Uma startup de Coimbra desenvolveu o CoolFarm, um sistema de controlo aplicado a estufas, que pretende ajudar a agricultura a ser mais eficiente, através de código, inteligência artificial e sensores que percecionam o crescimento e saúde das plantas.
Antigamente, regava-se e esperava-se pelo melhor, fertilizava-se e esperava-se que estivesse tudo bem. Hoje, com mais conhecimento, a agricultura larga a enxada da mão e abraça as potencialidades que advêm da tecnologia, que permite a um produtor “perceber melhor o que as plantas precisam”, disse à agência Lusa a bióloga da CoolFarm, Sabrina Carvalho.
Foi a pensar nessa evolução da agricultura, com um cada vez maior uso de estufas horizontais e verticais, que o CoolFarm foi desenvolvido para ajudar os agricultores a produzirem com “precisão”, através de sensores óticos, computadores industriais, ‘software’ de inteligência artificial e ligação à Internet.
O sistema, que pode ser aplicado a qualquer estufa que exista, dá ele próprio a água e os nutrientes que as plantas precisam, garante que não há desperdícios de recursos e possibilita que um produtor esteja a controlar dez hectares de estufas a partir do ecrã do seu computador, sublinha Sabrina Carvalho.
“O CoolFarm diferencia-se dos outros sistemas de controlo porque está consciente da presença das plantas dentro da estufa. Consegue ver as plantas a crescer, passa a informação para o utilizador, mas, ao mesmo tempo, usa essa informação para a tomada de decisão no controlo das plantas”, sublinha o diretor-geral da ‘startup’, Gonçalo Cabrita.
Para isso, o CoolFarm funciona através de dois componentes principais: o cérebro e os olhos.
O cérebro, explica o engenheiro eletrotécnico especializado em robótica, é um computador industrial, onde corre todo o ‘software’ de controlo e de inteligência artificial para tomadas de decisão. Tudo o que está ligado à estrutura das estufas está ligado ao computador, permitindo controlar a luz, água e nutrientes, bem como enviar notificações e alertas para o agricultor ou corrigir por ele próprio os níveis determinados.
Os olhos são uns sensores óticos, instalados dentro das estufas, que “conseguem ver as plantas a crescer e o estado de saúde” daquelas, enviando depois essa mesma informação ao utilizador, aclara.
Passados quase três anos desde a sua criação, a empresa prepara-se para iniciar as suas primeiras vendas em 2017, com instalações previstas em Lisboa, Paris, Londres e em alguns locais na Alemanha.
A atenção pela tecnologia desenvolvida em Coimbra ultrapassa as fronteiras europeias e recolhe ainda interesse nos Estados Unidos, na China ou até na Singapura, referiu Gonçalo Cabrita, informando que têm também registado interesse na aplicação da tecnologia em áreas, como a produção de microalgas, aquacultura ou até em estações de tratamento de água.
Nos laboratórios em Torres Novas da CoolFarm está Sabrina Carvalho, bióloga especializada em sensores, que vai acompanhando nas duas pequenas estufas situadas na zona industrial as diversas experiências do sistema com a produção de diferentes vegetais e ervas aromáticas.
“A tecnologia veio colmatar os nossos erros e a maneira como fazíamos antigamente”, nota, sublinhando que a produção em estufas verticais, que tem vindo a ganhar cada vez mais interesse, vem permitir o desenvolvimento da agricultura em meios urbanos.
“Há uma resistência de introdução de novas tecnologias [na agricultura] e, até há poucos anos, a tecnologia implicava sementes geneticamente manipuladas ou químicos. Agora, a agricultura despertou mais para esta vertente tecnológica”, sublinhou Gonçalo Cabrita, encontrando nesta nova forma de fazer agricultura uma oportunidade para se criarem nas grandes cidades produtos “mais frescos” e com uma menor pegada ecológica.