destaque

O clássico, claro. Para o bem e para o mal. A RTP parecia ter adivinhado na programação na manhã de domingo quando colocou em andamento um Benfica-Porto de dezembro de 1990. O jogo estava sempre parado, com muitas pantufadas, muitos chutões para a frente, faltas e ausência de um compromisso conjunto para cuidar bem da menina, da bola. Silvino e Vítor Baía estavam quase sempre tranquilos. Jonas Thern era o melhor dos encarnados, Jorge Couto ia agitando do outro lado. Geraldão tentava a 40 metros da baliza, com os famosos livres diretos, enquanto Ricardo Gomes fazia de patrão. Semedo e André metiam aquela gente em sentido no meio-campo, onde andava um competente Veloso que não era para aquelas curvas…

Os génios, os craques, os avançados que faziam suspirar — Rui Águas, Valdo, Isaías, Domingos e Kostadinov –, passavam despercebidos, talvez intimidados com a atitude guerreira das defesas (três deles acabariam por molhar a sopa, é certo). O clássico, com Eriksson e Artur Jorge no banco, terminou 2-2 (Ricardo Gomes, Rui Águas; Domingos e Kostadinov).

Quase 25 anos depois, foi tal e qual. Os senhores que escudavam os guarda-redes foram os heróis, com Jardel talvez a ganhar mais relevo nesta avaliação, até porque estava encarregue de anular um dos melhores avançados que passou pelo futebol português. Brahimi ameaçou uma grande exibição, mas rapidamente desapareceu. Talisca e Gaitán foram fantasmas, o segundo até parecia estar sem pernas. Óliver e Rúben Neves foram crescendo, ajudando o dragão a arrumar a casa e a cuspir fogo para as alas. Os visitantes estiveram um pouco melhor, pelo menos com bola e na ambição (mas era esse o seu dever, certo?). Depois entraram Quaresma e Herrera e Jorge Jesus travou ainda mais a coisa, com André Almeida e Fejsa, subindo Eliseu para o meio-campo.

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Conclusão? Muito, muito respeitinho de parte a parte, que resultou num jogo pobre. Parecia uma máquina do tempo, a levar-nos para dezembro de 1990. Sim, foi intenso, mas houve pouco futebol e trabalho para os guarda-redes. O Benfica de Jorge Jesus deixou de ser romântico como antigamente, como alguém que amava ler um jornal de papel e que se entregou às maravilhas de um iPad. Agora é pragmático, como se diz por aí. Mais vitórias e menos estilo, é isto que estará na mente do treinador do Benfica, a quem sorriu o empate no Estádio da Luz (0-0). Já Julen Lopetegui, que surpreendentemente surgiu no final de peito cheio, a dizer algo como “vamos lá ver se o empate lhes chega…”, poderia ter feito mais. O basco teve mais medo de perder do que vontade de ganhar, é esta a sensação que fica a pairar no ar. Agora tem de ganhar os seus jogos e rezar que o Benfica tropece duas vezes (faltam quatro jogos).

Um outro destaque, assim em segundo plano, foi a exibição de Ventura em Braga. O guarda-redes do Belenenses disse não, não e não a rapazes como Rúben Micael, Pedro Santos, Rafa, Zé Luís, Tiba, Pardo e Agra. É dose, hein? O empate (1-1) dos minhotos chegou só aos 85′, por Tiba. Os do Restelo não vencem naquele campo desde 2001. Esteve tão perto, senhores…

desilusão

O clássico, claro. Mas o pós-clássico, porque o Observador já castigou o suficiente o futebol que se praticou no relvado da Luz. É que houve um sururu entre Jorge Jesus e Julen Lopetegui que ficou mal na fotografia. O treinador dos encarnados, que até tem um passado negro nestes episódios, sorriu para o basco, estendeu-lhe a mão e aceitou o abraço. Lopetegui agarrou-se a ele, num tom que parecia amigável-mas-cuidado-comigo, e disse-lhe das boas. Comentadores e imprensa sugerem que o espanhol avisou Jesus de que não gosta que este lhe troque o nome. Para não haver dúvidas: é Lopetegui, senhor Jesus, e não “Lotopegui”.

Obviamente que falhar o nome de alguém e ainda brincar com isso, apesar de poder ser sem má-fé, poderá ser mal interpretado pelo alvo, mas será razão para tanto calor e proximidade? Talvez. É que, afinal, falamos de um clássico, que ainda por cima não lhe sorriu. Há até quem mencione que o espanhol ameaçou Jesus com um “puñetazo” (murro), mas os dois acabaram por ser separados. No rescaldo do duelo, Lopetegui disse que nada se passou, que cumprimentou Jesus e pronto. O treinador do Benfica também preferiu desvalorizar.

Fernando Santos, selecionador nacional, lamentou que estas situações ainda aconteçam. Mas as palavras mais duras chegaram, porventura, pela voz do presidente da Associação Nacional de Treinadores de Espanha e antigo colega de Julen Lopetegui na equipa secundária do Real Madrid. “As coisas devem ser ditas em privado. Na cara, mas em privado, sem originar uma situação como esta. Penso que não é bom nem para um nem para outro”, disse à Renascença Xavier Julià, aqui citado pelo jornal A Bola. “Conheço o seu caráter e sei que o pode levar a situações destas”, rematou.

frase

“O que se passou? Adrenalina, bate-boca e siga para bingo.” O clássico, pois claro. É irresistível esta frase de Jorge Jesus, ou não é? Lá está, foi um jogo a três tempos: empate a zero, que não acontecia desde 2001, um chega para cá e chega para lá e depois as reações ao duelo mano a mano. Lopetegui disse que foi normal. Mas não foi, até porque ficou no túnel à espera de novos capítulos da saga. Jorge Jesus, que estava cool no início, também azedou e quis dar-lhe mais dois dedos de conversa. No final, tudo normal. “Normal”, foi assim que Julen Lopetegui descreveu o episódio.

Já Jorge Jesus, no seu estilo inconfundível (e não, não era o Vítor Paneira nem Veloso), respondeu como é hábito: são coisas do futebol. “Só quem não jogou futebol é que não percebe. É a adrenalina de um jogo que acabou, bate-boca daqui, bate-boca dali. Segue para bingo.” Et voilá!

resultados

Sp. Braga 1-1 Belenenses

Académica 1-2 Gil Vicente

Estoril Praia 1-1 Marítimo

Rio Ave 1-1 Vitória Guimarães

Arouca 1-3 Paços Ferreira

Nacional 2-0 Penafiel

Benfica 0-0 FC Porto

Boavista 0-0 Vitória Setúbal

Moreirense 1-4 Sporting