No bolso dos nossos casacos, na mesa de centro ou na secretária do computador repousam máquinas fascinantes sobre as quais pouco pensamos, mas que constituem uma enorme evolução e revolução tecnológicas. Por detrás de um fino e brilhante ecrã escondem-se peças miniaturizadas de tecnologia avançada que até há pouco tempo só se encontravam no interior de outras carcaças de plástico e metal bem maiores. Servem para mil coisas, entre elas para comunicar e trabalhar, mas sejamos sinceros: o melhor dos smartphones e dos tablets são os jogos.

Seja como participante ativo ou como espetador, o ato de jogar é fascinante. É por essa razão que, sem surpresa, passamos globalmente mais de 3 mil milhões de horas por semana entretidos com jogos digitais. Desses, a maior fatia pertence aos jogos mobile (e por mobile entenda-se jogos para telemóveis e para tablets), categoria onde não são as crianças ou os jovens que mais horas passam a jogar, mas sim os adultos, com a média de idades a rondar os 35 anos.

Contudo, quando comparamos os jogos mobile com os jogos para consola ou computador encontramos uma grande diferença. A maioria dos que jogam em mobile não se informa regularmente sobre os jogos, não lê notícias sobre os mesmos, não procura textos de análise antes de descarregar um título, não acompanha o mercado. Os jogos são maioritariamente descobertos nas listas dos mais descarregados na loja digital, ou nos destaques que a própria loja faz. Esta forma de descobrir jogos faz com que muitas pérolas fiquem escondidas em conchas por abrir. Este guia serve para quem quiser ir um pouco mais além e descobrir 15 jogos que são grandes obras, tanto ao nível da qualidade como ao nível da originalidade, sem esquecer o prazer que proporcionam.

A lista é exclusiva de jogos para iOS, todos compatíveis com iPhone e iPad, grátis, pagos ou com compras integradas. O título de cada jogo liga à respetiva página na loja. Divirtam-se.

80 Days (4,99€)

80_Days

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Este inovador jogo de estratégia foi um dos jogos do ano de 2014 em diversas publicações, incluindo as reputadas Time e The New Yorker. Nesta versão steampunk do clássico de Júlio Verne, “A Volta ao Mundo em 80 dias”, o objetivo do jogo é ajudarmos Phileas Fogg a circum-navegar o globo, escolhendo as rotas, os meios de transporte e decidindo como agir em situações insólitas tais como ser preso ou decidir se certas personagens são ou não de confiança. Dar a volta em 80 dias não vai ser fácil e com tantas opções de viagem para escolher, entre as mais de 150 cidades possíveis para visitar e onde podemos comprar, vender ou trocar mercadorias, este jogo proporciona horas e horas de várias tentativas e diferentes abordagens. Um jogo para os amantes de estratégia, narrativa e literatura.

Alphabear (Grátis + compras integradas)

Alphabear

Os jogos de palavras são uma das categorias mais povoadas na loja digital da Apple e onde é mais difícil separar o trigo do joio. Com um nome que nos faz lembrar “Forever Young”, Alphabear é um dos jogos mais recompensadores do género e onde as ideias de progressão são mais originais. O conceito do jogo é simples: temos de fazer palavras juntando as letras. Mas é na progressão que o jogo brilha. Por cada letra usada com sucesso a mesma transforma-se num pequeno urso. Se dois ou mais ursos estiverem lado a lado tornam-se num só urso maior. Se uma letra passar demasiadas rondas sem ser usada é transformada numa pedra, evitando assim que os ursos possam crescer. O objetivo é conseguir o maior número possível de pontos depois de gastas as letras, através das palavras conseguidas ou da dimensão dos ursos criados. Com uma enorme variedade de modos, jogos organizados por dia da semana e eventos especiais, Alphabear é perfeito para uma distração rápida. Para os amantes de jogos de palavras e de um bom desafio.

Alto’s Adventure (2,99€)

AltosAdventure

Desde Canabalt, o jogo de corrida sem fim (endless runner) lançado nos primeiros tempos do iPhone, que o género de progressão infinita alastrou para todos os outros géneros de jogo, desde a simples corrida até a adaptações do Pac-Man. Alto’s Adventure é um jogo de ski sem fim que apenas precisa de um toque no ecrã como comando para saltar mas, ao contrário de outro mais famoso na loja, é um dos jogos iOS mais bem afinado, no balanço entre possibilidade e dificuldade, para além de ser um dos mais belos dos últimos anos. Cenários idílicos nos Alpes com uma forte componente de ilustração minimal passam velozmente por baixo dos nossos skis, enquanto efeitos dinâmicos de tempo fazem o dia transitar para a noite, a calma da brisa dá lugar a uma forte tempestade, ou um belo nascer do sol encadeia-nos temporariamente o olhar. O resultado é uma curiosa mistura, entre o sentimento de calma que nos é transmitida pelos ambientes e a tensão da dificuldade em conseguir atingir os objetivos do jogo, três de cada vez e também eles sem fim. Aparentemente calmo, Alto’s Adventure é radical o suficiente para tentar caminhos novos. E com isto consegue dar um grande salto. Para os amantes da calma e da jogabilidade bem afinada.

AZZL (2,99€)

AZZL

Não sei se AZZL foi pensado de raiz como um jogo para crianças mas o certo é que desperta a juventude em qualquer adulto. O jogo é uma mistura inteligente entre um desenho animado e um puzzle, que nos surpreende logo no arranque. O objetivo é simples: alinhar as peças no ecrã que, dependendo dos casos, podem ser rodadas, arrastadas e cruzadas, entre outras mecânicas, para formar uma imagem certa, tal como se estivéssemos perante um puzzle tradicional mas com formatos de peças e formas de encaixar improváveis. O melhor é que o fundo que estamos a tentar resolver é um vídeo cartoon em loop, cuja dinâmica funciona ao mesmo tempo como pista para a resolução do puzzle mas também como forma de nos confundir. A resolução dos puzzles nunca é difícil, embora alguns nos troquem literalmente as voltas. AZZL reinventa o género dos puzzles de peças, recheado de um humor inteligente e acompanhado de personagens tão divertidas quanto surreais. Para os amantes de um bom puzzle e de humor nonsense.

Brickies (Grátis)

Brickies

Em 1976, Nolan Bushnell criou para a Atari o jogo Breakout, um dos primeiros fenómenos e vícios globais na história dos videojogos. A partir de Breakout, foram surgindo vários clones, assim como um novo género. Mas o jogo mais famoso e que levou este género a mais pessoas foi Arkanoid, que adicionou à destruição da parede habilidades especiais e tijolos com comportamentos diferentes. Brickies é uma das evoluções mais recentes do género de “destruir paredes” e introduz uma variação que faz toda a diferença. Controlamos ao mesmo tempo uma “raquete” em baixo mas também outra adicional em cima, ambas movendo-se sincronizadas. Se esta particularidade pode fazer parecer que se trata de um jogo fácil, o resultado final é exatamente o contrário, sendo muitas vezes bem mais confuso jogar com ambas as raquetes. O melhor é que falhar a bola não significa perder o jogo; esta apenas fica desativada sem destruir qualquer tijolo até lhe tocarmos novamente. Recheado de habilidades que podem ser combinadas para efeitos explosivos, Brickies é rápido, colorido e viciante. Para os amantes de um bom twist a um clássico dos videojogos.

Cavernaut (1,99€)

Cavernaut

Mais um twist a um clássico da indústria, neste caso Lunar Lander de 1979, também este da Atari. Cavernaut pertence a uma linha de jogos que cresceu nos últimos anos, nos quais não existe um final para o jogo mas sim a tentativa de chegar cada vez mais longe. Balançado o nosso dispositivo para direita e para a esquerda controlamos uma pequena nave cujo único sistema de propulsão é controlado pelo nosso toque. Navegando em cavernas geradas de forma processual (desenhadas de forma aleatória e proporcionando sempre cenários de jogo distintos) tentamos levar a nossa nave à maior distância possível, gerindo ao mesmo tempo a quantidade de combustível disponível que se esgota a cada toque no propulsor. Existem bases onde é possível abastecer mas conseguir chegar às mesmas é de uma enorme dificuldade. O jogo tem tanto de zen, graças à fluidez do controlo da nave, como tem a capacidade de nos deixar os nervos em franja quando os recursos escasseiam. Para os amantes de controlos fluidos e dificuldade elevada.

Does not Commute (Grátis + compras integradas)

DoesNotCommute

O jogo dos criadores do premiado Smash Hit transporta-nos até aos filmes da década de 1970 ou 80, onde pela manhã os habitantes dos bairros geometricamente perfeitos e alinhados dos arredores abandonavam as garagens numa sincronia perfeita. De forma hilariante, o jogo começa com calma, onde apenas temos que guiar um carro de casa ao destino de trabalho. A esse carro soma-se um segundo, depois um terceiro, mais uma ambulância, mais um autocarro escolar, e assim sucessivamente. A reviravolta é que por cada carro novo que conduzimos o antigo faz o mesmo percurso no mapa. Dentro de poucas rondas estamos a navegar num trânsito caótico que foi criado pela soma de todos os nossos jogos. Podemos rebobinar caso queiramos tentar um percurso novamente, ou até podemos bater porque o nosso carro, mesmo mais lento, continua a andar, mas tudo isto nos custa o tempo que é limitado para terminar uma determinada área. Podemos apanhar mais tempo e até usar upgrades como “turbo”, mas o jogo torna-se progressivamente mais difícil até chegar à tempestade de trânsito perfeita. Para os amantes de estratégia em tempo real que tenham nervos de aço.

Find-the-Line (0,99€ + compras integradas)

FindTheLine

Um dos jogos mais originais da Apple Store e possivelmente o mais belo de todos. Não é fácil explicar o prazer de Find-the-Line sem o experimentar e a ideia de jogabilidade é tão inovadora que está à espera de um pedido de patente. Em Find-the-Line guiamos linhas até estas se juntarem e formarem desenhos. Imaginemos que temos uma enorme linha ao longo de uma folha e que pelo caminho essa linha constrói várias formas e elabora vários desenhos. Neste jogo só vemos uma pequena parte dessa linha e temos de a ir deslizando ao longo da folha até descobrir o pedaço que tem de ficar no ecrã. À medida que andamos a linha vai formando outros elementos e objetos que são pistas visuais para a resolução do puzzle. Controlando várias linhas, temos de achar o ponto em todas que dá forma a imagem final. Podemos ganhar e gastar pistas e se por vezes vamos chegar rapidamente à solução, noutras vamos perder muitos minutos ou horas a finalizar um só quadro. Fácil de perceber, muito difícil de vencer. Para os amantes da originalidade e de quebra-cabeças muito difíceis.

Framed (3,99€)

Framed

Como seria jogar com um livro de banda desenhada? A resposta está em Framed a ideia muito original do estúdio australiano Loveshack que transformou tiras de banda desenhada num jogo de puzzles. A ideia é genialmente simples. O jogo apresenta-nos uma página do livro com várias tiras. Quando colocamos a história a andar, a ação na página vai mostrar-nos que existem vários erros na ordem em que está a ser contada. O nosso personagem, sempre em fuga, pode não conseguir ultrapassar uma varanda, pode falhar o salto entre prédios ou deparar-se com a arma de um polícia apontada a ele ou ela. Para que o personagem chegue ao final da página com sucesso, temos que reordenar os painéis ou tiras, para que a ordem da história passe a ser a correta. Com um ambiente a transbordar de estilo noir minimal e acompanhado pelo jazz obrigatório de uma história de espionagem, Framed faz-nos puxar pela cabeça de uma forma visualmente inovadora. Para os amantes de um jogo de ação no qual precisamos de pensar.

Her Story (4,99€)

HerStory

Não é fácil categorizar Her Story. Será um jogo? Será um filme interativo? Será apenas um conjunto de filmes? Her Story, curiosamente, não é para ser jogado. Mas, paradoxalmente, é um jogo. Em Her Story está à nossa disposição um computador da polícia, onde podemos consultar o arquivo vídeo de sete interrogatórios feitos à mesma pessoa num caso que envolve o desaparecimento e morte de uma outra. No entanto, a forma de descobrir estes vídeos é fazendo pesquisas de textos que nos apresentem vídeos novos. Deste modo, totalmente não linear, vamos conseguindo obter cada vez mais informação sobre o caso e, quem sabe, perceber o que se passou na realidade. Feito com recurso a vídeos reais e a uma boa prestação da atriz, Her Story envolve-nos como poucos jogos o conseguem e, enquanto tentamos desvendar o mistério, ficamos totalmente imersos nos vídeos do caso. É comum abandonarmos o iPad para logo de seguida nos lembrarmos de outra pesquisa e corrermos de volta para a experimentar. O jogo pode terminar em 2 horas ou demorar dias, se quisermos descobrir os vídeos todos e colocá-los na ordem correta. Se o fizermos, vamos ter uma visão sobre a história bem diferente daquela que imaginamos. Imperdível. Para os amantes de formas inovadoras de contar uma história.

Monument Valley (3,99€)

MonumentValley

Já muito se escreveu sobre esta obra-prima que, provavelmente, não lhe passou despercebida. Mas caso isso tenha acontecido, convém aqui relembrar porque Monument Valley é obrigatório nas descargas de qualquer iPhone ou iPad. Baseado nas criações arquitetónicas geometricamente impossíveis do artista M. C. Escher, o jogo pede-nos que ajudemos uma princesa a atravessar diversos “monumentos” nos quais o caminho está muitas vezes escondido nas ilusões óticas da geometria. Rodando diferentes secções dos monumentos, abrindo outras ou empurrando e puxando elementos da arquitetura, vamos desvendando o caminho a seguir. A execução mecânica do jogo é incrível e sentimos uma componente quase física de mexer nos elementos do jogo (outro jogo no qual essa interação é também muito física mas que não teve espaço nesta lista, por ser bem mais conhecido, é The Room: Three). Junte-se a magnífica e premiada direção artística do jogo e percebe-se porque Monument Valley esteve presente em praticamente todas as listas dos melhores jogos do ano. Quem já o jogou há muito tempo deve regressar para novos capítulos gratuitos. Para os amantes da beleza e de um bom desafio visual.

Progress to 100 (2,99€)

ProgressTo100

Progress to 100 é o que poderíamos chamar de One Trick Pony mas com uma variação: One Hundred Trick Pony. O objetivo do jogo não podia ser mais simples. Fazer o lado esquerdo do ecrã progredir até ao lado direito. No entanto, esta progressão pode ser feita com o toque de um dedo; com o toque de 10 dedos; com o toque de 11 dedos (cabe-vos descobrir como); a falar; a abanar; a fotografar; a estar calado; a olhar para cima; e até a encostar o nariz ao iPhone ou ao iPad. Progress to 100 usa todas as capacidades possível de um device da Apple e transforma-os numa mecânica, incluindo transformar em mecanismo de jogo a mudança e ativação de determinadas preferências do smartphone ou do tablet. Para os amantes de uma boa gargalhada e de jogos de festa.

Prune (3,99€)

Prune

Tal como nós, existe um limite até onde uma árvore pode crescer. Em Prune, como na vida, cabe-nos saber no que cortar e prescindir para alcançar o nosso objetivo. Os ramos da árvore vão crescendo e ramificando-se, e a nossa função é ir cortando de forma a direcionar o crescimento, que poderá ter que procurar a luz do Sol à direita ou à esquerda, mais acima ou mais abaixo, contornar obstáculos, ou dividir-se em dois. Quando a árvore encontra o sol, floresce, e a partir de um certo número de flores passa para o nível seguinte. Aquilo que é um momento de relaxamento e paz, esconde por baixo um jogo de estratégia que se vai tornando cada vez mais difícil quanto mais progredimos, mas no qual é impossível perder – conceito não aplicável a um jogo destes. Apenas se recomeça com uma nova estratégia e com a aprendizagem dos erros anteriores. Prune é também muito mais que um jogo de puzzle e, ao longo do mesmo vai sendo revelada uma narrativa maior. Para os amantes de um puzzle calmo e comovente.

Tomb of the Mask (Grátis + compras integradas)

TombOfTheMask

Ultimamente têm surgido no ecossistema mobile uma série de jogos que se inspiram em clássicos da história e os transformam em jogos infinitos. Crossy Road, Pac-Man 256 ou Shooty Skies são apenas alguns exemplos desta recente tendência que não dá sinais de abrandar, já que o resultado são jogos extremamente viciantes que se podem jogar durante 30 segundos ou durante horas. A mais recente pérola é Tomb of the Mask, um jogo no qual vamos sempre subindo, mas só o podemos fazer agarrados às paredes. Se ficarmos parados neste labirinto vertical somos apanhados pelo fundo do cenário, mas a rapidez de decisão pode fazer-nos cair numa armadilha ou inimigo. Com um grafismo minimal muito similar ao também genial Downwell, este híbrido de Pac-Man, Tetris e Indiana Jones é um dos maiores e mais recentes vícios dos jogadores em iOS. Para os amantes de ação frenética e imperdoável.

Wedding Escape (Grátis + compras integradas)

WeddingEscape

Escapar à vida matrimonial não é fácil e daí que a expressão “corda na garganta” se tenha popularizado. Nada melhor que um jogo para ilustrar que fugir do altar só é fácil nos filmes e novelas. Enquanto fugimos do padre, da mãe da noiva, da madrinha ou de outra das mais de 60 personagens, cada uma representando um nível, temos que fazer correspondências entre peças num tabuleiro que é uma mistura de vários géneros de jogo de puzzle. Existe aqui um pouco de correspondência de ladrilhos; de combinação de três peças; de mudança de grupos de cores e de outros tipos de jogo de puzzles. Com um conjunto de movimentos limitados temos que conseguir combinar as peças suficientes para escapar a quem nos persegue e passar ao nível seguinte. Quando somos apanhados começa tudo de novo, que a vida não perdoa, mas para ajudar podemos ir adquirindo habilidades especiais que permitem aumentar o número de movimentos, combinar áreas maiores do tabuleiro, entre outros atalhos. Para os amantes de uma combinação de vários géneros de puzzle e para todos os que procuram um novo amor.

Miguel Tomar Nogueira, Rubber Chicken