Dois dos advogados que se apresentaram esta quinta-feira no Campus de Justiça, em Lisboa, para defender dois arguidos da Operação Aquiles foram constituídos arguidos e impedidos de representar os seus clientes, noticia o jornal Público. O Observador apurou que os dois advogados foram constituídos arguidos pela própria Polícia Judiciária, que investiga o caso, antes que se formalizassem representantes legais de outros dois arguidos.
Fonte da PJ disse ao Observador que os dois advogados, Ana Cotrim e Vítor Carreto Ribeiro, são suspeitos de integrarem o grupo criminoso, mas não especificou em que termos. Na operação, que culminou na detenção de dois elementos da Polícia Judiciária e trezes outros suspeitos, estão a ser investigados crimes de corrupção, tráfico de droga, branqueamento de capitais e associação criminosa.
Contactada pelo Observador, a advogada Ana Cotrim não quis recordar como tudo aconteceu. Mas garante que lhe disseram que ia ser constituída assim que se apresentou no tribunal. Só não lhe disseram os crimes de que estará indiciada. “Por quem foi constituída arguida?”, perguntou-lhe o Observador. “Não sei qual o crime que estou a ser indiciada por isso posso por em causa o sigilo profissional e o segredo de justiça. Não lhe vou dizer isso”, disse a advogada. Ao Público, Ana Cotrim disse que os documentos que lhe entregaram mencionam que é suspeita de “prestar informações à organização”.
Fonte da PJ confirmou ao Observador que foram os próprios inspetores da Polícia Judiciária que a constituíram arguida no tribunal, antes que ela fosse oficialmente nomeada advogada de um dos arguidos.
Também o advogado Vítor Carreto Ribeiro, que se apresentou como advogado do inspetor-chefe da PJ Ricardo Macedo, saiu do tribunal como arguido. Vítor Carreto Ribeiro é também advogado do conhecido barão da droga, Franquelim Pereira Lobo — o homem que conseguiu escapar duas vezes à Polícia Judiciária e que era procurado por tráfico de droga quando Carlos Dias Santos, também arguido neste processo, era coordenador da unidade que traficava os crimes de tráfico de droga.
No processo estão agora indiciados 17 suspeitos, entre eles dois responsáveis da Polícia Judiciária, um cabo da GNR e dois advogados, indiciados por corrupção, tráfico de droga, branqueamento de capitais e associação criminosa.
“A minha reputação esfumou-se”
Contactada pelo Observador, Ana Cotrim afirmou que a sua vida profissional, que já leva 36 anos de tribunais, está a ser posta em causa. “A minha reputação esfumou-se toda”, afirmou. A advogada — que também representou um dos arguidos no processo ‘Máfia da Noite’ (que envolvia uma rede liderada por um ex-elemento da PSP suspeita de extorsão a donos de bares em Lisboa) — afirma ter a “consciência tranquila”. “Só posso dizer que há uma fuga de informação distorcida dos factos. Quem não deve não teme. A seu tempo esclarecerei tudo”, disse Ana Cotrim.
O Observador está a tentar contactar o advogado Vítor Carreto Ribeiro. Mas, até ao momento, ainda não conseguiu.