O quê? Já acabou? Fim. The End. Finito. Maria de Belém teve um resultado desastroso nas urnas. Entrou na corrida presidencial para disputar as eleições com Marcelo Rebelo de Sousa, concentrou todas as energias em Sampaio da Nóvoa e acabou (bem) atrás de Marisa Matias e, ali, taco a taco com Edgar Silva. A noite eleitoral foi bem o espelho desse resultado: fugaz, fugaz, fugaz. Quem, por momentos, tivesse piscado os olhos, tê-la-ia perdido.
Passavam 45 minutos das oito horas da noite quando Maria de Belém chegou à sala, onde as cerca de três dezenas de apoiantes a esperavam. Rostos fechados transformados em vários sorrisos de bonomia. O ânimo possível. Alberto Martins, Vera Jardim, João Soares e Manuel Alegre juntavam-se aos restantes apoiantes para o aplauso. A socialista atirou-se ao púlpito e discursou. Acabou a lamentar os números da abstenção, a cumprimentar o vencedor e a reconhecer a derrota. “Foi uma campanha difícil”, mas onde estivemos “sem demagogias e sem populismos, à altura das nossas responsabilidades”. Novo aplauso, este prolongado. Chegava ao fim a corrida presidencial. Sem gritos por Belém, sem bandeiras ao alto, sem hino nacional. Nada.
Seriam os seus apoiantes assumir as despesas da casa e a justificar um “resultado que ficou muito aquém” das expectativas, como acabaria por resumir Vera Jardim. Se as sondagens já não estavam famosas para Maria de Belém, a polémica das subvenções vitalícias hipotecou todas as chances. Foram as horas horribiles de Maria de Belém. Aquilo a que Vera Jardim chamou de “entrada em campanha de uma vaga de populismo demagógico”, ou que Alegre descreveria como uma “tentativa de assassinato político”. E as urnas mostram que Maria de Belém não sobreviveu.
Mas o subvençõesgate foi apenas o golpe final nas aspirações da socialista. Maria de Belém entrou na corrida presidencial num carrinho de rolamentos, quando o seu adversário direto ia à boleia de uma máquina partidária chamada PS. Pelo menos foi isso que os apoiantes da ex-ministra da Saúde foram denunciado ao longo da campanha e que a realidade na estrada parecia mostrar. Houve “batota”, chegaram a gritar.
Esta noite, na sede da candidatura, Vera Jardim voltaria à carga: o “envolvimento de dirigentes e ministros socialistas” na campanha de António Sampaio da Nóvoa, pode ter sido interpretada “como sendo a posição oficiosa do PS” para estas eleições. Posição oficiosa, acusou, assumida “ao arrepio da posição [adotada] na comissão política do partido”.
“E não vale a pena estar com habilidades. Isto é uma derrota da esquerda toda. Havendo uma derrota da esquerda é evidente que é uma derrota do PS”, atirou Manuel Alegre.
A ferida está lá e o núcleo duro de Maria de Belém não parece estar disposto a esquecê-la tão facilmente: o PS apoiou de forma mascarada a candidatura de Sampaio da Nóvoa e isso teve impacto nos resultados desta noite. É certo que Maria de Belém saiu derrotada (e de que maneira), mas o PS também perdeu. “O PS tem de refletir por ter sido derrotado nestas eleições”, sublinhou Alberto Martins, antes de soltar um lamento sentido: “Parece que não aprendemos com os erros do passado”.
Se o comício praticamente vazio em Lisboa tinha sido um prenúncio do que aí viria, os resultados desta noite fecharam um ciclo de um naufrágio já anunciado. O navio de Maria de Belém foi ao fundo. E com estrondo.