O economista e ex-autarca Rui Rio disse hoje, em Coimbra, ter “seriíssimas dúvidas” que a legislação contra o enriquecimento ilícito ou injustificado, que está a ser debatida na Assembleia da República, sirva para combater a corrupção.
“Tenho seriíssimas dúvidas se aquilo que neste momento está a ser debatido” no parlamento, “a que chamam enriquecimento ilícito, é para verdadeiramente combater a corrupção ou se é para arranjar mais uma montanha de problemas e de injustiças e de perseguições políticas”, afirmou o antigo presidente da Câmara do Porto, que falava, em Coimbra, num debate sobre “A juventude na política – o passado e o futuro”.
Com aquela iniciativa parlamentar, “não sei se estamos a ir atrás do politicamente correto e do mediaticamente correto, desprezando aquilo que deve ser a vitalidade do regime, a vitalidade da democracia e a justiça realmente”, disse Rui Rio.
Sublinhando que é “contra a corrupção”, o ex-deputado e antigo dirigente do PSD, sustentou que, “atrás de uma bandeira muito fácil”, pode estar-se “a gerar, muitas vezes, o contrário [daquilo que é dito ser pretendido] ou a criar ainda mais problemas”.
A avaliar pelo que foi escrito nos jornais, “se for verdade”, aquela legislação “é de deitar as mãos à cabeça”, alertou.
“Temos de olhar as questões e sermos intelectualmente sérios e intelectualmente convictos” (e nem é preciso “estarmos todos de acordo”), apelou o antigo autarca, defendendo que, deste modo, será dado “um passo gigantesco” no sentido de se “melhorarem as coisas”.
Este tipo de matérias e o modo como são abordados desencadeia, frequentemente, uma espiral de demagogia, que “vai degradando o regime”, advertiu Rui Rio, considerando que também seria demagogia pensar que o regime e a democracia poderiam ser revitalizados sem os partidos políticos, embora estes justifiquem “muitas críticas”.
“Não ganhamos nada em estar apenas a destruir os partidos” e “ganharíamos”, se, com “sentido de Estado, reformássemos os partidos e tudo aquilo que anda à [sua] volta”, salientou o anterior presidente da Câmara do Porto, referindo que também pode ser “muito popular” defender o fim das juventudes partidárias, mas elas “são absolutamente vitais” para a revitalização dos partidos.
“Matar as juventudes partidárias porque evoluíram de forma errada é um erro ainda maior”, disse, sustentando que a participação dos jovens na vida democrática também passa pelas ‘jotas’ partidárias, mas depois de se reformularem e alterarem profundamente as suas lógicas.
No debate, promovido pela Associação Cívica Democracia e Cidadania e moderado pelo jornalista Jorge Castilho, participaram também, além de Rui Rio, presente na qualidade de presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Economia do Porto em 1981, os antigos presidentes da Associação Académica de Coimbra (AAC) Alberto Martins (1969) e Maló de Abreu (1979).