Trabalho é trabalho, mas conhaque é cada vez menos conhaque. Nos dias que correm é difícil desligar do trabalho. Basta ter um smartphone e a tentação de ir responder a um email de trabalho ou, simplesmente, ir lê-lo, já fora do seu horário laboral é grande. Assim como é grande a probabilidade de levar trabalho para acabar em casa ou atender um telefonema fora de horas e resolver um ou outro problema que surja. Mas em França isso deixará de acontecer. O direito a ficar offline já está plasmado na lei do trabalho e entrou em vigor no primeiro dia do ano.
A alteração à lei do trabalho, que entrou em vigor no domingo, obriga que as empresas com mais de 50 trabalhadores garantam aos empregados o “direito a desligarem-se” da tecnologia, implementando “instrumentos de regulação de ferramentas digitais”. Na prática, as empresas terão de negociar um conjunto de direitos com os funcionários sobre quando estes têm de trabalhar fora das horas de trabalho. Caso não se chegue a acordo, a empresa tem de tornar explícitas as exigências colocadas aos seus trabalhadores fora de horas, respeitando o direito a “desligar”, de modo a reduzir a intrusão do trabalho na vida privada.
Esta medida foi aplaudida pelos sindicatos que argumentam que o uso de smartphones faz com que os trabalhadores acabem por trabalhar mais do que as 35 horas semanais.
Também um estudo encomendado em 2015 pela ministra do trabalho Myriam El Khomri concluiu que o uso e abuso do smartphone para consultar o email de trabalho a toda a a hora pode provocar burnout, perturbações de sono e problemas conjugais. Em França, mais de 12% da população ativa sofre de burnout que não é, contudo, reconhecida como doença profissional.
Entretanto, algumas grandes empresas, como a Michelin, a AXA ou a Volkswagen, estão mais à frente e já implementaram medidas que vão no sentido de obrigar os trabalhadores a “desligar”: desde cortar a conexão ao email durante a noite e aos fins de semana, à própria destruição de emails durante as férias dos trabalhadores, como conta o Le Figaro.