O Porto vai disponibilizar um espaço municipal para que as obras de Miró detidas pelo ex-BPN possam ser expostas em permanência no Porto. O anúncio foi feito esta segunda-feira nos Paços do Concelho. Rui Moreira disse já ter falado com o ministro da Cultura e, já nos próximos dias, técnicos do ministério vão deslocar-se à cidade para ver alguns espaços disponíveis.

O presidente da Câmara não quis precisar que espaços municipais estão livres e que podem ser a solução para que as obras do artista catalão (1893-1983) tenham uma visibilidade permanente, como deseja o ministério. Um dos maiores projetos da cidade é o Matadouro Industrial, em Campanhã, para o qual ainda não existem coleções anunciadas. A abertura está prevista para meados do próximo mandato, que se inicia em 2017. Ali bem perto, na Quinta da Lameira, ficará um futuro centro de exposições arte contemporânea, com uma coleção já destinada, mas que Rui Moreira disse, no passado, querer articulada com o Matadouro.

Para o presidente da Câmara ainda é cedo para falar sobre como serão divididos os custos de manutenção do futuro museu, ou se este será um museu municipal ou nacional. Urgente era responder ao ministro da Cultura, Filipe Castro Mendes, que numa entrevista publicada este fim de semana pelo Público, e numa ótica de descentralização, disse: “O nosso desejo é que [as obras] fiquem no Porto, assim o Porto responda.”

Não precisou, no entanto, de quantos quadros se está a falar, uma vez que o Governo ainda não decidiu se fica com as 85 obras, ou se irá alienar algumas. Entre a coleção encontram-se, por exemplo, “Mulheres e Pássaros”, óleo sobre tela pintado em 1968 que a leiloeira Christie’s destacou, quando marcou o leilão das 85 obras para fevereiro de 2014 (e que nunca se chegou a realizar). Por esta obra estimava arrecadar entre quatro e sete milhões de libras, entre 4,8 milhões de euros e 8,4 milhões de euros.

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miro Femmes et oiseaux mulheres e pássaros

“Femmes et Oiseaux”, em português “Mulheres e Pássaros”, um dos 85 quadros de Miró detidos pelo Estado Português

Em dezembro, João Soares, na altura Ministro da Cultura, disse ter proposto à Fundação de Serralves que a primeira exposição das obras do catalão acontecesse nas instalações do museu, situado no Porto, já no outono que se aproxima. Serralves está a trabalhar com o ministério na delineação da mostra. Mas é certo que o museu de arte contemporânea não será o destino permanente desta coleção, que Rui Moreira considera ter “coerência”.

As reuniões de trabalho e visitas técnicas do ministério da Cultura “começam nos próximos dias”, confirmou ao Observador o gabinete de Castro Mendes. “As decisões sobre o espaço serão tomadas em diálogo com a Câmara Municipal do Porto.

Há dois anos que o Porto luta pelos Mirós

Os 85 quadros de Miró eram propriedade do ex-Banco Português de Negócios (BPN). O banco foi nacionalizado em 2008 e as obras estão sob tutela da Parvalorem e da Parups, sociedades anónimas de capitais públicos criadas em 2010 pelo Estado para gerir os ativos e recuperar créditos do BPN. Na mesma entrevista ao Público, Castro Mendes disse que os quadros estão, por isso, “na esfera pública” e que tal não implicou qualquer gasto.

Há dois anos, o Governo PSD/CDS quis vender as 85 obras e a leiloeira Christie’s organizou um leilão em Londres. Na mesma altura, a Câmara Municipal do Porto foi contactada por um investidor americano de origem angolana, interessado em comprar a coleção e expô-la no Palacete Pinto Leite. Na altura, Rui Moreira chegou mesmo a suspender a venda do Palacete Pinto Leite, uma vez que estava disposto a ceder o espaço para acolher as obras, recordou aos jornalistas. No entanto, Passos Coelho, na altura Primeiro-Ministro, disse já existir um compromisso com a Christie’s e recusou essa solução, que deixaria os Mirós expostos em Portugal.

Rui Moreira revelou ter falado da mesma proposta com João Soares, quando este assumiu a pasta da Cultura, em novembro do ano passado. Mas este terá manifestado a vontade de não vender os quadros. “O que é importante é, finalmente, o Governo dizer que quer a coleção no Porto. Nós também”, concluiu o autarca.