Sabe o que é o Cais do Sodré Party District? É aquele sítio bem no centro de Lisboa onde há uns anos pintaram uma rua de cor-de-rosa, abriram uns bares e… bum! Fez-se a nova noite da capital. A zona voltou a entrar no mapa dos lisboetas e estrangeiros, mas as constantes multidões trouxeram também muitos problemas, que quase puseram os moradores em guerra aberta com os bares, a Câmara Municipal e a Junta de Freguesia. Para que diversão noturna e vida diurna voltem a conviver pacificamente naquele bairro, foi esta quinta-feira lançado o projeto Safe In Cais, uma iniciativa que visa melhorar a segurança e salubridade da área – e que, pelo caminho, quer pôr todos os protagonistas a falar uns com os outros.

No próximo ano, o Safe In Cais vai contar com o apoio financeiro da Câmara Municipal de Lisboa (através do programa BIP/ZIP) para dotar os bares e discotecas do Cais do Sodré de uma certificação Noite Segura, uma ideia já existente em várias cidades europeias que chega agora à capital portuguesa. Trata-se de “uma experiência-piloto que pode ser levada para outros locais”, explicou na apresentação Cristiana Pires, da Agência Piaget para o Desenvolvimento (APDES), a entidade responsável pelo Safe In. Outras zonas de Lisboa, Viseu e Porto podem ser os próximos destinos do projeto.

Para já, e antes de pensar em voos maiores, a equipa quer focar-se naquele que se tornou um dos locais mais procurados em Lisboa para beber um copo, dançar até ao nascer do sol ou simplesmente conversar no meio da rua. Por isso, juntaram-se ao Safe In a Associação Cais do Sodré (que representa os comerciantes), um grupo de investigação da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Nova sobre a noite de Lisboa, a Junta de Freguesia da Misericórdia, os moradores, os bartenders e uma rede europeia que promove saúde e segurança em espaços de diversão, a Party+.

“Uma das expectativas que eu tenho é que este projeto venha introduzir normas cívicas”, afirmou Carla Madeira, presidente da junta da Misericórdia, que abrange várias zonas de diversão noturna da capital: Cais do Sodré, Bica, Bairro Alto, Santa Catarina e Príncipe Real. Em todo este território, “o crescimento [da oferta de bares, discotecas e lojas de conveniência] foi exagerado”, trouxe inúmeros problemas de ruído de lixo e conduziu à situação atual, em que a junta gasta dois milhões de euros por ano (de um orçamento de quatro milhões) só em limpeza e manutenção das ruas.

Apesar dessa despesa, as queixas dos moradores avolumam-se. Presente na sessão, Isabel Sá da Bandeira, da associação Aqui Mora Gente, lamentou que os habitantes ainda não tivessem sido ouvidos pelo Safe In, mas mostrou-se imediatamente disponível para colaborar. De Cristiana Pires recebeu um caloroso “sim” e de Gonçalo Riscado, líder da Associação Cais do Sodré, a garantia de que os comerciantes não querem guerras com quem ali mora. “Durante muito tempo”, disse, “não se pensou” na noite, “não se antecipou o que poderia acontecer e depois aconteceu tudo muito rápido”. Hoje, “há muitas pessoas que não têm” condições de habitabilidade no Cais do Sodré, tal é o barulho e o lixo ali existentes, admitiu Gonçalo Riscado, dono do clube Musicbox e do restaurante O Povo.

Ao longo de 2016, o Safe In vai promover formações para moradores, comerciantes e consumidores sobre boas práticas de saúde e segurança na noite, cuidados com álcool, drogas e sexualidade e ainda encontros entre todos os agentes que intervêm na cidade.

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