Tippi Herdren: este nome diz-lhe alguma coisa? Os mais cinéfilos recordá-la-ão como a atriz de um dos mais míticos filmes de Alfred Hitchcock, ” Os Pássaros”. Os outros ficaram agora a saber que acusa um dos mais icónicos realizadores de cinema do século XX de abuso sexual.
Agora com 86 anos de idade, a antiga musa de Hitchcock, falecido em 1980, acaba de editar um livro de memórias, intitulado Tippi, que chega às bancas esta semana e ao qual o The New York Post teve acesso. Nele a atriz, que atingiu o estrelato depois de ter entrado no filme “Os Pássaros”, em 1963, assegura que, nos seis meses em que decorreu a rodagem do filme, sofreu sucessivos abusos por parte do diretor, acrescentando ainda que este a intimidava e era cruel para com ela.
Herdren, que é mãe da também atriz Melanie Griffith, revela ainda que os comportamentos obsessivos por parte de Hitchcock acontecim quando este a via a falar ou a rir-se para outro homem. Os atores com quem contracenava, especialmente Rod Taylor, estavam proibidos de tocar-lhe ou sequer falar com ela. O diretor de cinema tornava-se “muito frio” e “irritável” ficando a olhá-la “fixamente de uma forma inexpressiva, incluindo se no mesmo momento estava a falar com outro grupo de pessoas do outro lado do set de rodagem”.
Tippi, que foi descoberta por Hitchcock num anúncio de televisão, conta ainda que só agora revela todo o sofrimento que viveu porque não queria comprometer a sua carreira cinematográfica. Além disso acrescenta que na época ninguém iria acreditar na sua versão dos factos. “Quem dos dois era mais valioso, ele ou eu?”
No entanto, existiam rumores de que Hitchcock poderia estar apaixonado por ela, algo que Tippi Herdren contraria veementemente:
“Não sei como chamar àquilo, mas não é amor, de certeza. Quando se gosta de alguém, trata-se bem. Estamos perante uma mente [a de Hitchcock] incompreensível. Era malvado, perverso, e quase que perigoso”.
A situação entre ambos era tão tensa que Tippi conta um episódio onde a sua colega Suzanne Pleshette foi até junto dela para a animar, dizendo que as rodagens iriam ser sempre assim.
A atriz conta ainda outra situação que aconteceu no set de rodagens do filme “Os Pássaros”, onde o diretor de cinema a levou à exaustão. Hitchcock terá dito que, na cena final do filme, usar-se-iam aves falsas. No entanto isso não aconteceu. “Nem sequer o melhor treinador do mundo conseguia controlar cada movimento dos animais, especialmente quando estamos perante uma situação de stress” conta a atriz. “Foi brutal e desagradável”, descreveu Tippi ao relembrar este caso em concreto.
Tippi recorda esses cinco dias de rodagem como uma verdadeira tortura, recordando que quase perdeu a visão de um olho numa das cenas. As situações perturbantes sucediam-se e a atriz começou mesmo a ter pesadelos. Quando foi examinada por um médico, este aconselhou-lhe repouso durante uma semana, recomendação que Hitchcock não aceitou, o que deixou o médio incrédulo: “Estás a tentar matá-la?”.
Um escritório com camarim
Um ano depois da rodagem de “Os Pássaros” Tippi Hedren voltou a trabalhar com Hitchcock em “Marnie” e, nessa altura, tudo recomeçou. E de acordo com as memórias agora publicadas, de forma sexualmente mais explícita. Durante a rodagem, ordenou que o seu escritório tivesse acesso direto ao camarim da atriz, onde chegou a entrar várias vezes sem permissão e a colocar as mãos em cima de Tippi. “Era sexual e perverso. Quanto mais me impunha, mais agressivo ele ficava”.
No entanto, e apesar de todas estas agressões físicas e psicológicas que Tippi diz ter sofrido por parte de Alfred Hitchcock, ambos mantiveram contacto nos anos seguintes, mesmo não tendo a atriz voltodo a rodar um filme com o diretor de cinema.
Em 2012 um telefilme da HBO, “The Girl”, abordou a agitada relação entre ambos, mas é a primeira vez que atriz fala em concreto sobre o assunto.
Depois de “Marnie” a atriz continuou a sua carreira, mas nunca mais conseguiu tanto sucesso como quando rodou com Hitchcock. Hoje Tippi Hedren considera que a sua missão foi demonstrar que “Hitchcock pode ter arruinado a minha carreira, mas nunca permiti que arruinasse a minha vida”.