O economista francês Thomas Piketty, que tem tido um enorme protagonismo internacional depois do lançamento do livro O Capital no Século XXI, esteve presente no Festival Hay de Cartagena, na Colômbia, e deu uma entrevista à BBC, onde falou dos desafios económicos que a América Latina enfrenta nos dias de hoje.

Depois de se centrar nas desigualdades na Colômbia, na situação da Venezuela ou na dívida pública da Argentina, Piketty ofereceu algumas propostas de soluções para a região. E uma delas foi no mínimo inesperada.

Começando por explicar que tem havido “muita especulação e muitos atores financeiros que fizeram muito dinheiro com a dívida argentina”, o francês disse que se deve avançar para “acordos de reestruturação coletiva”. A partir daqui, defendeu também que “um país não deveria receber demasiados empréstimos do exterior e não deveria aceitar demasiado investimento de capital estrangeiro, porque isso põe em risco a soberania nacional e a capacidade de desenvolver um consenso nacional sobre a desigualdade, sobre a distribuição dos impostos, dos esforços fiscais, dos gastos públicos”.

O economista foi mais longe e pegou no exemplo da zona euro como uma possível solução, mas deixou avisos. “Também acho que uma integração regional política e monetária mais profunda pode ser útil”, afirmou, antes de desejar que “um dia a zona euro dê um exemplo convincente ao resto do mundo de uma união monetária que funciona”. Isto porque “é muito mais fácil controlar os fluxos de capital de grande escala do que ao nível, relativamente pequeno, de um Estado-nação”. Por isso, Piketty prevê que este “é um assunto que será debatido” na América Latina.

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No entanto, e confrontado com a possibilidade de a implementação de uma moeda única latina ser um desafio mais complicado do que na Europa, Piketty esclareceu: “Não estou a dizer que toda a América Latina deveria ir para uma moeda única no próximo ano. Há que dedicar tempo a pensar nisto”:

Há que pensar não só numa moeda comum mas também num Parlamento na zona euro que pode votar num nível comum de défice, um imposto sobre sociedades comum. Não faz falta unificar tudo, mas faz falta unificar pelo menos os instrumentos orçamentais, como a dívida pública ou o imposto sobre sociedades, que já não podem continuar a ser decididos a nível nacional”.

Avisando sempre que o exemplo deve partir da zona euro, Thomas Piketty não tem dúvidas em afirmar que “isto deveria suceder no longo prazo”.