Não é difícil encontrar festivaleiros com mais de 30 anos de idade que digam mal do Sudoeste. Porque “aquilo é só miúdos”, porque “a música não presta”, porque “dantes é que era bom”.

Dez anos depois de ter estado pela primeira vez na Herdade da Casa Branca, na Zambujeira do Mar, regressei a um recinto que agora está forrado com relva (verdadeira), onde há Wi-Fi gratuito por todo o lado (literalmente) e onde é muito mais seguro acampar, com condições para manter a higiene em dia e até aprender a cozinhar. Também já não é preciso levar a casa às costas, basta fazer uma encomenda online para que o supermercado chegue até ao campismo.

Ali circula-se sem grandes atropelos e é mais fácil transitar entre a praia e o rio (canal). Também há sombras que chegam para dormir boas sestas no parque de campismo. De vez em quando dá para ir andar de carrossel, jogar matraquilhos, comprar uns óculos de sol ou uma peça de roupa. Ou reforçar o stock de preservativos. Ou promover a consciência ambiental, ajudando na recolha de plásticos – que são cada vez menos, já chegou aqui a (boa) moda dos copos reutilizáveis.

E se ainda houver energia e apetite, é possível assistir a espetáculos de música. Não deve ser difícil aos que passam ali nove dias de férias, esquecerem-se que estão num festival de música, por onde passam (atualmente) nomes nacionais e internacionais da cena comercial. É verdade, a música no Sudoeste é muito diferente do que era antes, mas não é por acaso: é o que aquele público gosta e quer ouvir. Ponto.

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Já que falamos de música, o MEO Sudoeste tem o melhor palco que me lembro de ver em Portugal. É um dos mais bonitos e tem um som incrível, de fazer inveja aos festivais mais “eruditos” – muito por conta do terreno plano e aberto, já que o som projetado quase não é refletido.

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O MEO Sudoeste é, desde sempre, um ritual de iniciação, o primeiro dos festivais. A festa começa no campismo, muito antes dos espetáculos e, para muitos, é a única festa. Há quem nunca saia dali, um espaço de muitos hectares onde os pinheiros e eucaliptos dão sombra a quase todos.

Nos socalcos do terreno que desce até ao canal, reina uma espécie de caos ordenado. Os espaços estão divididos por lotes, de que as “tribos” se apoderam, com mais ou menos imaginação e bom gosto. Espalham bandeiras (portuguesas, espanholas, inglesas) e “cartazes” mal-amanhados com dizeres e piadolas e palavrões, gritos de irreverência juvenil para quem quiser ouvir. O espírito é o da boa vizinhança, é fácil meter conversa, os sorrisos são fáceis e sempre a jeito para a fotografia.

Este é um sítio que tem no ar o cheiro dos excessos próprios da idade, onde para fazer amigos basta perguntar “o que estás a beber?” e logo se oferece um golo ou a sugestão de um penálti. Seja qual for o combustível, são amizades que tem a duração de um fósforo ou que ficam para a vida.

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A presença das marcas é fundamental para que tudo isto aconteça, são elas o sustento que permite que estes nove dias custem apenas 95 euros. São os patrocinadores que, em conjunto com a Música no Coração (a promotora do festival) refinam a experiência global, projetando-se de forma mais ou menos direta.

Conversamos com Miguel Guerra, o responsável pelos Patrocínios e Eventos da MEO, que nos falou da importância estratégica do Sudoeste para a operadora, na preocupação em continuar a melhorar as condições do festival e do campismo – no conforto e segurança -, no desafio e investimento tecnológico, no peso da responsabilidade e até sobre as escolhas musicais.

Foi uma entrevista que decorreu em ambiente descontraído, perto do palco principal, entre espetáculos. Vale a pena ouvir, para compreender o que é hoje o MEO Sudoeste e porque é que, sem patrocinadores ativos, não é possível fazer um festival desta dimensão em Portugal.

https://soundcloud.com/observadorpt/miguel-guerra-meo-sudoeste-2016

O culto da “tribo”. Os sinais estão por todo o lado, na simbologia e estética do festival, nas penas que desenham o palco, nos totens e tabuletas espalhados pelo recinto, nas pinturas faciais e na atitude com que os adolescentes e jovens adultos acolhem a Zambujeira do Mar para umas miniférias.

Em 19 anos o MEO Sudoeste mudou muito, transformou-se num autêntico parque de diversões, onde a música é um pretexto servido em condições exemplares. As luzes disparadas para o céu e os símbolos dos patrocinadores projetados nas árvores são apenas um reflexo necessário, porventura excessivo, do que é preciso para fazer deste festival uma experiência inesquecível. Tivesse eu 20 anos, outra vez.