“We’ve screwed up“. Depois de a Volkswagen ter sido acusada de manipular os testes de emissões de poluentes e de o escândalo ter provocado uma enorme queda das ações na bolsa de Frankfurt, o chefe da marca nos Estados Unidos, Michael Horn, já veio pedir desculpas, dirigindo-se diretamente aos consumidores norte-americanos. A empresa anunciou, entretanto, que irá imediatamente constituir uma provisão de 6,5 mil milhões de euros para resolver o problema dos carros a diesel nos EUA. Até 11 milhões de veículos podem ter sido equipados com o mecanismo que escondia a quantidade real de emissões poluentes.
O escândalo teve origem, no fim de semana, nos EUA, mas parece estar a alastrar-se ao resto do mundo. Afinal, segundo comunicado do Grupo Volkswagen, até 11 milhões de veículos das marcas do grupo poderão ter recebido o defeat device que permitia aos carros mascarar a quantidade de emissões poluentes quando eram submetidos aos testes em laboratório. O número total poderá, assim, ser mais de 20 vezes o número de veículos inicialmente avançado: menos de 500 mil.
A imprensa alemã está, entretanto, a noticiar que Martin Winterkorn será substituído por Matthias Mueller, da Porsche, na liderança executiva da Volkswagen. O Tagesspiegel adianta que haverá duas reuniões esta semana, quarta e sexta-feira, dos comités de supervisão da Volkswagen, que deverão formalizar a dispensa de Winterkorn e a contratação do novo chief executive officer (CEO).
A chanceler alemã, Angela Merkel, já comentou a polémica, exigindo que a situação seja clarificada rapidamente. “Tendo em conta a complexidade da situação, tem de existir transparência total e um esforço para clarificar todo este problema”, afirmou esta terça-feira a chanceler alemã. “Espero que os factos sejam colocados em cima da mesa rapidamente”, rematou.
No mesmo comunicado, a Volkswagen informou que planeia colocar de parte 6,5 mil milhões de euros para cobrir os custos associados às irregularidades descobertas. As autoridades da Alemanha, França, Coreia do Sul e Itália estão entre os países que já disseram que estão a seguir o caso de perto. O ministro das Finanças francês pediu esta terça-feira que seja realizada uma investigação “em toda a Europa”. Michel Sapin disse à rádio francesa que, de modo a “tranquilizar” o público, é “necessário” levar a cabo verificações nos carros fabricados por outras empresas europeias, mostrando a sua confiança de que as fabricantes francesas “não terão tido a mesma conduta que a Volkswagen”.
Volkswagen perde mais de um terço do valor em bolsa
As notícias mais recentes estão a levar as ações da Volkswagen a terem mais uma sessão negra na bolsa. Nestes dois dias, a empresa já perdeu mais de um terço da sua capitalização bolsista. Na linha de baixo, as barras mostram o aumento da liquidez das ações da Volkswagen, o que é um indicador do pânico que paira, estes dias, sobre a empresa.
De Bruxelas chegou esta terça-feira a informação de que a Comissão Europeia entende que é “prematuro” confirmar a abertura de uma investigação europeia sobre esta matéria, como pediu Michel Sapin. “Estamos a acompanhar o tema com seriedade”, disse uma porta-voz da Comissão Europeia à Agence France Presse (AFP). Bruxelas está em contacto com as autoridades dos EUA e o grupo Volkswagen.
“Estão a decorrer averiguações dentro da Volkswagen, nos EUA e na Alemanha. Portanto, é prematuro comentar se vão ser estabelecidas medidas específicas também na Europa e sobre se os veículos vendidos na Europa também terão sido afetados”, acrescentou.
“Fizemos uma asneira”
“Fizemos uma asneira, por completo“, admitiu Michael Horn. “Temos sido desonestos com a Agência de proteção ambiental (EPA), temos sido desonestos com o conselho da agência que lida com o ar da Califórnia (ARB) e temos sido desonestos consigo”, acrescentou, dirigindo-se ao consumidor em declarações citadas pelas agências noticiosas internacionais.
A EPA e a ARB confirmaram na sexta-feira que a Volkswagen tinha instalado um dispositivo em mais de meio milhão de carros a diesel, que permitia enganar os testes de controlo de emissões de poluentes. A fraude foi descoberta por acaso por um grupo de cientistas independentes, ligados a uma associação pelo transporte limpo.
Michael Horn pretende conquistar de novo a confiança dos consumidores, explicando que aquela conduta não faz parte dos valores da marca. O representante fez estas declarações na segunda-feira, em Brooklyn, Nova Iorque, durante a apresentação de um novo modelo Passat, em que o músico Lenny Kravitz foi artista convidado.
Desde que o escândalo foi divulgado, nenhum representante executivo da Volkswagen nos Estados Unidos aceitou responder a perguntas, tendo inclusive cancelado entrevistas previamente acordadas. “Estamos comprometidos a fazer o que deve ser feito e começar a restaurar a confiança”, declarou Horn. “Pagaremos o que é devido”, acrescentou.
A Volkswagen arrisca-se a ter de pagar multas que podem exceder os 15 mil milhões de euros. O Departamento de justiça dos Estados Unidos está, ainda, a conduzir uma investigação criminal, que pode instaurar vários processos aos seus executivos.