Nuno Morais Sarmento não poupa João Soares no caso das bofetadas e diz mesmo que o ex-ministro da Cultura teve “falta de cuidado” numa “intervenção com alguma arrogância”, mas também confessou vontades semelhantes no tempo em que foi ministro da Presidência do Conselho de Ministros: “A mim apeteceu-me dar dois Murros no Carrilho, quando fui ministro”.

No programa “Falar Claro”, transmitido segunda-feira à noite na Rádio Renascença, o antigo ministro comentava, com Vera Jardim, o caso João Soares e, enquanto o socialista falava na “coibição de linguagem” exigida nas redes sociais, Sarmento admitiu que já lhe tinha passado semelhante ameaça pública pela cabeça, em relação a Manuel Maria Carrilho. O social-democrata não foi mais longe na explicação, mas em 2002 houve uma polémica dura entre ele e Carrilho. Nessa altura, Morais Sarmento atirou a Carrilho: “Não lhe conheço um único escrito, pensamento ou intervenção com preocupação cultural antes de 95. É um novo rico da cultura portuguesa, já havia o novo rico do volfrâmio da guerra”.

A resposta (muito polémica) de Manuel Maria Carrilho veio numa entrevista ao Expresso, em outubro de 2002: “São afirmações que, pelo tom de aparvalhada denúncia com que são ditas, me deixaram perplexo, a pensar no que, afinal, eu teria – ou não? – feito antes de 95. Sempre são afirmações de ministro, pensei, e fui elencar e confirmar artigos, conferências, livros, intervenções, ano por ano, desde meados dos anos setenta. Mas se lá estava tudo, porque obscura razão é que M. Sarmento diz que não?” Carrilho respondeu a si mesmo, lembrando a revelação do passado como toxicodependente do então ministro da Presidência: “Recordei-me das suas próprias palavras, em oportuna e pré-eleitoral confissão televisiva, é aí que podemos encontrar a explicação – e desde logo a antecipada desculpa – dos despautérios de Morais Sarmento, então certamente mais tentado pela assídua frequência do Casal Ventoso do que pela visita a boas livrarias, umas horas de biblioteca ou até, se calhar, pela simples leitura de jornais“.

Já sobre a recente demissão do ministro João Soares, no programa da Renascença, Morais Sarmento reconheceu que o socialista “não deixou de ser ministro por ser um mau ministro da Cultura”. “Agora, ele esqueceu-se que o tempo do Carlos Candal [que escreveu o violento “Breve manifesto anti-Portas em português suave”] já lá vai. A maneira como ele fez já em relação a António Lamas e depois nesta situação mostram uma falta de cuidado e, porventura, uma intervenção com alguma arrogância que não considerou nada disto”.

Vera Jardim, por seu lado, disse que todas as pessoas têm “estados de alma. Mas hoje as condições do exercício do cargo [de ministro], a visibilidade, os facebooks e tudo isto, exigem uma coibição de linguagem e João Soares não a teve. E eu lamento”. “Apesar de todas as condicionantes financeiras podia ter sido um bom ministro”, disse ainda o socialista. Sarmento concordava, que Soares não tinha saído “por ter sido um mau ministro”, mas sim “por ter tratado com os pés assuntos que não podem ser tratados com os pés, têm de ser tratados com as mãos e, por vezes, com pinças”. E colocou duas hipóteses: “Ou acha que estamos num tempo ido, em que as pessoas podiam ter intervenções com esta arrogância, ou então anda muito descompensado por outra razão qualquer, pessoal ou profissional”.

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