Era lançar o dado, ver que número calhava e avançar até uma casa. Podia calhar uma rua vermelha, roxa, verde ou amarela, e até notas de dinheiro havia para as comprar. O Monopólio não era difícil e servia para divertir um grupo de amigos ou a família em redor de um jogo de tabuleiro. Mas alturas também houve em que passou a servir de método para, durante a Segunda Guerra Mundial, os serviços secretos britânicos ajudarem os prisioneiros de guerra.

O jogo, inventado em 1903, nos EUA, não demorou muito a tornar-se popular e a espalhar a reputação além-fronteiras. Na década de 30 era famoso na Europa, sobretudo no Reino Unido, e assim estava quando a segunda guerra do século irrompeu no continente, em 1939. Dois anos depois, Adolf Hitler, líder alemão e comandante das tropas nazis, ordenava a expansão de vários campos de concentração.

Entre eles, por exemplo, estava Auschwitz. Nessa altura, a 26 de março de 1941, data em que o Führer dá a ordem para alargar os campos, Londres já era alvo de bombardeamentos por parte da força aérea germânica. Aí já existia o MI9, um ramo do MI6, sigla dos serviços secretos britânicos, formado com o objetivo de auxiliar os prisioneiros de guerra — e, se possível, ajudá-los a escapar. Por isso as autoridades viram no Monopólio uma das formas de o tentar fazer.

E não foi uma forma qualquer, pois teve dimensão suficiente para ser matéria de livro, intitulado “The Monopolists”, da autoria de Mary Pilon e publicado a 14 de fevereiro, como recordou esta segunda-feira o diário espanhol ABC. Tudo começou quando o MI9 contactou a Waddingtons, empresa responsável pelo fabrico e a comercialização do Monopólio no Reino Unido, pedindo-lhe que criasse uma versão especial do jogo destinada aos prisioneiros de guerra.

Essa versão foi concebida para incluir fundos ocultos no tabuleiro e na caixa do jogo, que escondiam arquivos, facas e até pequenas bússolas, além de códigos e cifras próprias para indicar o mapa que estaria escondido no tabuleiro em questão. “Um ponto final escrito após Marylebone Station, por exemplo, significava Itália; um depois de Mayfair indicava que seria Noruega, Suécia e Alemanha”, explicou Debbie Hall, da biblioteca de Bodlein, em Oxford, ao The Guardian.

Até mapas da Alemanha, França, Suécia ou Noruega era impressos e escondidos, de alguma maneira, no jogo. O MI9, aliás, também escondia informação em objetos como canetas, lápis, ou baralhos de cartas. O Monopólio acabava por chegar às mãos pretendidas devido às condições estabelecidas nas Convenções de Genebra, que autorizavam os prisioneiros de guerra a receberem jogos ou passatempos.

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