Um é bicampeão, outro agarra-se à Taça de Portugal e ainda leva a Supertaça para casa, e o que sobra nada conquista. O acaso teve de se esforçar muito, já que esta combinação não é nada usual. Em 30 anos, aliás, desde que pegaram no nome de Cândido de Oliveira para os vencedores das duas provas mais importantes se defrontarem, nunca tinha acontecido. Clap, clap, clap à originalidade, portanto. E o que será que aconteceu nas épocas que vieram a seguir ao Benfica ganhar um segundo campeonato seguido, o Sporting ser o clube das taças e o FC Porto apenas acrescentar pó ao museu de troféus? Muitas coisas, mas os leões são os que menos quererão olhar para o que a história lhes tem para contar.
Por quatro vezes se viu o clube de Alvalade a acabar uma época de peito feito (com a Taça) e a aguentá-lo até ao arranque da temporada seguinte (ganhando a Supertaça). Mas isso foi um bom augúrio apenas num ano. Aconteceu em 2007/2008, quando, ainda a mando de Paulo Bento, o Sporting conseguiu regressar ao Jamor para revalidar o caneco que tinha conquistado na época anterior. Já foi há uns anos valentes, mas que não têm valentia suficiente para que não sobrem nomes desse tempo — Rui Patrício e Adrien Silva eram rebentos na equipa de Paulo Bento e hoje são os capitães graúdos da de Jorge Jesus. São os que restam da única vez em que ganhar a Taça de Portugal e a Supertaça de uma temporada foi sinal que vinham mais títulos na época seguinte.
Nos últimos 35 anos mais ninguém pode dizer o mesmo. Nas outras três vezes em que os leões partiram para uma nova temporada com estes dois canecos no bolso, acabaram por nada conquistar. Em 1982/1983 a equipa mudou de treinador para a nova época. António Oliveira substituiu Malcom Allison e já foi ele a a conquistar a Supertaça, embora nada se tenha seguido. O Sporting fecharia a temporada com o terceiro lugar no campeonato, uma derrota nos quartos-de-final da Taça de Portugal e outra na mesma fase da Taça dos Clubes Campeões Europeus. Em 1995/1996 foi parecido. Aí o clube não trocou de técnico, começou a nova época com Carlos Queirós, mas nada correria bem: trocou duas vezes de treinador (Fernando Mendes e Octávio Machado seguiram-se) e perdeu a final da Taça para o Benfica. O campeonato deu-lhe um terceiro lugar e a Taça das Taças uma queda na segunda ronda.
E depois veio 2008/2009. Os leões de Paulo Bento davam nas vistas, a consistência era maior que o risco e o treinador conseguiu imitar o que fizera na época anterior: agarrou a equipa à Taça e Supertaça e deu um empurrão nas expetativas dos adeptos. Elas maiores ficaram quando o Sporting se estreou nos oitavos-de-final da Liga dos Campeões, mas encolheram assim que o Bayern de Munique eliminou a equipa da prova com um resultado de 12-1 no conjunto das duas mãos. A esta queda brusca seguiu-se o segundo posto na liga, um adeus na quarta eliminatória da Taça de Portugal e a derrota na final da Taça da Liga. Moral da história: da última vez que o Sporting partiu para uma época com a Taça e Supertaça no bolso, conseguiu a melhor prestação na Champions e o pior resultado europeu de sempre.
A Supertaça Cândido de Oliveira apenas se tornou um troféu oficial em 1979/1980. Já lá vão 35 anos e, até Jorge Jesus ser bicampeão pelos encarnados, o Benfica só por uma vez conseguira conquistar dois campeonatos seguidos — e teve a ajuda de um sueco. A aventura começou em 1982, quando Sven-Göran Eriksson aterrou em Lisboa. O português sai-lhe emperrado da boca e por isso fez de Toni o adjunto que o ajudava em tudo. Os dois guiaram o clube à conquista de duas ligas seguidas entre 1982 e 1984 e, feitas as conquistas, Eriksson decidiu ir embora. A época de 1984/1985 arrancou com Pál Csernai, o último de seis húngaros que treinaram o Benfica. A parceria não deu o tri aos encarnados, mas acabou na conquista da Taça de Portugal.
Em 1984 o clube fez o mesmo que em 2015 — trocou um técnico bicampeão por outro que nunca vencera um campeonato em Portugal. O húngaro, contudo, estivera anos e anos (entre 1978 e 1983) a tomar conta do Bayern de Munique, gigantão germânico viciado em títulos, habituado a ter equipas que andavam sempre atrás deles (conquistou dois campeonatos e uma Taça da Alemanha). Nas quatro temporadas que passou em Guimarães, o português Rui Vitória conseguiu ir duas vezes ao Jamor e sair de lá uma vez com a Taça de Portugal. Mais diferenças? Eram outros tempos, por isso nada se concluiu ao lembrar que a versão de 1984 do Benfica bicampeão apenas contratou dois homens (Silvino Louro e Adelino Nunes), enquanto a de 2015 já vai em 10 contratações feitas.
Comprar muito foi o que o FC Porto fez para remediar algo que lhe aconteceu pela terceira vez nas últimas 35 temporadas. Os dragões acabaram uma temporada sem nada conquistaram e não fizeram o que tinham feito nas numa das anteriores ocasiões — mantiveram o treinador. Pinto da Costa deu a Julen Lopetegui uma segunda oportunidade que não concedeu a Hermann Stessl, o austríaco que passou a temporada de 1982/1983 sem canecos conquistados. Em 1983/1984, o treinador que nada deu ao presidente portista saiu para José Maria Pedroto entrar. O português tratou de saciar a sede que Jorge Nuno nunca sentira e acabou essa temporada a conquistar a Taça de Portugal. Meses depois, acrescentou-lhe a Supertaça Cândido de Oliveira.
Não passaram muitos anos até o FC Porto voltar a ter uma época deserta de troféus. A seca de 1988/1989 foi repartida entre Quinito, treinador que começou a temporada, e Artur Jorge, técnico que a terminou e regressou ao clube (já lá estivera entre 1984 e 1987, com uma Taça dos Clubes Campeões Europeus conquistada pelo meio). O treinador do bigode por lá ficou para tentar a sorte em 1989/1990 e a aposta correu bem: guiou os dragões à conquista do campeonato. O que a história nos ensina, portanto, é que Pinto da Costa tentou as duas abordagens e ambas lhe devolveram um sorriso à cara. É isso que Lopetegui vai tentar fazer.