A Liga Portuguesa Contra o Cancro estima que haja 350 mil sobreviventes de cancro em Portugal. Nos próximos anos, a taxa de sobrevivência vai continuar a aumentar — e a de incidência da doença na população também.
“Há cerca de 350 mil sobreviventes de cancro em Portugal” no decorrer dos últimos 20 anos, disse à agência Lusa o presidente do Núcleo do Centro da Liga, Carlos de Oliveira, que é também o responsável pela organização do 2.º Congresso Nacional de Sobreviventes de Cancro, que se realiza em Coimbra, nos dias 11 e 12.
Atualmente, há 50 mil novos casos por ano em Portugal, sendo que a taxa de mortalidade, cinco anos após o diagnóstico, ronda “os 50%”, informou.
No entanto, a taxa de sobrevivência deverá continuar a aumentar, bem como a incidência da doença na população portuguesa, resultante de vários fatores, nomeadamente “o envelhecimento da população” (a maioria dos cancros aparece em pessoas idosas) e “as alterações do estilo de vida”, explanou Carlos de Oliveira.
Com a necessidade de debater e partilhar várias questões relacionadas com os sobreviventes de cancro, a Liga vai organizar o seu segundo congresso dedicado ao tema.
No evento, serão debatidos problemas que os sobreviventes enfrentam no acesso ao mercado de trabalho, nas baixas médicas e pedidos de aposentação, em obter ou renegociar empréstimos bancários e em fazer seguros, enumerou o responsável.
Os problemas com empréstimos bancários ou seguros podem surgir não apenas em doentes ou em sobreviventes, mas também em pessoas portadoras de mutações genéticas que aumentam o risco de cancro.
A coordenadora da Consulta de Risco Familiar de Cancro da Mama e Ovário do Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa, Fátima Vaz, sublinha que as companhias de seguro e bancos não podem ter acesso “à informação genética dos seus clientes, nem podem pedir a análise genética”.
Com a exposição pública dos casos de cancros hereditários, os bancos e seguradoras passaram a saber destas situações, sendo que a especialista aconselha os portadores das mutações a omitirem a informação.
“Podem e devem omitir, mesmo que na declaração [num contrato com um banco ou seguradora] diga que, pela sua honra, não está a omitir informação”, sublinhou a especialista da área.
Também no Congresso, vai discursar Lèlita Santos, diretora da Unidade de Nutrição e Dietética do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), que pretende alertar para as “ideias pré-concebidas na alimentação, em particular relativamente ao cancro”.
Segundo a especialista, as “pessoas vão muito à internet, sem saber procurar os locais com informações mais fidedignas”.
De acordo com Lèlita Santos, a alimentação variada é fundamental, não se devendo abraçar uma dieta “fundamentalista”.
“É a mistura de alimentos que faz uma alimentação saudável. O conceito errado é o fundamentalismo de se abolirem coisas da dieta ou só se comerem determinados alimentos”, realçou, atendendo que há determinados tratamentos que podem levar a alguns ajustes à dieta.
Para a responsável da unidade do CHUC, os doentes e sobreviventes de cancro devem manter uma alimentação “muito perto da que se chama classicamente como a alimentação mediterrânea”, evitando gorduras saturadas, enchidos e carnes vermelhas, excesso de açúcares e sal, bem como bebidas alcoólicas em excesso ou alimentos muito tostados.
O Congresso Nacional de Sobreviventes de Cancro realiza-se no Hotel Vila Galé, sendo que os interessados em participar podem inscrever-se gratuitamente, até sexta-feira no ‘site’ da Liga.