É a instituição pública de ensino superior mais recente do país (se não contarmos com a Universidade Aberta, de ensino não presencial). A Universidade da Madeira (UMA), situada no Funchal, foi fundada em 1988, a 13 de setembro. “Deixando a parte da instalação, vai fazer 20 anos este ano. Os primeiros estatutos foram publicados em 14 de maio de há vinte anos. Portanto, ainda é uma jovem universidade”, contou José Carmo, reitor da instituição, ao Observador. Foi no edifício da Reitoria, nas traseiras do Colégio dos Jesuítas, numa rua perpendicular à icónica Praça do Município, que nos encontrámos para falar acerca da evolução desta instituição.

Reitor desde 2013

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José Carmo nasceu em Lisboa a 19 de julho de 1956. É licenciado em Estatística e Computação pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e doutorado em Matemática pela Universidade Técnica de Lisboa.

Começou a colaborar com a Universidade da Madeira no ano letivo de 1992/93 e tornou-se Professor Catedrático daquela instituição em 2000.

A 25 de fevereiro de 2013, foi eleito reitor da Universidade da Madeira, cargo para o qual era o único candidato e que ocupa até hoje. Substituiu Castanheira da Costa, que exercia o cargo desde 2004.

José Carmo Reitor Universidade Madeira

Imagem: Reitoria da Universidade da Madeira

“Eu penso que é uma instituição fulcral”, começou por dizer José Carmo. “E penso que, ao longo destes 27 anos, tem cumprido passo a passo o seu papel”, acrescentou. Perguntámos pelos desafios. “Em termos muito genéricos — e como todas as outras — é, [por um lado], a internacionalização e, por outro lado, ser um ator no desenvolvimento da região”, continuou. “Uma grande maioria dos estudantes da Universidade da Madeira nunca teriam possibilidades de ter acesso a um curso superior se não existisse a universidade.”

Certo é que, prestes a completar três décadas, a instituição madeirense começa agora a ganhar outra relevância. “Começamos a ter ex-alunos no Governo [regional] — como o Secretário-Geral da Educação, [Jorge Carvalho], que foi nosso aluno, e o senhor presidente da Câmara de Ribeira Brava, [Ricardo António Nascimento], também foi nosso aluno. [E também] temos eurodeputados [ex-alunos]”, indicou José Carmo, referindo-se a Liliana Rodrigues (PS) e a Cláudia Aguiar (PSD-Madeira).

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Com um orçamento a variar “entre os 16 e os 17 milhões” de euros, a UMA presta formação a cerca “de 2.700 alunos, sem contar com [os] externos” — isto é, excluindo os alunos que se encontram a estudar no estrangeiro, no âmbito do programa ERASMUS, por exemplo. “São maioritariamente madeirenses”, embora o “número de estudantes estrangeiros, no global, chegue a 5%”, referiu José Carmo.

Porém, a universidade vê-se a braços com um problema: “Neste momento, só conseguimos captar 40% dos estudantes que se formam no ensino secundário na região”, confessou o reitor. “É uma parte que temos que tentar melhorar.” Ou seja, dos 60% de estudantes que sobram, alguns optam por não prosseguir estudos e outros vão estudar para o continente. À UMA, essa saída de alunos pode ser um problema “de sustentabilidade”. Mas a questão divide José Carmo: “Nós percebemos completamente as opções. Não vejo problema nenhum que as pessoas daqui vão estudar para o continente, embora fosse desejável que as pessoas [do continente], por exemplo, viessem estudar para a Madeira”, referiu. Algumas vêm. É que a UMA tem uma “grande atração”: o curso de Medicina. É onde ingressa “a grande maioria dos estudantes que vêm do continente”.

Investimentos necessários, mas difíceis

A Região Autónoma da Madeira fica a mais de 900 quilómetros de Lisboa e a descontinuidade territorial pode trazer dificuldades no que toca a atrair estudantes do continente. Contudo, esta questão desdobra-se ainda de outras formas. Desde logo, no que toca à divulgação da oferta formativa: “Nós precisamos claramente de ter mais orçamento para poder fazer divulgação. Seja para o continente, seja para o exterior [do país]. [Mas], na nossa escala, é muito mais difícil retirarmos um pouco do orçamento [para isso]”, apontou José Carmo.

O reitor dá um exemplo: “Os custos de divulgação para a Universidade da Madeira ou para a Universidade de Lisboa são análogos. Agora, [falta] capacidade de conseguir gerar dinheiro para fazer essa pequena aposta. Enquanto aqui é capaz de representar um por cento do orçamento, lá é 0,1 [por cento].” “Precisávamos claramente de ter meios financeiros para fazer a divulgação. É um investimento necessário, mas para o qual temos muita dificuldade”, indicou.

Do ponto de vista do apoio à investigação e dos recursos humanos, José Carmo foi direto: “A Universidade faz o que pode com os meios que tem. Há áreas onde consegue ter uma maior aposta na investigação, [mas] é evidente que precisava de mais meios. Meios humanos.” É que o reitor defende uma “abrangência mais alargada” nas áreas de formação de primeiro ciclo (licenciaturas) em que aposta, pois “não nos devemos especializar demasiado cedo”. É a forma de cumprir a “missão” da instituição: “dar uma formação transversal para a sociedade madeirense”. José Carmo podia “pegar em 16 milhões e investir só numa área”. Mas não o faz. “Para cumprir a sua missão, [a UMA] deve ter um espetro transversal”, argumentou.

Para já, depois de todos estes anos e fazendo frente à “pouca capacidade de fazer investimentos” a UMA “evoluiu bem”. Pouco a pouco, vai conquistando “credibilidade”. “Isso é importante. É as pessoas saberem que, quando vêm para cá, podem ter outras opções… mas esta é credível. Os cursos têm qualidade, a escolha é delas”, concluiu o reitor.

A Universidade “não é só para a Madeira”

Da Reitoria passámos à Quinta Vigia, residência oficial do Presidente do Governo da Região Autónoma da Madeira. Encontrámos Miguel Albuquerque no piso superior, acompanhado de um cigarro e de uma chávena de café. “A Universidade da Madeira não é uma universidade só para a Madeira”, disse Miguel Albuquerque ao Observador. “A função da universidade não é que os alunos da Madeira vão para lá e fiquem na Madeira. Uma das [suas] funções é captar estudantes, professores e pessoas do exterior para ser uma universidade internacional. Porque a vocação das universidades — como da Universidade da Madeira — é ser cosmopolita”, acrescentou.

Miguel Albuquerque defende que a Universidade da Madeira deve “estar orientada para o exterior” MANUEL ALMEIDA/LUSA

A estratégia que Miguel Albuquerque defende para a universidade é a mesma que diz aplicar à região que lidera politicamente. A UMA, “como todas as instituições da Madeira”, deve “estar orientada para o exterior”, defende. “É esta a política do Governo.” E porquê? “Porque a Madeira — como o país — só teve sucesso quando se virou para o exterior, quando se virou para o mundo. Todos os ciclos de desenvolvimento da Madeira só ocorreram quando [a região] se virou para o exterior. Quando se virou para dentro entrou em entropia, por falta de dimensão de mercado, por falta de massa crítica”, explicou.

Ilustrou a estratégia com exemplos. Como quando no tempo “da colonização”, a região “começou a produzir um produto de luxo” — o açúcar, exportado “para Antuérpia” (Bélgica) — e “o próprio Vinho Madeira”, que “começou a ser exportado primeiro para os Estados Unidos [e] depois para a Rússia e para a Inglaterra. Arrematou com o turismo: “Hoje temos seis milhões de dormidas na Madeira — 6.6 milhões no ano passado –, com resultados de 320 milhões de euros. [Mais] 550 mil turistas de cruzeiro aqui. Tivemos mais gente a desembarcar no porto do Funchal do que no porto de Lisboa”, afirmou.

Por isso, para Miguel Albuquerque, a UMA deve procurar afirmar-se “pela excelência de alguns dos seus cursos e [por] captar alunos do exterior”, indicou o presidente do Governo regional. “É importante que as instituições se abram. O cosmopolitismo e a internacionalização” são fatores “decisivos numa região como a nossa”, concluiu.

O Observador viajou para a Madeira a convite da representação da Comissão Europeia em Portugal.

Editado por Miguel Pinheiro.