Só 16% dos portugueses inquiridos para o Estudo Global de Empreendedorismo 2015 consideram a sociedade em que vivem favorável ao empreendedorismo. Esta foi uma das conclusões da sexta edição do estudo, feito pela Amway (uma multinacional norte-americana que trabalha no setor de vendas diretas) e recentemente publicado em Portugal. Um valor que colocou o país em penúltimo lugar (43º) neste aspeto, apenas à frente da Bulgária e longe da média dos 44 países onde o estudo foi realizado.
A forma como os portugueses veem a relação entre o empreendedorismo e a sociedade em que vivem é problemática e coloca entraves à atividade, afirmou Rui Baptista, presidente do Departamento de Engenharia e Gestão do Instituto Superior Técnico em Lisboa e assessor académico do Estudo Global de Empreendedorismo da Amway.
84% dos inquiridos assumiram que a sociedade onde vive não encara positivamente as temáticas relacionadas com o empreendedorismo e com o empreendedor, é desanimador. A questão que se coloca é o facto de Portugal se posicionar em penúltimo numa tabela de 44 países analisados e estar longíssimo da média global e europeia.”
“É complicado avançar com uma carreira empreendedora quando o ambiente não é positivo”, resume. Pelo que, defende, é necessário “pensar em alternativas para alterar a situação e fazer com que a sociedade portuguesa apoie ainda mais e de forma mais clara os seus empreendedores”.
O estudo, realizado pela Amway em conjunto com a Universidade Técnica de Munique e com o apoio do Instituto GfK Research, de Nuremberga (Alemanha), avaliou ainda outros dados, durante o ano de 2015, tais como a atitude dos inquiridos face ao empreendedorismo, a vontade de serem empreendedores, as motivações por detrás dessa vontade e os grandes obstáculos que consideram existir no seu país.
No Algarve, só 16% veem o empreendedorismo com bons olhos
Mais de metade (57%) dos portugueses inquiridos manifestaram uma atitude positiva face ao empreendedorismo. Um valor que, contudo, não apenas desceu face ao ano transato, de 2014 — que se cifrava em 65% —, como continua distante da média dos 44 países analisados no estudo (onde, em média, três quartos dos inquiridos mostraram uma atitude positiva face à atividade empreendedora).
Em termos de distribuição regional, a larga maioria (84%) dos inquiridos que residem no Algarve não veem o empreendedorismo como uma atividade positiva, ao contrário do que acontece nas regiões Norte, Centro, Lisboa e Alentejo, onde 59%, 57%, 60% e 60% dos inquiridos, respetivamente, afirmaram ver a atividade como favorável.
A atividade empreendedora é vista com bons olhos sobretudo pelos portugueses com menos de 50 anos — 61% dos portugueses com menos de 35 anos e 58% dos portugueses com idade compreendida entre os 35 e os 50 anos consideram-na positiva. Contudo, mesmo entre os portugueses com idade superior a 50 anos, cerca de metade (51%) mostrou-se favorável ao empreendedorismo. Esta recetividade é maior em portugueses com estudos superiores (entre estes, 66% têm atitude positiva) do que entre aqueles cuja escolaridade não ultrapassa o ensino secundário (entre estes, 56% veem-na com bons olhos).
Vontade de ser empreendedor em linha com a média europeia
À pergunta “Consegue imaginar-se a começar um negócio?”, 39% dos inquiridos portugueses afirmaram que sim, um valor bastante próximo da média europeia, já que, nos 31 países europeus incluídos no estudo, 38% dos inquiridos, em média, mostraram-se recetivos à ideia de se tornarem empreendedores.
A maior parte dos portugueses que responderam afirmativamente à pergunta tem menos de 35 anos: 45% dos portugueses que responderam ao inquérito e que estão abaixo desse limite etário afirmaram imaginar-se como empreendedores. O valor desce entre os portugueses com idade entre os 35 e os 50 anos (38%) e com idade superior a 50 anos (32%).
Outro dos fatores a influenciar a predisposição dos portugueses para o empreendedorismo é a escolaridade: 57% dos portugueses com estudos superiores mostram-se recetivos a essa possibilidade, um valor que deixa de ser maioritário (37%) entre os que não os possuem.
Em termos regionais, é entre os residentes das regiões Centro (46%), Alentejo (42%) e Norte (41%) que se encontram os portugueses com maior recetividade à ideia. Em Lisboa, apenas 33% dos inquiridos se veem como potenciais empreendedores, valor que, no Algarve, desce para os 12%.
Ser empreendedor para “ser patrão”. Não o ser por “medo de falhar”
Em Portugal, quase metade (45%) dos que se mostraram recetivos a lançar um negócio afirmaram que esta vontade se devia, em parte, à vontade de serem o seu próprio patrão: uma motivação que predomina na maior parte dos inquiridos dos 44 países analisados no estudo.
Já 30% dos inquiridos afirmou que queria lançar um negócio para regressar ao mercado de trabalho. Outros 30% fazem-no por realização pessoal. No caso do regresso ao mercado de trabalho, os portugueses foram os únicos a apontar esta motivação como a segunda principal para a predisposição para o empreendedorismo. Portugal, recorde-se, acabou 2015 com uma taxa de desemprego de 11,8%, enquanto a taxa de desemprego jovem se cifrou em 31%.
Quanto a obstáculos para empreender, mais de dois terços (70%) dos portugueses afirmou que o principal é o medo de falhar. Seguiram-se o receio da crise económica (46% dos inquiridos apontaram-na como obstáculo), os encargos financeiros que poderiam resultar da atividade (38%) e o medo do desemprego (25%).
A general manager da Amway Iberia, Monica Millone, também comentou os resultados, preferindo destacar os dados positivos: estes mostram “o grande potencial que existe em Portugal”, defende. Para alterar a perceção que os portugueses têm da forma como o seu país olha para o empreendedorismo, é preciso que “as instituições, as empresas privadas, o governo, assim como a sociedade em geral” continuem a investir:
A Amway já realiza este estudo há seis edições e é percetível que, apesar de a atitude descer um pouco nos últimos anos, o número de pessoas que procura criar o seu negócio tem-se mantido estável. Isto é um sinal do grande potencial empreendedor que existe em Portugal, mas é preciso dar ainda mais apoio às pessoas, dar-lhes formação e quebrar tabus e são exatamente as instituições, empresas privadas, governo, assim como a sociedade em geral, que têm de continuar a investir.”
O estudo da Amway foi feito através de entrevistas one-to-one e contactos telefónicos, tendo sido utilizada “uma inovadora métrica de análise ao espírito e comportamento empreendedor, baseada na teoria do comportamento planificado do professor Icek Azjen”, segundo explica a empresa, em comunicado.