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Quem foram os "traidores" e os "misteriosos" da votação do impeachment de Dilma Rousseff

Este artigo tem mais de 5 anos

A ampla margem de aprovação do processo de abertura da destituição de Dilma Rousseff pode ser explicada por dois grupos de deputados, que dificultaram as previsões do governo e de oposicionistas.

Deputados descontentes com Eduardo Cunha votaram de diferentes maneiras no impeachment de Dilma Rousseff
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Deputados descontentes com Eduardo Cunha votaram de diferentes maneiras no impeachment de Dilma Rousseff

Getty Images

Deputados descontentes com Eduardo Cunha votaram de diferentes maneiras no impeachment de Dilma Rousseff

Getty Images

Se há uma palavra que define o resultado da votação da abertura do processo de destituição de Dilma Rousseff, tanto para os deputados a favor como para os contrários ao pedido, é surpresa. A aprovação do impeachment por 367 votos, 25 a mais do que os 342 necessários, superou as expectativas do grupo ligado ao vice-presidente do Brasil, Michel Temer, que esperava uma vitória com uma margem mínima. De fato, as projeções dos jornais Folha de São Paulo e Estadão apontavam uma vitória por até 360 votos.

O governo, por outro lado, contava com o apoio de última hora de deputados de partidos com menor representação na Câmara dos Deputados. As negociações terão ocorrido numa marcação “homem-a-homem”, sem intermediação dos líderes partidários, e envolvia a nomeação de parlamentares para cargos no governo. Durante a votação do impeachment, circulava nas redes sociais uma lista que indicava o apoio certo de pelo menos 140 deputados para travar o processo. Dilma conseguiu reunir apenas 137, que somados às sete abstenções e duas ausências, totalizam 146 votos.

Mas de onde surgiu esta diferença entre os resultados esperados de ambos os lados e o resultado final da votação?

O Observador recuperou os votos dos deputados e comparou com os dados de intenção de votos publicados pelos jornais Estadão e Folha de S. Paulo para descobrir quem foram os “traidores” e os “misteriosos” que contribuíram para dar a surpresa na votação.

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Os “traidores” e os “traidores declarados”

Há alguns deputados, ex-membros do governo Dilma Rousseff, que votaram a favor da abertura do processo de impeachment. É o caso de Mauro Lopes (PMDB), ministro da Aviação Civil até a última quinta-feira. Segundo relata o jornal Folha de S. Paulo, Lopes havia pedido o seu afastamento da pasta para votar contra a destituição de Dilma. No entanto, o deputado votou “sim” ao impeachment, como forma de seguir a orientação de voto do seu partido.

Pelo povo de Minas e esperando o crescimento do transporte nesse país, que está muito ruim, quero dizer do fundo da minha alma, pela minha mulher, pelos meus filhos e netos e pela minha querida Caratinga, meu voto é sim”, declarou Lopes.

Outro exemplo é Alfredo Nascimento, ex-ministro dos Transportes, que teve de abandonar a pasta em 2011, primeiro ano do primeiro mandato de Dilma Rousseff. O deputado também é presidente do PR, partido que havia decidido dar liberdade de voto para os seus parlamentares.

Durante a votação, Nascimento anunciou que renunciava o comando do partido porque gostava de manifestar-se contra Dilma Rousseff.

Em respeito ao meu partido, aos meus colegas parlamentares, quero comunicar esta Casa que renuncio ao mandato de presidente do Partido da República por dar o meu voto de forma diferente”, disse.

O jornal Estadão cita ainda o deputado Adail Carneiro (PP), que esteve com Dilma Rousseff no Palácio da Alvorada no sábado. O deputado terá prometido votar contra o impeachment — promessa não cumprida no domingo. Na contabilidade do governo, os deputados Nelson Meurer (PP) e Toninho Wandscheer (PROS), também votariam contra o processo, mas acabaram por votar a favor.

Durante a votação, houve ainda espaço para “traições declaradas” de deputados que já haviam anunciado uma posição contrária ao partido no qual estão filiados. É o caso de Leonardo Picciani, líder do PMDB na Câmara dos Deputados. Em nome do partido, o deputado falou no seu discurso que o sentido de voto do PMDB seria a favor da abertura do processo. O parlamentar, contudo, votou contra o impeachment, uma decisão já conhecida pela direção do PMDB.

Picciani é um aliado do governo Dilma e terá tentado convencer parlamentares do partido a travar o processo, movimentação que lhe pode custar a liderança na Casa Legislativa.

Os “misteriosos” que criaram suspense até o último momento

Os motivos são diversos: medo de posicionar-se diante da opinião pública, medo de receber represálias dentro do partido, criar um fator de imprevisibilidade para a votação, receber assédio dos meios de comunicação social, esperar a melhor oferta de grupos de Dilma Rousseff e Michel Temer. Os “misteriosos”, deputados indecisos ou que não se pronunciaram publicamente sobre a abertura do impeachment antes da votação, criaram suspense até o último momento na Câmara dos Deputados.

Feitas as contas, dos 24 deputados que se declararam indecisos ou que não quiseram revelar o seu voto antes de domingo, 16 votaram a favor da destituição de Dilma Rousseff, enquanto oito votaram contra.

Entre os 16 deputados, encontravam-se integrantes do autointitulado grupo “Nem Dilma nem Cunha”, parlamentares que pertencem a partidos a favor do impeachment, mas que não queriam legitimar o processo conduzido pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. No entanto, acabaram por seguir a orientação de voto dos seus partidos, favoráveis à abertura do processo.

Faz parte deste grupo o deputado Júlio Delgado, filiado no PSB. Em entrevista a Folha de S. Paulo, Delgado já se havia pronunciado sobre a sua dúvida. “Minha tendência é seguir o meu partido, mas essa tese da falta de legitimidade do Cunha é forte”, afirmou.

Do outro lado, Ronaldo Lessa, filiado no PDT, votou contra o impeachment, após dias de indecisão.

Não sei se até o final da tarde de hoje eu anuncio meu voto. A inclinação principal é votar com a orientação do partido. Mas ainda não decidi. Me preocupo com ruptura de um mandato. Para tirar tem que estar bem calçado de que houve crime. A questão política não pode se sobrepor à jurídica”, revelou, em entrevista ao site G1, dois dias antes da votação. Lessa foi o último parlamentar a votar no domingo.

Um pequeno contraponto a favor de Dilma: os abstencionistas

A poucos minutos do início da votação, grupos favoráveis à destituição de Dilma Rousseff temiam a ausência de dez dos 513 deputados na Casa Legislativa. Com um iminente resultado renhido, as ausências favoreceriam o governo ao dificultar que se chegassem aos 342 votos necessário para aprovar o impeachment. O jornal Estadão relatou que durante o início da sessão, pessoas próximas do vice-presidente, Michel Temer, terão estado à caça dos deputados que se encontravam ausentes.

Resultado: houve apenas dois deputados ausentes na votação. Clarissa Garotinho (PR) justificou a sua ausência ao jornal Extra ao dizer que estava afastada da Casa Legislativa por uma questão de saúde. “Há 10 dias, passei mal em Brasília e fui levada para o departamento médico da Câmara. Lá fiquei em observação por uma hora e fui submetida a um eletrocardiograma. Na terça-feira desta última semana fui consultada pelo médico que acompanha o meu pré-natal e ele solicitou a licença-maternidade”, disse.

Aníbal Gomes (PMDB) também utilizou a mesma justificativa. “O deputado Aníbal Gomes passou por uma cirurgia delicada na coluna e está internado na UTI, por isso está ausente”, explicou Leonardo Picciani, líder do PMDB na Câmara dos Deputados, durante a votação.

Houve, no entanto, um pequeno contraponto que pesou a favor de Dilma Rousseff. Tratam-se dos sete parlamentares que optaram por abster-se durante a votação.

Foi o caso de Pompeo de Mattos (PDT), que afirmou ser contra a corrupção ao se abster. “Nem Dilma, nem Temer, nem Cunha. Quero eleições limpas e honestas”, declarou durante a votação.

Já o secretário estadual de Transportes, Sebastião Oliveira, filiado no PR, votou pela abstenção depois de adiar 24 horas o seu pedido de afastamento do governo, de modo a beneficiar a presidente. Outro caso é o do deputado Beto Salame (PI), que já foi destituído da direção do partido no estado do Pará após abster-se da votação, segundo avança a revista IstoÉ Dinheiro.

Desobediências por partido

Segundo aponta a agência Aos Fatos, dos 137 votos contrários à destituição de Dilma Rousseff, apenas os deputados do PT, o PC do B e o PSOL seguiram o sentido de voto dos partidos.

Entre os partidos que fazem parte da base de governação, o PDT foi o menos desobediente: 6 dos 19 deputados do partido votaram “sim”. No PR, a taxa de desobediência sobe para 26 de 40 deputados e no PSD, para 29 de 37 parlamentares.

O fenómeno repetiu-se de maneira mais tímida ente os partidos da oposição. PSDB, DEM, PRB, Solidariedade, PSC, PV e PMB votarão todos a favor do impeachment. No PP, houve opositores à decisão: sete deputados votaram “não” ou abstiveram-se. O partido já abriu um processo disciplinar contra os parlamentares.

 
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