Sabia que Ernest Miller Hemingway era um “pack rat“, alguém compulsivo por guardar tudo, desde passaportes caducados e bilhetes de touradas até papéis amarrotados com ideias e rascunhos? O New York Times não tem dúvidas: o autor de O Adeus às Armas deixou um dos maiores espólios pessoais quando comparado com qualquer outro escritor célebre do século XX. E se hoje é possível ver a sua arca pessoal e transmissível pela primeira vez, isso deve-se ao presidente John F. Kennedy, que após o suicídio de Hemingway, em 1961, ajudou a viúva, Mary, a entrar em Cuba para resgatar boa parte dos pertences do marido.
Esboços dos primeiros contos, apontamentos, manuscritos e exemplares únicos de romances de antologia, como Por Quem os Sinos Dobram, correspondência com Gertrude Stein ou F. Scott Fitzgerald – colegas de ofício em Paris nos anos 20 –, objetos, bilhetes, documentos e fotografias são matéria-prima exclusiva de “Ernest Hemingway: Between Two Wars”, apresentada como a grande exposição retrospetiva do Nobel da Literatura norte-americano.
As duas grandes Guerras Mundiais (1914-1918 e 1939-1945) servem como âncoras para um desfiar de apontamentos biográficos que revelam as várias facetas de Hemingway (1899-1961): correspondente de guerra; condutor de ambulâncias da Cruz Vermelha italiana – pode vê-lo em 1918, de muletas, fardado, a recuperar de um acidente ocorrido quando transportava cigarros e chocolates para os soldados –; pescador, a bordo do seu barco «Pilar», na companhia de Carlos Gutiérrez, o cubano que serviu de modelo para O Velho e o Mar; caçador, boémio, fã de touradas e das festas de San Fermin, em Pamplona.
Qualquer que seja a geografia – França, Paris, Cuba ou Estados Unidos –, Ernest Hemingway mantinha o seu hábito de “pack rat“, o que nos permite hoje concluir que era inseguro quanto aos títulos das suas obras. Só para O Adeus às Armas (A Farewell to Arms), por exemplo, fez uma lista de 45 hipóteses, entre elas Sorrow for Pleasure, The Carnal Education ou Every Night and All. Quando começou a Segunda Guerra Mundial, alcançara o estatuto de “Papa”, como era tratado por familiares, amigos e outros escritores (J.D. Salinger, por exemplo).
Não viajámos até Nova Iorque para ver Ernest Hemingway: Between Two Wars, exposição aberta ao público até 31 de janeiro de 2016 no Morgan & Library Museum, mas preparámos uma fotogaleria com 15 das suas preciosidades biográficas.