador, sublinhando que se trata de um encontro informal e sem agenda. Por questões de calendário, e por estarmos prestes a entrar no mês de março, o mais natural é que as preparações das comemorações e a eventual presença dos militares na sessão parlamentar sejam tópicos abordados. O encontro, no entanto, decorrerá “sem formalidades” e “sem declarações públicas”, garantiu Vasco Lourenço.
Não que as “pazes” entre Assunção Esteves e os militares de abril não estivessem já feitas. Em abril do ano passado, ambas as partes fizeram saber que a recusa nada tinha a ver com más relações entre as duas instituições e, para o provar que “não tinha nada contra a Associação 25 de abril”, cinco dias depois de estoirar a polémica, Assunção Esteves quis visitar a Associação para um “encontro de afeto” com o coronel.
Quase um ano depois, Vasco Lourenço confirmou ao Observador as relações cordiais com a Assembleia da República mas não quis adiantar o que está a ser preparado para o aniversário da revolução, nem tão pouco se é este ano que os militares vão estar presentes no Parlamento de cravo ao peito.