A Luz entra e as luzes acendem-se. Há quem tenha nascido com um nome que mais cedo ou mais tarde encontrará um lugar que se lhe aplique. Não é um palco, é um balcão. Há luzes, mas não há câmara. Há ação. Não há as três pancadas de Molière, mas há a hora certa. Onze badaladas e Luz sobe as pequenas escadas. Ligam-se as luzes vermelhas gigantes atrás: COYOTE UGLY. Assim mesmo, num vermelho que encandeia. Está na hora da primeira coiote cantar.

Desde janeiro que são seis as coiotes que sobem ao balcão do novo bar Coyote Ugly, em Lisboa. Luz é uma delas. A única que canta e também a mais nova. É loira e tímida, como Violet, a cantora que saltou para o sucesso na película de David McNally do início do século. Um filme que já viram e repetiram, mas sem exaustão ou não soubessem (e gostassem) das músicas do filme que dançam e cantam todos os dias de terça a domingo. “Temos histórias parecidas. Ela era muito envergonhada e queria ser cantora, mas tinha medo de cantar para as pessoas”, conta Luz. Também ela sente o mesmo medo, que ultrapassa aos poucos quando sobe ao palco.

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Quem entra pelas portas do bar na Doca de Santos entra na atmosfera do filme que deu a conhecer ao mundo um novo conceito de bar que existe em Nova Iorque e que agora chegou a Lisboa pelas mãos de Luis Charneca e Manuela Lopes. Mas calma, não se pense que a ideia é pôr clientes a beber por baixo da máquina da imperial ou que vão ser regados por bebida espalhada a partir do balcão. Este é um coiote bar versão séria.

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Quem o diz é o dono, que empenhou as pratas num espaço grande — em alguns dias grande de mais — para concretizar um sonho. Deu-lhe o ar de sala de cinema e acrescentou-lhe um restaurante. Ou melhor, uma steakhouse onde a carne vem toda da Argentina trabalhada por uma chef portuguesa. Quem se senta para jantar (tem espaço para grandes jantares de grupo), senta-se numa plateia, com carpete vermelha ao melhor estilo das salas de cinema antigas.

As coiotes aparecem na tela, que é como quem diz o balcão, a cada meia hora. Levaram seis meses a ter aulas de dança para decorarem as coreografias que a coreógrafa e bailarina Candy Melo lhes ensinou. Candy, filha de pais emigrantes na Venezuela, chegou a Portugal há 20 anos para tirar uma licenciatura em dança. “A minha vida foi sempre a dança”, conta ainda com sotaque timbrado. É professora do ensino básico de dia, coiote à noite. Ou melhor, a chefe das coiotes.

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As coiotes dão cor ao sonho de Luis Charneca. O dono do bar e restaurante, filho de um empresário do cinema que chegou a ter 16 salas, foi a Nova Iorque ver o Coyote Bar que inspirou o filme. O primeiro de 13 nos EUA, que abriu há 24 anos. Mas porquê o filme? “Uma coisa são filmes onde o filme é ficção e onde as coisas não existem, e o Coyote Ugly de Nova Iorque existe. A ideia foi transportar essa realidade para o nosso país”, conta.

E se em Nova Iorque as coiotes se deitam no balcão e há clientes que bebem no corpo delas ou se no filme as coiotes incendeiam água ardente e dançam em cima do fogo, por aqui não vai ser assim: “Há cenas que se passam no bar do filme que eram praticamente impossíveis na realidade, senão gerava-se o caos. Pegar na mangueira e dar um banho a quem está no lado de cá, lançarem-se no balcão e dançarem em cima dos clientes… Bem, é cinema. Essas cenas não podem existir porque são cinema.”

A versão à portuguesa está aberta todos os dias, menos ao domingo, na Rua Cintura do Porto de Santos, Armazém 1, em Santos, Lisboa.