A tática “vê” naquele lugar o de segundo avançado — jogando esse mais “à solta” do que o que é primeiro. O holandês Bas Dost (que é o mais avançado dos avançados no Sporting) vê nele um compincha. E Jesus deu-lhe vários compinchas até aqui: primeiro Bryan Ruiz; depois André e Castaignos, à vez. Mas nenhum era para o holandês o que os compinchas (futebolisticamente falando) são ou devem ser.

O primeiro, Ruiz, até é fino de pés, mas quase nunca está lá (tudo o que faz, faz cada vez mais a passo) quando Bas Dost precisa, não o servindo de golos e não partilhando com ele a área — mais que não seja, para “maçar” os defesas e criar espaços para Dost fazer o que melhor sabe. Quanto aos outros dois, André e Castaignos, são quase da mesma posição que o holandês e menos de ser “segundos” o-que-quer-que-seja, chocando com ele — às vezes literalmente — no relvado, não o servindo e muito menos aproveitando o que este lhes serve. É verdade, os golos estão pela rua da amargura para aqueles dois.

Adiante. Esta noite, e com Jorge Jesus a ver o jogo na tribuna de Alvalade por estar castigado, subiu ao relvado Alan Ruiz. E posicionou-se no lugar que tem sido um trinta e um de posicionar. E não é que, até ver, foi o melhor de todos aqueles que treinador do Sporting lá utilizou? Sim, a primeira parte foi dele, Ruiz. E de Dost, que “molharia a sopa” não uma, mas um par de vezes. O que um iniciava, o outro concluía.

Primeira ocasião, primeiro golo. E logo a abrir: 5′. Joel Campbell foi desmarcado (lá está: por Ruiz, que recebeu a bola, atraiu a si as camisolas azuis do Feirense, desenvencilhou-se delas e, nisto, permitiu que o costa-riquenho se desmarcasse) na esquerda, arrancou numa correria doida pelo flanco fora, chegado à esquina da área esperou por um apoio, o apoio que chegou foi o de Bruno César, os dois tabelaram e Campbell isolou-se dentro da área. Depois, cruzou rasteiro, com a bola a “rasgar” entre os centrais do Feirense, e Bas Dost só teve que encostar (“só”, salvo seja; antes, teve que trocar as voltas a quem, marcando-o, lhe respirava no cachaço e “atacar” a bola) nas “barbas” do guarda-redes Vaná.

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OK, não foi um golo de compinchas, a dois — Campbell e Bruno César também intervieram na jogada. Mas o segundo golo foi só deles. É Bas Dost quem, aos 17′, mete a “menina” lá dentro e bisa, mas o mérito do golo é quase todo de Alan Ruiz. Vindo da direita em dribles, e com a bola coladinha na canhota como que por íman, Ruiz foi driblando um, dois — e quem mais da defesa do Feirense que lhe saísse ao caminho –, uns atrás dos outros, até que, chegado à esquina da área — e quando se pensaria que rematasse dali –, o argentino fez um passe rasteiro e a rasgar para o poste contrário. O central Luís Rocha esticou-se todo sobre o relvado, deslizou sobre ele, mas não conseguiu desviar a bola. A bola, essa, chegaria a Dost, que rapidamente e de primeira a desviou de Vaná. O holandês é já o melhor marcador do campeonato: 11 golos.

Alan Ruiz estava “com a corda toda”. Aos 38′ a bola cirandava a defesa do Feirense, o Sporting não a rematava, o Feirense não se desfazia dela, Elias amorteceu-a de cabeça à entrada da área e Ruiz, à meia volta, pegou-lhe de primeira e rematou forte com a canhota. O remate foi colocadíssimo, mas colocado estava também o guarda-redes Vaná na baliza, desviando para canto com uma palmada.

Viria o intervalo e, depois, o recomeço. Mas sem Adrien, que foi pontapeado na cabeça (involuntariamente, diga-se) e saiu ainda na primeira parte de maca, em direção ao hospital. Para o seu lugar entraria Elias — e de Elias falaremos mais à frente na crónica.

O problema é que quando não há Adrien, o Sporting amolece. E quem amolece demais, tende a sofrer um golo. O golo do Feirense (que até àquele momento pouco ou nada tinha incomodado Beto) caiu do céu. Caiu li-te-ral-men-te dos ares. Vítor Bruno cruzou (61′) longo desde a esquerda para a pequena área, Paulo Oliveira dá um passo em frente — Coates havia subido até à entrada da área e não estava perto dele –, Bruno César ficou nas costas de Platiny quando o devia seguir, e o ponta-de-lança do Feirense só tem que desviar para o 2-1 à boca da baliza. Há 26 anos que o Feirense não marcava um golo ao Sporting.

Aos 69′, e com os visitantes mais motivados e na mó de cima, Raúl José (com o headset na cabeça para ouvir Jesus; não, não é Esse, é o da tribuna) trocou de Ruiz, saiu Alan (o compincha de que Dost precisou tanta vez e tanta vez não teve) e entrou Bryan. Era preciso quem segurasse a bola do lado do Sporting. E segurar é com Bryan — às até demasiadamente.

O que não é com Bryan Ruiz é correr apressadamente. Mas que remédio teve ele (82′) a não ser correr — estava isolado, com o meio-campo do Feirense a estender-lhe uma passadeira e a baliza, ao fundo, só com um desamparado Vaná. Chegado à área, a bola estava no pior dos pés, o direito que é “cego”, Bryan não rematou cruzado como um destro o faria, tentou fazer um “chapéu” ao guarda-redes do Feirense, mas a bola sairia muito por cima da barra. Bas Dost estava sozinho, à esquerda de Ruiz, na pequena área e pedir (desesperadamente) a bola. Isto de ser-se compincha tem que muito que se diga…

Lembra-se de lhe dizer que tínhamos que falar de Elias? Pois bem. Aos 91′ derrubou (imprudentemente) Platiny pelas costas a meio-campo, viu o segundo cartão amarelo e foi expulso. O primeiro tinha-o visto aos 57′ — ele que substituiu Adrien perto do intervalo. Em qualquer das situações, o amarelo é bem visto. E nas duas é “visto” por culpa de Elias, que está quase sempre mal posicionado sobre o relvado. Não, não é de hoje que o está.

Elias pode escolher como marcar o adversário: ou faz uma marcação homem-a-homem ou à zona. Não tem muito que saber ou o que explicar — a posição “oito” a isso obriga. Adrien faz as duas quando o treinador assim lhe pede e as duas faz com eficácia. Mas Elias prefere, às vezes, talvez demasiadas vezes, marcar a própria sombra. Chega quase sempre atrasado a quem tem a bola, não impede que outro adversário a receba, não pressiona alto no relvado, também não pressiona perto da sua área, deixa-se estar, vai-se deixando estar, não acerta passes simples de acertar, complica quando não há o que complicar, sempre com uma lentidão que exaspera um monge budista. Enfim, nada lhe corre bem no regresso ao Sporting. E não é agora, trintão como está, que vai aprender tudo isto que é “dos livros”…

Oxalá Adrien não se demore a voltar do hospital.