O boneco da Michellin e o palhaço triste do Pierrot. Eis os dois personagens capaz de atraiçoar a infância de qualquer um de nós. Ao longe, até parecem ser engraçados. Ao perto, é um susto em matéria de aparência e aspecto. Feios, ponto. Ao longe, United e City prometem um jogo entusiasmante. Ao perto, é assustador o que 22 homens fazem com a bola. Sobretudo na primeira parte, sem rei nem roque entre passes malucos, ideias sem sentido e mais umas quantas palhaçadas. É isso mesmo, o Pierrot está em Old Trafford.

Se Guardiola escolhe um onze sem graça por aí além, com uns quantos Michellin, já Mourinho inclui quase toda a malta da pesada — só sente a falta de Mkhitaryan, Martial e Rooney. De todos os 22 em campo, a alegria é abaixo de zero. Não há genica, não há nada. À excepção do árbitro. Na apresentação das equipas, ainda a meio-campo, Mike Dean aproxima o nariz do peito de um dos fiscais-de-linha e faz uma cara de aaarghhhh, isto cheira mal. Acto contínuo, gargalhadas mil. Os jogadores nem reparam e apertam roboticamente as mãos uns dos outros. Play bal, lets go. Preparem-se para 45 minutos enfadonhos. Só para ver, a primeira oportunidade (que até nem é um remate à baliza) só aparece aos 36 minutos, numa interessante descida de Shaw pela esquerda. O cruzamento apanha o acrobata Ibrahimovic, cujo pontapé é travado in extremis por Otamendi. Quando se apita para o intervalo, há quem esteja a dormitar nas bancadas.

No recomeço, o United entra mais espigadote, como que a justificar o factor casa. Pogba atira ao poste, com uma mãozinha de Caballero, aos 49′, na sequência de uma marcação primorosa de Ibrahimovic. Isto promete. Ai promete, promete. O City encolhe-se, inesperadamente. Para quem ganhara em Old Trafford há coisa de um mês, o onze de Pep está só para cumprir calendário. O United aproveita, claro. Pogba atira ao lado, aos 50′, a concluir uma jogada individual de Rashford, e Mata obriga Caballero a socar uma bola venenosa, aos 51′. Cresce a emoção, o golo está aí à mão de semear.

Yup, é de Mata. Aos 54 minutos, Ibrahimovic aguenta a pressão de Otamendi numa bola pelo ar e serve Mata. O espanhol atira e sai a festejar. Juan Mata. De um lado, campeão europeu sub-19 (2006), campeão mundial AA (2010), campeão europeu sub-21 (2011) e campeão europeu AA (2012). Do outro, Taça do Rei (Valencia-2008), Taça de Inglaterra, Liga dos Campeões (Chelsea-2012) e Liga Europa (Chelsea-2013). É isso mesmo, Juan Mata goza da particularidade de ter igual número de títulos na selecção espanhola e nos clubes, 4-4. E é também a transferência mais cara de sempre do Manchester United (45 milhões de euros), em 2013, à frente de Berbatov (37,7) e Rio Ferdinand (35,6), depois de recusado por Mourinho no início da segunda era do treinador português em Stamford Bridge. Sem lugar no onze do Chelsea, apesar de ter sido eleito pelos próprios adeptos do clube o melhor
jogador da equipa nos dois últimos anos (em que levanta a Liga dos Campeões e a Liga Europa), o espanhol Mata chega a Old Trafford como o salvador. Três anos depois, ei-lo nesse papel.

Guardiola inclui Sterling e Agüero no jogo, só que nicles batatóide. O City é uma autêntica nulidade. E faz cerca de zero remates ao longo dos 90 minutos. Nulidade em toda a linha. Um zero bem redondo e totalmente vazio de conteúdo. Um zero como deve ser. Mourinho, esse, aproveita a Taça da Liga para ganhar élan e afastar a mini-crise. Aquela que é, por direito próprio, de Guardiola, com um total de três derrotas e dois empates nos últimos cinco jogos. Imagine-se a cara do Pierrot se ouvisse isto.

Old Trafford, em Manchester
Árbitro: Mike “desodorizante” Dean
United: De Gea; Valencia, Rojo, Blind e Shaw; Carrick e Herrera; Mata (Schneiderlin, 73′), Pogba e Rashford (Lingard, 81′); Ibrahimovic. Treinador: José Mourinho (português)
City: Caballero; Maffeo, Otamendi, Kompany (Kolarov, 46′) e Clichy; Aleix Garcia, Fernando e Nolito (Agüero, 71′); Navas, Iheanacho e Sane (Sterling, 64′). Treinador: Pep Guardiola (espanhol)
Marcador: 1-0, Mata (54′)

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