Abraçada ao namorado, uma rapariga chora baixinho. As televisões já anunciaram há muito que esta corrida está perdida, que não há volta a dar. Ao início da noite parecia que não, as coisas estavam mal paradas mas talvez ainda fosse possível. Nessa altura, a rapariga não chorava, mas também não sorria. O mesmo se passava com quase todos os que vieram à sede nacional da candidatura de Sampaio da Nóvoa, na zona lisboeta de Santos.

O candidato chegou pouco antes das sete da tarde e foi por essa hora que as pouco mais de duas centenas de apoiantes de SNAP se colaram às três televisões do antigo armazém adaptado a sede. Que Marcelo ia ganhar, já se sabia. Se ia ganhar com margem suficiente para evitar a segunda volta, era a incógnita. No meio, a esperança que moveu todas estas pessoas durante a campanha eleitoral. Muitas delas não largaram o candidato ao longo das duas semanas da volta a Portugal, muitas delas gritaram entusiasticamente em todos os recantos do país, muitas delas não conseguiram disfarçar a desilusão à medida que viam os ecrãs a pintarem o território nacional de uma só cor.

Presidenciais 2016,Sampaio da novoa, sede

Fotografia de Michael Matias/Observador

Horas antes, esperançosos num bom resultado e numa enchente de gente na Rua D. Luís — fechada ao trânsito durante o dia –, os organizadores da noite eleitoral tinham colocado um pequeno palanque com microfone no passeio. Mal se percebeu que não ia haver remontada, muita gente veio para a rua e o púlpito ganhou nova utilidade: apoio para cervejas.

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“Isto com mais de 50% em todos os distritos já não vai lá”, ouve-se, por entre as pessoas, a alguém que admitiu a derrota bem mais cedo do que o candidato. Os números de Marcelo caem. 56, 55, 54, 53. Mas não valia a pena esperar mais, já não havia nada a fazer. Anuncia-se que Nóvoa falará dentro em breve. Entre os apoiantes, alguma revolta. “Este ainda há meses dizia que o gajo era um catavento”, ouve-se enquanto Passos Coelho reage aos resultados.

O candidato aparece dali a momentos. Vem sorridente. Depois do breve discurso, chega-se ao pé dos jornalistas e fica a conversar longamente de mãos nos bolsos. Não parece um homem derrotado. “A partir de hoje, Marcelo Rebelo de Sousa é o meu Presidente e o de todos os portugueses”, disse na intervenção. “Foi um tempo extraordinário que eu não trocaria por nada nesta vida”, afirmou depois. Amanhã, segunda-feira, é outro dia, e Nóvoa tem uma carreira universitária à espera.

Apesar de tudo, “pela primeira vez na nossa História, um cidadão independente esteve perto de disputar a segunda volta de umas eleições presidenciais”, salientou Nóvoa. “E pela primeira vez na História da nossa democracia, uma candidatura independente ultrapassou os 20%, um milhão de votos, um sinal forte da maturidade da nossa democracia.” Para ele, um praticamente desconhecido há uns meses, não está mal. Mas não chegou.

Houve lágrimas, sim. As da rapariga abraçada ao namorado e as de Maria Antónia Palla, jornalista e mãe de António Costa. Saiu da Rua D. Luís com pena de não ver Sampaio da Nóvoa Presidente e com pena de não ter visto o filho ao lado do candidato que apoiou. Lágrimas, a Nóvoa, ninguém viu. Para ele, a noite acaba já de gravata arrumada, a tirar infindáveis fotografias com membros do staff , a cantar e a saltar. Ninguém diria que por aqui houve derrota. Antes da campanha, Sampaio da Nóvoa disse uma coisa que repetiria ao longo das semanas seguintes. “Vai ser muito bonito, pá!” Só que não chegou.

presidenciais 2016, Sampaio da novoa,

Fotografia de Michael M. Matias/Observador