O presidente da Agência Antidopagem dos Estados Unidos (USADA), Travis Tygart, defendeu, esta quinta-feira, a exclusão da Rússia das provas de atletismo dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, após as revelações feitas pela Agência Mundial Antidopagem.

“Estamos a poucos meses dos Jogos e é muito tarde, mesmo se eles [autoridades russas] afastarem todos aqueles que são responsáveis. É muito tarde para garantir que aqueles que [participaram] no programa de ‘doping’, apoiado pelo Estado, estão limpos”, afirmou Travis Tygart ao jornal New York Times.

Em novembro, uma comissão de inquérito independente mandatada pela Agência Mundial Antidopagem (AMA) publicou um primeiro relatório em que dava conta de um processo de ‘doping’ organizado no atletismo russo, com a Agência Russa Antidopagem (RUSADA) a esconder casos positivos de atletas daquele país.

Na sequência disso, a RUSADA e o laboratório de análises de Moscovo foram declarados não conformes ao Código Mundial Antidopagem e a IAAF suspendeu a Rússia de todas as competições de atletismo, abrindo a porta a uma eventual ausência dos atletas russos nos próximos Jogos Olímpicos do Rio, em agosto.

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As declarações de Travis Tygart chegam poucas horas depois da publicação da segunda parte desse relatório sobre dopagem no atletismo, com a AMA a revelar a amplitude da corrupção no seio da Federação Internacional de Atletismo (IAAF), que permitiu dissimular os testes positivos dos atletas russos.

A AMA constatou o “fracasso total” da Associação das Federações Internacionais de Atletismo (IAAF) na luta contra o ‘doping’ e a corrupção na segunda parte das conclusões, apresentadas na quinta-feira em Munique, considerando que Lamine Diack, antigo presidente da IAAF, é o principal responsável por atos de corrupção e encobrimento de casos.

O primeiro relatório da comissão, presidida pelo canadiano Dick Pound, tinha levado já à suspensão da Rússia de todas as competições de atletismo. O relatório indica que “existiu um colapso total das estruturas diretivas e uma absoluta falta de responsabilidade” e denuncia a falta de vontade política para confrontar a Rússia com a verdadeira dimensão do problema. O documento refere ainda que era impossível que os órgãos de cúpula da IAAF “não percebessem a dimensão do problema do ‘doping’ e da violação de regras”.

O escândalo foi desencadeado por um documentário da cadeia de televisão ARD, transmitido em dezembro de 2014, com o título “O ‘doping’: estritamente confidencial. Como a Rússia cria os seus campeões”. A reportagem, que apresentava diversos documentos e gravações feitas sem conhecimento dos protagonistas, denunciou indícios do uso sistemático de ‘doping’ com a conivência da Federação Russa de Atletismo e do Governo do país. Perante as suspeitas, a AMA criou a comissão independente para as investigar, que confirmou as suspeitas e as considerou “apenas a ‘ponta do icebergue'”.

A ARD apresentou depois uma nova reportagem que voltou a abalar o atletismo mundial, com o título “O ‘doping’: estritamente confidencial. As sombras do atletismo”. Neste caso, denunciou alegados atos de corrupção, praticados por vários países, entre os quais o Quénia.