O analista político Jaime José Macuane foi baleado nas pernas por desconhecidos, esta manhã em Maputo, tendo sido deixado abandonado na estrada. Macuane está internado numa clínica privada na capital de Moçambique.
A notícia começou por ser avançada pela Folha de Maputo que adiantou que o politólogo fora atingido esta segunda-feira por “indivíduos desconhecidos”, divulgando mesmo uma imagem do analista político que terá sido baleado na zona de Marracuene, em Maputo. A mesma imagem que está a ser divulgada no facebook do CanalMoz.
Jaime José Macuane faz comentário político todos os domingo no programa “Pontos de Vista” da STV, um canal televisivo moçambicano que entretanto confirmou o ataque, tem 42 anos, é doutorado pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, da Universidade Cândido Mendes e é professor na faculdade de Ciência Política e Administração Pública da Universidade Eduardo Mondlane. É especialista em questões relativas ao poder local em Moçambique.
Uma investigadora portuguesa do Instituto dos Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa, professora associada na mesma universidade de Moçambique, é amiga de Macuane e escreveu na sua página de facebook que o analista político moçambicano já tinha falado do risco que correria. Elisabete Azevedo contou: “O José Jaime já me dizia há muito que um dia seria ele e eu temia mas animava-o e dizia-lhe que não. Há umas semanas estivemos juntos e disse-lhe para ter cuidado. Riu-se e disse ‘se forem para me apanhar, apanham-me sempre’. Repeti ‘tem cuidado’”. “Vão começar a matar-nos nas ruas”, terá dito ainda Macuane à amiga sobre a intervenção policial (das Forças de Intervenção Rápida moçambicana) num comício das eleições municipais na Beira.
Há cerca de um ano foi atingido nas ruas de Maputo, bem no centro da cidade, o constitucionalista Gilles Cistac, acabando por morrer já no hospital. O professor catedrático de Direito Constitucional na Universidade Eduardo Mondlane era um defensor da autonomia da Renamo para gerir as províncias do país em que tinha vencido as eleições, um debate intenso no país que já nessa altura vivia grande tensão (que existe desde 2012) entre o braço armado do partido da oposição e o exército. O conflito político-militar entre Frelimo (o partido do poder) e a Renamo não tem abrandado desde então, com o líder da oposição, Afonso Dhlakama, escondido na base da Gorongosa desde 2012.
Na altura, o presidente da Comissão Nacional dos Direitos Humanos, Custódio Duma, afirmou à AFP que se tratou de “uma afronta ao Estado de direito e à liberdade de expressão. Gilles Cistac é uma pessoa conhecida, com opiniões bem vincadas. Isto mostra a insegurança total em que vivemos: qualquer um pode ser abatido pelas suas opiniões”.