“Brooklyn”

Baseado no romance homónimo do escritor irlandês Colm Tóibín, “Brooklyn”, de John Crowley, tem argumento de outro escritor, Nick Hornby. Passa-se no início dos anos 50 e conta a história de Eilis Lacey (Saoirse Ronan), uma jovem irlandesa que vive numa cidadezinha costeira com a mãe viúva e a irmã, e decide emigrar para os EUA para tentar melhorar a sua vida e rasgar horizontes, instalando-se em Brooklyn. É uma história tão singelamente cativante como humana e sentimentalmente complexa, feita à moda antiga sob todos os aspectos. E de tal forma que “Brooklyn” parece ter saído de um universo cinematográfico alternativo, um filme sobre pessoas normais com existências vulgares, que aspiram a ter vidas melhores e fazem sacrifícios para o conseguir, mas também sobre a experiência do expatriamento e da pertença. A recriação dos anos 50, seja em Brooklyn, seja na Irlanda, é de uma impressionante densidade de detalhe sem nunca ser forçada nem exibicionista. Nick Hornby consegue forrar com expressão emocional e verdade humana os diálogos e situações mais casuais, e a interpretação da belíssima Saoirse Ronan é prodigiosa de eloquência “invisível”. Passa tudo pelo seu rosto e pelos seus olhos, sem que nunca a vejamos “representar”, é como se estivesse a viver e sentir tudo o que Eilis vive e sente ao mesmo tempo que ela.

“Mediterrânea”

O que fazer com este primeiro filme do italiano Jonas Carpignano, a abarrotar de boas e simpáticas intenções mas também de equívocos e simplismos? Dois irmãos, naturais do Burkina Faso, viajam clandestinamente, e com risco de vida, de África para Itália. Lá chegados, não encontram o paraíso esperado, expondo-se à exploração mais gritante e à compreensível animosidade dos locais, já a braços com a crise, e que vêem as suas cidades e vilas invadidas por uma massa de refugiados e de migrantes económicos provindos de uma cultura completamente estranha e fechada, e com hábitos e valores alheios aos seus, mas a cujas legítimas preocupações e ponto de vista o cinema não parece querer dar importância ou atenção. Depois de uma primeira parte de seco e bom recorte documental na descrição das peripécias de viagem dos protagonistas rumo à Europa, “Mediterrânea” desfaz-se em “clichés” piedosos, situações estereotipadas e no maniqueísmo da representação das populações hospedeiras como intolerantes da “inclusão” ou, pior ainda, na sua demonização como racistas brutais que vão alegremente “caçar” emigrantes.

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“A Queda de Wall Street”

O grande crash de 2008 já foi apresentado pelo cinema americano dos mais variados ângulos, quer em documentários como “A Verdade da Crise”, quer em ficções como “O Dia Antes do Fim” ou “99 Casas”, este já em exibição em Portugal. Em “A Queda de Wall Street”, Adam McKay adapta o livro The Big Short, do jornalista especializado Michael Lewis, que descreve como um pequeno e variado grupo de investidores percebeu, antes de toda a gente, que a bolha do imobiliário ia estoirar nos EUA e dar origem a uma enorme crise financeira, e decidiram apostar contra o mercado e vender a descoberto, expondo-se à incredulidade e à troça geral, até os factos lhes darem razão — e enormes lucros. Co-produzido por Brad Pitt, que também tem um dos principais papéis, o filme consegue explicar a crise aos leigos sem se atolar em jargão financeiro, contar uma boa e incrível história e manter a indignação do vulgo acesa contra as descomunais patifarias do capitalismo sôfrega e esterilmente especulador, e seus fautores. Christian Bale, Steve Carell e Ryan Gosling estão entre os vários intérpretes de “A Queda de Wall Street”, que foi escolhido como filme da semana pelo Observador. Pode ler a crítica aqui.