A historiadora e socióloga Maria de Fátima Patriarca morreu esta manhã, devido a complicações na sequência de um problema cardíaco. Nasceu em 1944, na freguesia do Couço, em Coruche, e foi uma importante figura na análise social da história portuguesa do século XX. Em 1995 publicou os dois volumes d’A História Social no Salazarismo (1930-1947), a que juntaria outros títulos fundamentais na investigação deste período, como Sindicatos contra Salazar. A revolta do 18 de Janeiro de 1934, em 2000. O velório decorre este sábado na Basílica da Estrela (a partir das 17h, missa às 18h) e o funeral acontece no domingo de manhã

Nome maior das Ciências Sociais em Portugal, Maria de Fátima Patriarca passou pelo Instituto Superior de Serviço Social de Lisboa (ISSS), onde se licenciou em 1967, para depois ser bolseira da Fundação Gulbenkian. Frequentou o 3ème Cycle na Ecole Pratique des Hautes Etudes, em Paris, onde se diplomou em Estudos Aprofundados em Ciências Sociais. Mais tarde, em 1980, completou a licenciatura em Sociologia, no ISCTE. Foi assistente no ISSS (1969-1970) e no ISCTE (1974-1976). Para o Gabinete de Investigações Sociais entrou em 1975 e para o Instituto de Ciências Sociais (ICS) em 1982, no qual fez parte da direção.

A prova de carreira de investigadora para o ICS, do qual fazia parte agora como membro jubilado, fê-la sob orientação de Adérito Sedas Nunes, em 1992, com Processo de implantação e lógica e dinâmica de funcionamento do Corporativismo em Portugal – os primeiros anos do Salazarismo, e com a prova complementar Projecto de investigação: Sindicatos e luta social no regime corporativo – dos anos 50 a 1974. Logo a partir desse ano tornou-se investigadora auxiliar do ICS, chegando a investigadora principal em 1999. Passou a jubilada em 2005.

No mesmo ICS, fez parte de alguns órgãos sociais. Foi um dos elementos que compôs o conselho de redação do Boletim de Estudos Operários, uma publicação bianual do ICS, entre 1982 e 1987. Dois anos mais tarde foi escolhida pelos investigadores para os representar na Assembleia Constituinte na Universidade de Lisboa. E entre 1999 e 2003, durante o período em que a Análise Social foi dirigida por António Barreto, Maria de Fátima Patriarca integrou o conselho de redação da revista. Nesta publicação apresentou artigos como Os operários na revolução (1978), Taylor no Purgatório. O trabalho operário na metalomecânica pesada (1982), O triângulo corporativo. Acta e encenação de um despacho salarial — 1946-47 (1987), O “18 de Janeiro”: uma proposta de releitura (1993), Sobre a leitura das fontes policiais (1997) ou “Diário” de Leal Marques sobre a formação do primeiro governo de Salazar (2006).

Já antes, em 1979, tinha sido uma das responsáveis pela criação do Arquivo Histórico das Classes Trabalhadoras, em conjunto com Maria Filomena Mónica. Mais tarde, a mesma instituição passou a chamar-se Arquivo de História Social do ICS. Maria de Fátima Patriarca foi aqui responsável científica entre 1999 e 2005. Entre outubro de 2006 e janeiro de 2007, foi a coordenadora da exposição “1936 – 70 anos depois. Memória e História. Tarrafal e Guerra Civil de Espanha”

Além de livros e artigos em nome próprio, a historiadora e socióloga assinou trabalhos em publicações coletivas. Destacam-se A revolução e a questão social, de Portugal e a Transição para a Democracia (1974-1976), (coordenado por Fernando Rosas em 1999), Greves e Revolta do 18 de Janeiro de 1934, ambos no Dicionário de História de Portugal (com coordenação de António Barreto e Maria Filomena Mónica, publicado em 1999), e Estado social: a caixa de Pandora, que fez parte de A Transição Falhada. O Marcelismo e o Fim do Estado Novo (1968-1974), de Fernando Rosas e Pedro Aires Oliveira (2004).

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