O criador do antivírus McAfee, John McAfee, ofereceu-se esta sexta-feira para quebrar a encriptação do iPhone do terrorista Syed Farook, que matou 14 pessoas num atentado em San Bernardino (Califórnia). “Esta é a minha oferta para o FBI. Irei, sem qualquer custo, desencriptar a informação do telemóvel [do atirador] de San Bernardino, com a minha equipa“, anunciou McAfee, num artigo publicado no site Business Insider. E disse mais:

Comerei o meu sapato no programa [de televisão] do Neil Cavuto [apresentador e comentador da estação Fox Business Network] se não conseguirmos desencriptar o iPhone [do atirador] de San Bernardino.

O problema é que a dificuldade da tarefa pode ser maior do que John McAfee pensa. Isto porque o norte-americano afirma que, para o desencriptar, a sua equipa de peritos usará sobretudo “a engenharia social”, o que lhe “levará três semanas”. Mas, como explica o especialista britânico em segurança informática Graham Cluley à BBC, neste processo os técnicos trabalham num método que leve as pessoas a entregar as suas credenciais por si mesmas. Cluley explica o problema:

“Basicamente, os homens mortos não contam histórias. Boa sorte para o sr. McAfee a tentar usar engenharia social num cadáver para que este lhe revela a palavra passe.

Se McAfee e a sua equipa de especialistas conseguissem hackear (reprogramar) o iPhone do atirador de San Bernardino (algo difícil, porque “os iPhone são muito difíceis de hackear, comparados com outros dispositivos”, como explica o especialista britânico), tal evitaria que a Apple criasse uma porta de acesso aos seus produtos, que comprometeria a privacidade dos utilizadores e que McAfee descreve como podendo ser “o início do fim da América”, já que tornaria os iPhone de todos os utilizadores vulneráveis.

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Mas John McAfee não foi o único a concordar com a posição da Apple, que recusou desbloquear ou facilitar o acesso do FBI ao iPhone de Syed Farook, alegando que esse precedente seria grave e que deitaria por terra “décadas de avanços de segurança que temos vindo a fazer para proteger os nossos clientes”. Também os responsáveis de empresas como Facebook, Twitter e WhatsApp manifestaram solidariedade com a decisão. Da parte do Facebook veio mesmo uma declaração não assinada, isto é, em nome da própria empresa:

Condenamos o terrorismo e temos toda a solidariedade para com as vítimas do terror. (…) Também apreciamos o trabalho difícil e essencial das forças de segurança para manter as pessoas seguras. (…) Contudo, continuaremos a lutar de forma agressiva contra as exigências feitas às empresas, para que enfraqueçam a segurança dos seus sistemas. Estas exigências criariam um arrepiante precedente e obstruiriam os esforços das empresas para tornar os seus produtos seguros.

Quem não concorda com a Apple (e com John McAfee) é o candidato republicano e favorito às primárias do partido, Donald Trump, que pediu aos seus apoiantes para boicotar a empresa enquanto esta não garantir o acesso das autoridades ao telemóvel do atirador. E disse mesmo que, se fosse presidente, “cairia com tanta força” em cima de Tim Cook, CEO da Apple, que “a sua cabeça iria a rolar de volta até Silicon Valley”.

Texto editado por Pedro Esteves