Biblioteca reúne 65 textos que Pedro Mexia publicou na imprensa (Público e Expresso) entre 2008 e 2015. A ideia do título é acasalar com o livro anterior, Cinemateca, já que ambos são “um catálogo de obsessões, cumplicidades, esperanças e desamparos”, o primeiro centrado em filmes, o segundo centrado em livros. Não é que Pedro Mexia acredite que a literatura salva a vida, mas acredita certamente que ela ajuda a compreendê-la e, sobretudo, a suportá-la.

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O livro é editado pela Tinta da China e custa 14€

Inspirados em Biblioteca, decidimos desafiá-lo para, numa entrevista/questionário, escolher uma dúzia de livros que de alguma forma marcaram o seu percurso, seja pelas razões mais elevadas, seja pelas mais baixas razões.

1. O primeiro livro que salvavas do fogo.

O caderno de apontamentos. Não porque seja brilhante, mas porque não o conseguiria reconstituir, ao contrário dos outros livros.

2. O primeiro livro que atiravas para o fogo (se necessitasses de combustível para te aquecer).

Talvez ainda tenha guardados alguns manuais de Direito; tenho certamente bastantes romances didáticos ou sentimentais.

3. Um mau livro de que gostes muito.

O DSM, Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: as categorias parecem-me duvidosas, mas cabemos lá todos.

4. O livro mais valioso da tua biblioteca (no sentido económico, não sentimental).

Poucos, porque não sou um bibliófilo. Talvez meia-dúzia de primeiras edições, e dois dispendiosos volumes com as intervenções parlamentares do Benjamin Constant.

5. A página que já leste mais vezes.

Várias da Bíblia, para proveito e siso, do livro de Job, sobretudo. Inúmeros poemas, a Waste Land do Eliot, em especial. Algumas passagens de filósofos alemães ou de Lacan, até entender (não sei se consegui).

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6. Um livro que te fez chorar.

Alguns dos poemas de Yeats a Maud Gonne (mas já não faz).

7. Um livro que já te deu jeito para engatares miúdas (e que possas aconselhar aos amigos).

O Éluard e o cummings, mas não foram eficazes.

8. O livro mais divertido.

Os primeiros romances de Evelyn Waugh, como o Scoop [Enviado Especial, na tradução da Relógio d’Água]; The Essential Groucho, do meu marxista favorito; O Óbvio Ululante ou qualquer outro volume de crónicas de Nelson Rodrigues.

9. O livro mais badalhoco.

O Pornopopeia do Reinaldo Moraes, talvez o mais bem escrito (os “clássicos eróticos” acho insuportáveis, excepto Laclos, o Clausewitz da libido).

10. O livro de que mais gostas de entre todos os que já escreveste.

Em poesia, o Em Memória, o mais melancólico; em prosa, o Estado Civil, o mais tragicómico.

11. O livro de que menos gostas de entre todos os que já escreveste.

Avalanche, porque tem poucos poemas “recordados na tranquilidade”.

12. O melhor livro que alguma vez te ofereceram.

O Hölderlin pelo qual a minha mãe estudou (Poemas, tradução de Paulo Quintela). Definiu, durante anos, o que era para mim “a poesia”.

[Veja aqui o vídeo da entrevista a Pedro Mexia]

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