Numa lista dos grandes protagonistas das Legislativas 2015, as primeiras linhas têm só nomes ligados à política. Logo a seguir chegamos a Ricardo Araújo Pereira. Em conjunto com Miguel Góis e José Diogo Quintela, assina o programa “Isso é tudo muito bonito, mas” (TVI) dedicado à campanha eleitoral, às ideias e às arruadas.
Passos Coelho rejeitou o convite mas esse foi o único “não” num grande oceano de “sins”, tanto de candidatos às Legislativas, políticos experientes e até de uma senhora que de repente apareceu na campanha eleitoral e se tornou numa (quase) estrela de televisão. O programa arrancou a 14 de setembro e este sábado é dia de refletir. Em entrevista ao Observador, Ricardo conta pormenores sobre o programa e ajuda-nos na reflexão.
Ponto prévio: “Os convidados vão ao nosso programa porque querem falar para o maior número de pessoas possível, e ali têm a oportunidade de falar para o nosso público – que, como sabe, é inteligente, sensato e, sobretudo, muito bonito”, explica Ricardo.
Qual foi o convidado mais difícil de preparar?
Os mais difíceis de preparar são sempre os que estão mais longe do poder. É mais giro inventar provocações para os que governam ou têm verdadeiras hipóteses de vir a governar.
Acha que alguém lhe mentiu durante a entrevista?
Em princípio, aconteceu várias vezes. Estamos em campanha eleitoral. É um período durante o qual dizer a verdade não costuma ser uma opção muito inteligente.
Se tivesse de convencer as suas filhas a irem votar, o que lhes diria?
Há dias, as minhas filhas (que têm 10 e 12 anos) perguntaram-me qual era a diferença entre a esquerda e a direita. Como Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada nunca escreveram sobre o assunto, dei-lhes a definição do politólogo italiano Norberto Bobbio: quem é de esquerda acha que as pessoas são mais iguais do que desiguais, e por isso a sociedade deve tender para reproduzir essa igualdade; quem é de direita acha que são mais desiguais do que iguais, e por isso acha normal, e até justo, que na sociedade se verifique essa desigualdade. Não há, nisto, nenhum julgamento moral, mas apenas uma diferença de perspectiva sobre o ser humano. A minha filha mais velha disse: “Eu estou com a esquerda, acho mais justo”. A mais nova não disse nada. Suspeito que ela seja um bocadinho reaccionária. Por isso, se tivesse de convencê-las a ir votar, diria à mais velha que a participação cívica é importante. E diria à mais nova que não se preocupasse e ficasse em casa.
https://www.youtube.com/watch?v=qhSDb7e01F8
Ao lado de Ricardo sentaram-se convidados como Paulo Portas, Jerónimo de Sousa, Catarina Martins, Assunção Cristas, Mariana Mortágua, João Galamba, Marcelo Rebelo de Sousa e Francisco Louçã, entre outros. Só ficou a faltar Passos Coelho que não quis repetir a experiência de 2009. Não foi Passos Coelho, mas foi uma senhora que protagonizou uma conversa acalorada com o primeiro-ministro: a senhora de cor-de-rosa.
https://www.youtube.com/watch?v=_vnHlxHi7NQ
A senhora cor-de-rosa tem alguma coisa a dizer sobre a vida política portuguesa? Porque é que a levou ao programa?
Todos os cidadãos têm coisas para dizer sobre a vida política portuguesa. Levámos a senhora de cor-de-rosa ao programa porque, entre todas as pessoas que tinham debatido com o primeiro-ministro, era a única que não tinha tido direito a uma entrevista pós-debate. No dia em que a senhora de cor-de-rosa foi ao programa havia vários outros debates e entrevistas na TVI e ela conseguiu encontrar-se, nos bastidores da estação, com António Costa, Paulo Portas, etc. Foi divertido porque o povo é um conceito abstracto mas, de vez em quando, materializa-se sob a forma de senhoras de cor-de-rosa. E é engraçado ver o como os candidatos reagem quando se cruzam com essa materialização.
O programa contribuiu para alterar o seu sentido de voto? E em que medida terá contribuído para esclarecer as pessoas?
Nem eu alterei o meu sentido de voto nem as pessoas ficaram mais esclarecidas. Ficaria, aliás, muito surpreendido se as pessoas ficassem mais esclarecidas por causa de um programa de entretenimento. Se os programas eleitorais, os debates e os noticiários não esclareceram as pessoas, não seríamos nós, que nem temos esse objectivo, a consegui-lo.
É mais importante que o seu partido ganhe as eleições ou que o Benfica seja campeão?
Há muito poucas coisas que sejam mais importantes do que o Benfica ser campeão.