O historiador José Pacheco Pereira alertou hoje para os “enormes riscos” da revolução digital para os órgãos de comunicação social e para o próprio funcionamento da sociedade, considerando que há uma “quebra de importância do trabalho do jornalismo“.

O professor universitário e comentador falava como orador principal de uma conferência sob o tema “Revolução digital e jornalismo. Que futuro para as empresas de média?“, organizada pela Lusa, durante o Fórum nacional de tecnologia “Techdays” que está a decorrer em Aveiro.

Pacheco Pereira referiu que a procura da informação e das notícias está a ser substituída muitas vezes por “formas de entretenimento ou pela transformação dos jornais em revistas de ensaio”, sublinhando que “quem lê um jornal, quem procura informação, procura notícias em primeiro lugar” e que “a notícia continua a ser o cerne da atividade do jornalismo”.

A atividade do jornalista continua a ser a de alguém que tem uma carteira profissional, que aprendeu um conjunto de regras e que é suposto dar à informação em bruto o contexto que a transforma em informação qualificada e provinda de um jornal e isso é válido na rede, nos jornais e nas televisões. E isso está em risco, em grande parte também pelos mitos associados às redes sociais e à internet”, disse.

O historiador referiu-se ainda ao chamado “jornalismo de cidadão”, defendendo que “o valor das imagens e da informação pode ser utilizado, mas tem que ser mediado e contextualizado por um jornalista”, e chamou a atenção para a falta de moderação dos comentários nos sites dos jornais.

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“Não compreendo porque é que os jornais moderam os comentários quando estão colocados numa página de jornal e depois abrem um site no Facebook onde tudo é possível escrever, sem qualquer espécie de moderação, em nome do princípio de que todas as pessoas têm o direito à palavra”, disse.

Por outro lado, Pacheco Pereira chamou a atenção para a necessidade de fazer um investimento “muito significativo” em redações que atuem em tempo real nos meios digitais, considerando que não tem nenhum sentido ter um órgão de comunicação social online que não funcione 24 horas por dia.

Pegando no exemplo de um terramoto, ocorrido há cerca de um ano, que foi sentido por pessoas que estavam acordadas às 04:00 da manhã, disse que “demorou uma hora até que o primeiro site de um jornal fizesse uma primeira referência ao terramoto, sendo que as pessoas estavam preocupadas para saber se havia réplicas e qual era a dimensão do terramoto”.

Alertou ainda para a “grande diferença” entre um texto num jornal e num ecrã de um tablet, smartphone, ou computador, realçando que o espaço físico que o texto ocupa é relevante, em especial para os mais velhos.

Nem toda a gente lê da mesma maneira e há limitações físicas que têm a ver com os nossos sentidos quanto ao conforto em ler em determinados meios”, disse.