Portugal caminha para as eleições de outubro “sem quaisquer sinais de ascensão dos partidos radicais de esquerda como o Syriza e o Podemos” e, apesar dos vários escândalos que abalaram o país nos últimos anos e do ajustamento exigido pelo programa da troika, “o establishment político continua inabalável”. Na opinião do Politico, que já se afirmou como uma das principais publicações em Bruxelas, Portugal é, portanto, o “anti-Grécia”.
“Apesar de anos marcados por dificuldades económicas e queixumes ruidosos contra a austeridade, Portugal caminha para as eleições com um dos sistemas políticos menos radicalizados de toda a zona euro”, escreve Paul Ames, jornalista do Politico em reportagem em Lisboa.
O jornalista relata que não faltam cartazes espalhados pela cidade a exigir a saída do euro e a lutar contra as privatizações. Mas, em termos eleitorais, isso não terá expressão. “O velho Partido Comunista terá, segundo as sondagens, cerca de 10% dos votos, o mesmo da última eleição”, diz o Politico. E “os aspirantes a Syriza, o Bloco de Esquerda, estão a ter dificuldades em manter os mesmos 5% que conseguiram há quatro anos”, enquanto “os partidos de extrema-direita nem sequer aparecem no radar da política portuguesa”.
“Nem a vaga de escândalos de corrupção – que mandaram [José] Sócrates para a cadeia acusado de fraude, que levaram ao colapso do maior banco privado e que colocaram na prisão altos responsáveis dos serviços de imigrações – conseguiu abalar o establishment político.
E porque sobreviveu a política moderada? “Em parte, porque as coisas estão, lentamente, a melhorar”. “O turismo está a disparar, a exportação de vinho e calçado está a subir e o mundo das startups portuguesas está a dar que falar internacionalmente”, escreve o Politico.
O jornalista descreve, a partir das conversas que teve em Lisboa, o risco de uma abstenção elevada e a dificuldade que haverá em formar um governo maioritário. Mas, apesar de António “Costa ter levado o Partido Socialista para a esquerda, mesmo que ele leve os socialistas à vitória é provável que Portugal se alinhe com França e Itália nas cimeiras europeias, não devendo provocar uma confrontação ao estilo grego”.