Ludita. O termo é utilizado por historiadores para descrever os membros de organizações trabalhadoras liderados por Ned Ludd na Inglaterra no século 19, que se opunham a revolução industrial e destruíam máquinas que poderiam alegadamente substituí-los. O termo é usado cada vez que se quer nomear um inimigo da evolução tecnológica.
A organização americana Information Technology and Innovation Foundation (ITIF) adaptou este conceito e criou o Luddite Awards, um prémio anual atribuído a pessoas, entidades ou conceitos que “impedem o desenvolvimento tecnológico do homem”, segundo descreve na sua página. Encabeça a lista este ano Elon Musk, o empreeendedor que dá alma à SpaceX e à Tesla, considerado “alarmista” pela ITIF por “estar a divulgar uma ameaça de que os seres humanos estariam a perder o controlo sobre a Inteligência Artificial (IA)”.
Segundo o relatório da organização divulgado esta segunda-feira, apesar de lidarmos diariamente com aplicações e dispositivos dotados de tecnologias de autoaprendizagem, “dizer que estes dispositivos vão dominar o mundo significa não compreender o que é a IA e onde ela está hoje”.
E completa:
Se estes sistemas vão algum dia desenvolver autonomia plena é uma questão discutível, mas o que não deve ser discutido é que este possível futuro está muito, muito, longe (mais como um século do que uma década), e é, portanto, prematuro estar a preocupar-se se a Skynet [tecnologia antagonista da série de filmes ‘Exterminador’] vai tornar-se auto consciente. Levantar cenários apocalípticos de ficção científica dificulta que pessoas, políticos e cientistas apoiem mais financiamento para a investigação em Inteligência Artificial”, conclui a organização.
Outras personalidades consideradas como “alarmistas” pelos alegados riscos da IA são Bill Gates e Stephen Hawking.
A lista completa de nomeados ao Luddite Awards 2015 inclui:
- “Alarmistas que preveem um apocalipse causado pela Inteligência Artificial”
- “Defensores, como Hawking e Noam Chomsky, da proibição de ‘robôs assassinos'”
- “Vermont e outros estados [americanos] que limitam o uso de leitores automáticos de matrícula de carros”
- “Europa, China e outros países que optam por condutores de táxi sobre carros que partilham passageiros”
- “A indústria do papel americana por opor-se ao e-labeling”
- “O governador [do estado] californiano [Jerry Brown] por vetar o uso de etiquetas RFID [Radio Frequency Identification] nos títulos de condução”
- “[O estado americano de] Wyoming por proibir a ciência cidadã”
- “A Comissão Americana de Comunicações por limitar a inovação em tecnologias em banda larga”
- “O Centro de Segurança Alimentar [americano] pela luta contra alimentos modificados geneticamente”
- “[O estado americano de] Ohio e outros estados por banir câmaras de segurança no trânsito”
A votação para a escolha do ganhador é aberta ao público. No entanto, não foi definida a data para o fim da escolha.
O jornal The Guardian recuperou um tweet de 2014 no qual Musk cita o risco da Inteligência Artificial, comparando-a com armas nucleares.
Worth reading Superintelligence by Bostrom. We need to be super careful with AI. Potentially more dangerous than nukes.
— Elon Musk (@elonmusk) August 3, 2014
A inclusão de Elon Musk na lista de “inimigos da tecnologia” coincide esta semana com a última das suas conquistas. A sua empresa de transporte espacial, SpaceX, conseguiu recuperar um foguetão que lançou em órbita, aterrando-o suavemente numa plataforma. O feito pode tornar a exploração espacial mais barata no futuro. O empreendedor também ajudou a criar o serviço PayPal e é responsável pela marca de automóveis elétricos Tesla Motors.