O programa económico apresentado pelos 12 economistas do PS não tem recebido elogios só aos socialistas. Entre muitas destacadas figuras da ala social-democrata, não faltam nomes que têm vindo a público nos últimos dias falar sobre o documento como um sinal “positivo” de que o PS está a fugir da esquerda e a caminhar para o centro. E, com isso, a abrir caminho a entendimentos ao jeito de bloco central num eventual cenário pós-eleitoral sem maiorias absolutas.

Primeiro foi o economista e conselheiro de Estado Vítor Bento que, não subscrevendo o documento, disse tratar-se de uma base de trabalho “bastante útil” que, em termos ideológicos, coloca o PS num campo “liberal da esquerda”. Falando numa conferência no ISEG sobre políticas públicas para a década, na passada quarta-feira, Vítor Bento destacou que o facto de o documento ‘Uma década para Portugal’ ter “afastado o PS da extrema-esquerda” pode ser um sinal de que vai ser “mais fácil haver entendimentos no espetro político-partidário” se for necessário para a governação no outono.

Que o documento empurra António Costa para um terreno central, são várias as vozes que concordam. À boleia deste mote, também o ex-ministro das Finanças de Cavaco Silva, Eduardo Catroga, defende esta segunda-feira, em entrevista ao Público, que o documento representa uma “viragem do PS a caminho do centrão político”. Uma viragem, que, na opinião do ex-governante, pode empurrar os socialistas para o centro facilita a concertação pós-eleitoral e aproxima, inclusivamente, o PS do Programa de Estabilidade apresentado pelo Governo em Bruxelas. “O PS ficou ainda a um quilómetro de distância [do Programa de Estabilidade], mas afastou-se mil quilómetros das propostas dos segmentos políticos à esquerda do PS”, diz.

O economista e ex-governante sublinha ainda que o programa do PS é a base para “uma política económica de rigor que o PS nunca teve enquanto conduziu o Governo”, repetindo a ideia já defendida por Vítor Bento de que o documento permite ao PS “reganhar a ideia de credibilidade depois de ter sido afetado por aquilo que aconteceu com o Governo anterior”.

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Na entrevista publicada pelo jornal Público esta segunda-feira, Eduardo Catroga, que em 2011 negociou a viabilização do Orçamento do Estado com o PS, elogiou ainda a “metodologia” escolhida pelo PS, realçando que teria proposto a mesma coisa (de submeter à discussão pública um pré-programa eleitoral) em 2011, se tivesse havido tempo. Mas foi mais cauteloso na defesa de um eventual bloco central. À boleia de uma crítica subtil à coligação pré-eleitoral entre PSD e CDS, por “poder dificultar a criação de condições de estabilidade pós-eleitoral”, disse que não era partidário de um bloco central nos seus termos mais “formais”, mas sim de “convergências de políticas estruturais tipo bloco central”.

Apontando igualmente aspetos negativos do documento socialista, como os riscos que representa face ao cumprimento das metas europeias e a falta de incentivos à poupança, Catroga elogiou mesmo alguns aspetos da polémica proposta dos socialistas de reduzir a TSU dos trabalhadores cortando as pensões futuras, dizendo tratar-se de uma “medida inteligente”. “É uma forma habilidosa de fazer reduzir a TSU para as empresas e dizer que não é só para as empresas. Mas é uma medida inteligente no sentido do marketing, e que se insere na lógica de dar mais ênfase ao motor do consumo”, disse.

Outro nome social-democrata que elogiou a iniciativa socialista e se mostrou adepto de um bloco central foi Carlos Moedas. Em entrevista ao Diário Económico, publicada esta segunda-feira, o atual comissário europeu para a Investigação, Ciência e Inovação elogiou o “sinal muito bom” dado pelo PS para garantir a “estabilidade governativa” necessária no pós-eleições e defendeu, preto no branco, que a melhor solução para umas eleições sem maiorias absolutas seria a formação de um bloco central.

“Não havendo maioria absoluta teria de haver uma solução de um chamado bloco central. Em Portugal existe uma menor tradição de bloco central e de coligações mas o facto é que esta coligação é a primeira que está a chegar ao fim da sua legislatura, e isso mostra uma maturidade democrática grande”, disse.

Entre o leque de ex-líderes do PSD e atuais comentadores políticos também não têm faltado análises positivas. Manuela Ferreira Leite, na TVI24, disse logo que o documento era um sinal de que afinal “não há uma via única” para as políticas de governação. “É bom haver uma alternativa. O país precisa disso e espero que sirva de base para uma discussão séria e genuína”, disse na altura, salientando que há no texto “uma preocupação pelo crescimento”. O mesmo disse Luís Marques Mendes, que classificou a apresentação do programa político socialista como “o melhor número político que António Costa fez desde que é líder do PS”. No seu espaço de comentário na SIC, o social-democrata elogiou o “profissionalismo” e afirmou que se trata de “uma iniciativa que merece cumprimento”.