Existem 150 “unicórnios” que juntos valem 525 mil milhões de dólares, cerca de de 481 mil milhões de euros. São startups tecnológicas, não cotadas em bolsa, que valem mais de mil milhões de dólares e que transformam algoritmos em negócio. A Uber, por exemplo, está avaliada em 51 mil milhões de dólares, segundo a base de dados de investimento em capital de risco CB Insights. É uma aplicação móvel que liga utilizadores a motoristas privados, lançada em março de 2009.

A ascensão de milionários (e multimilionários) em Silicon Valley – onde nasceram gigantes tecnológicos como a Apple ou Google – fez com que dinheiro e tecnologia fossem conceitos que andassem de mãos dadas. E segundo o último relatório do Banco Mundial, fazem-no para o bem e para o mal.

Na economia da internet, a ausência de um ambiente de negócios competitivo pode criar mercados cada vez mais concentrados, que beneficiam empresas incumbentes. Não é surpreendente que sejam os mais bem-educados, mais bem relacionados, e mais capazes que recebam a maioria dos benefícios – circunscrevendo os ganhos da revolução digital”, lê-se no relatório, citado pelo The Guardian.

A Mic acrescenta que a instituição conclui que a indústria tecnológica está a contribuir para o aumento da desigualdade entre os mais ricos e os mais pobres. “Apesar de existirem muitas histórias de sucesso, o efeito da tecnologia na produtividade global, na expansão de oportunidades para os pobres e classe média e na propagação da governança responsável tem sido inferior ao que era esperado”, lê-se no relatório.

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De acordo com o Banco Mundial, a produtividade global abrandou e a desigualdade social agravou-se apesar do avanço da tecnologia. E por que é que isto acontece? Porque ainda existem cerca de 4 mil milhões de pessoas no mundo que não têm acesso à internet. Outros 2 mil milhões não têm telemóvel e cerca de 500 milhões não vivem sequer perto de uma área coberta por rede móvel, sobretudo na China e Índia.

E se, por um lado, a falta de acesso à internet leva a que essas pessoas fiquem excluídas de empregos tecnológicos, por outro, a tecnologia acabou por automatizar muitos dos empregos de baixa qualificação que existiam. As empresas contratam pessoas com qualificações mais elevadas, ou seja, que puderam pagar os seus estudos. E aqueles que não podem – e que ocupavam as funções menos qualificadas – perdem lugar no mercado de trabalho.

“A revolução digital pode fazer com que surjam novos modelos de negócio, que beneficiem os consumidores, mas não quando a entrada no mercado é controlada”, diz o Banco Mundial, acrescentando que o setor tecnológico acaba por favorecer monopólios e que não está a estimular a competição.

“Muitas das economias desenvolvidas enfrentam mercados de trabalho cada vez mais polarizados e promovem a desigualdade – em parte porque a tecnologia aumenta as necessidades de qualificações mais elevadas, à medida que vai substituindo trabalhos de rotina”, lê-se. O relatório do Banco Mundial explica que esta desigualdade pode ser diminuída se mais pessoas no mundo tiverem acesso à internet. E que os projetos de empresas como a Google ou Facebook devem fazê-lo sem cordas amarradas.

“A tendência recente de desenvolver serviços nos quais o conteúdo básico pode ser acedido de forma livre (como o Facebook’s Free Basics ou o Internet.org), enquanto outros conteúdos estão sujeitos a tarifas de dados, parece ser a antítese da neutralidade da rede e uma distorção dos mercados”, diz o relatório.