Um grupo de artistas, curadores e galeristas lançou uma petição online com um manifesto de repúdio pelo “processo conducente à demissão de David Santos”, agora ex-diretor do Museu do Chiado, em Lisboa.

Entre os signatários do manifesto estão 49 subscritores originais, desde artistas como Jorge Molder, Julião Sarmento e João Cutileiro, curadores como Delfim Sardo e José Silvério, e galeristas como Alda Galsterer, Ana Cristina Guerra, e Pedro Oliveira.

O manifesto, dirigido à presidente da Assembleia da Republica, Assunção Esteves, e ao primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, repudia a forma como foi conduzido o processo que levou à demissão de David Santos na terça-feira, em rutura com a tutela da cultura ao fim de um ano e meio no museu.

David Santos estava a preparar a exposição de inauguração da ampliação do Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado (MNAC-MC) com o título “Narrativa de uma Coleção – Arte Portuguesa na Coleção da Secretaria de Estado da Cultura [SEC] (1960-1990)” prevista para 15 de julho.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Em causa está a chamada Coleção SEC criada ao longo de décadas pelo Estado, com cerca de mil obras, na sua maioria em depósito no museu da Fundação de Serralves, no Porto, num protocolo cuja vigência vai até 2027, e cuja tutela estava na Direção-Geral das Artes.

Em fevereiro de 2014, um despacho assinado pelo secretário de Estado da Cultura determinava a “afetação” da Coleção SEC à Direção-Geral do Património Cultural, e a “incorporação” da Coleção SEC no Museu do Chiado, “salvaguardando acordos entretanto celebrados”, mas o despacho viria a ser revogado na última semana, provocando a demissão do diretor.

“A nova titularidade foi estabelecida a 05 de fevereiro de 2014 por despacho nº 1849-A/2014 publicado em Diário da República, agora aparentemente revogado. Não é, no entanto, a questão da titularidade que nos move, mas a má condução de todo o processo”, justificam ainda artistas, curadores e galeristas na petição.

Também assinam Eduardo Batarda, Pedro Calapez, Rui Chafes, João Louro, Nikias Skapinakis, Jorge Martins, Manuel Costa Cabral, Jorge Queiroz, José Loureiro, José Pedro Croft, sustentando que David Santos, “demonstrou visão em relação à programação e estratégia” para o museu.

Acrescentam que o ex-diretor “iniciou um diálogo que se anunciava profícuo com a comunidade artística portuguesa, abriu o museu a novos públicos e teve um papel determinante na ampliação do espaço da instituição”.

Apontam ainda no documento que a estratégia do diretor estava “em consonância com as determinações do Secretário de Estado da Cultura [Jorge Barreto Xavier] que, com eco público, as anunciou”.

“Que o conjunto deste desnorte tenha implicado a demissão de um diretor cujo trabalho reunia consenso e começava a dar resultados, é incompreensível, revelador da falta de respeito pela opinião técnica esclarecida e, sobretudo, da ausência de visão do Palácio da Ajuda”, criticam.

Contactado pela agência Lusa esta semana sobre a questão do Museu do Chiado, o gabinete do secretário de Estado da Cultura respondeu que “está empenhado na inauguração da ampliação para mais do dobro da área Museu do Chiado, a qual ocorrerá, como previsto, no dia 15 de julho”.

Colocada online, no sábado à noite, – em http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=PT77819 – a petição contava já às 9h25 deste domingo com 140 signatários.