O telescópio espacial Kepler encontrou um planeta pouco maior que a Terra a orbitar a zona habitável de uma estrela pouco maior do que o Sol, revelou esta quinta-feira a agência espacial norte-americana (NASA).

Vinte anos depois de se ter descoberto que outras estrelas podiam ter planetas a orbitá-las, o Kepler encontrou o planeta e a estrela que mais se assemelham à Terra e ao Sol, refere o comunicado de imprensa da NASA. O Kepler-452b é 60% maior do que a Terra em diâmetro. Embora a massa e composição ainda não estejam determinados, há fortes possibilidades de ser um planeta rochoso. A órbita em volta da estrela, com 385 dias, é pouco mais longa que a descrita pela Terra em torno do Sol. A distância deste exoplaneta à estrela também é apenas 5% maior que a distância Terra-Sol (cerca de 150 milhões de quilómetros).

“O recém-descoberto Kepler-452b é o mais pequeno planeta encontrado até à data a orbitar a zona habitável de uma estrela”, refere o comunicado de imprensa da NASA. Um planeta que viva na zona habitável de uma estrela tem o potencial para manter água à superfície no estado líquido, ou seja, a temperatura nessa faixa à volta da estrela não é demasiado alta nem demasiado baixa para que isso aconteça.

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“Mas manter água líquida à superfície não é tarefa fácil”, refere ao Observador Amaury Triaud, especialista em exoplanetas no Centro de Ciências Planetárias da Universidade de Toronto, que não esteve envolvido neste anúncio da NASA. “Podemos calcular que temperatura e pressão atmosférica são necessárias [para manter água no estado líquido] e depois calcular a distância à estrela”, explica. “Isto é altamente teórico, visto que Vénus e Marte podem ser incluídos na zona habitável [do Sol], mas não são habitáveis.”

Mas porquê “água no estado líquido”? Porque, pelo menos na Terra, a água no estado líquido é o requisito essencial para que exista vida. E para procurar vida noutros planetas, os cientistas preferem começar por procurar pelos padrões que já conhecem. “A razão para procurar formas de vida semelhantes é sabermos com o que se parece. É mais fácil, e menos controverso procurar o que conseguimos reconhecer”, explica Amaury Triaud. “Uma vez que tenhamos conseguido fazer isto, podemos tentar procurar outros tipos de biologia.”

E é por procurarem vida que obedeça às mesmas condições que existem na Terra que os cientistas estão fascinados com este sistema estelar com seis mil milhões de anos – 1,5 mil milhões de anos mais velho do que o sistema solar -, logo antigo o suficiente para a vida ter surgido e evoluído, conforme defendem os cientistas envolvidos no estudos. A estrela Kepler-452 (de onde veio o nome do planeta) tem um diâmetro 10% maior do que o Sol e é 20% mais brilhante, mas tem a mesma temperatura. E este sistema está localizado na constelação Cisne, na Via Láctea, a 1.400 anos-luz do nosso planeta (e cada ano-luz são dez biliões de quilómetros).

Em comunicado, a agência espacial norte-americana referiu que exoplanetas de “dimensão semelhante à da Terra” pertenciam exclusivamente “ao domínio da ficção científica há 21 anos”. Agora, em paralelo com o anúncio da descoberta do Kepler-452b, a NASA anunciou a descoberta de mais onze exoplanetas, todos eles na zona habitável das respetivas estrelas. Estes planetas têm uma dimensão semelhante à da Terra, ou até ao dobro do diâmetro, e as estrelas têm uma dimensão semelhante à do Sol.

“Mesmo sem saber se este planeta [Kepler-452b] é habitável ou não, é uma grande satisfação saber que outros mundos semelhantes ao nosso existem. Como estes planetas são difíceis de detetar e ainda mais difíceis de confirmar, esta descoberta indica que a Terra terá, muito provavelmente, milhões de primos na nossa galáxia”, comenta Amaury Triaud.

A missão do Kepler

O primeiro planeta exterior ao sistema solar foi descoberto em 1992 e é atualmente conhecido por 51 Pegasi b. Localiza-se na constelação de Pegasus, a aproximadamente 50 anos-luz da Terra. Na altura, Didier Queloz foi um dos cientistas envolvidos na descoberta.

Outro dos nomes sonantes desta teleconferência é Jeff Coughlin, em representação do instituto SETI (Search for Extraterrestrial Intelligence), uma organização internacional que se dedica à procura de vida extraterrestre inteligente e cuja principal ferramenta é o rádio-telescópio de Arecibo, situado em Porto Rico.

O telescópio espacial Kepler foi lançado em 2009, como parte integrante de uma missão da NASA especialmente focada na procura de planetas parecidos com a Terra e a orbitar estrelas semelhantes ao Sol. Desde o início da missão, o Kepler já registou a existência de pelo menos 1.000 planetas e outros 3.000 “candidatos” a planeta dentro da zona habitável.

A teleconferência teve início às 17 horas desta quinta-feira (hora de Lisboa) e contou com a participação de:

  • John Grunsfeld, co-administrador da NASA Science Mission em Washington;
  • Jon Jenkings, analista de dados da missão Kepler;
  • Jeff Coughlin, investigador do instituto SETI na Califórnia;
  • Didier Queloz, professor de astrofísica da Universidade de Cambridge do Reino Unido.

Atualizado às 19h30