As exportações aumentaram quase 20% durante o mês de janeiro face ao que aconteceu há um ano, mas o aumento do preço do petróleo acabou por estragar este efeito positivo e fez com que o défice comercial da economia portuguesa se agravasse em 252 milhões de euros. Preço da eletricidade permitiu excedente a Portugal. A China já nem está entre os 10 principais parceiros comerciais da economia portuguesa.

O aumento das exportações em janeiro, a um ritmo muito superior ao do verificado há um ano, podia anunciar um resultado final melhor que o esperado. No entanto, os 19,6% de aumento das exportações acabou por ficar ensombrado nas contas finais pelo aumento das importações, que cresceram 22,3%, para além de em volume já serem superiores.

O resultado final é um défice da balança comercial — saldo entre exportações e importações — de 941 milhões de euros, mais 252 milhões de euros que o verificado em janeiro de 2016, mesmo tendo em conta o ritmo de crescimento muito superior das exportações em janeiro deste ano (19,6% contra 12% de janeiro de 2016).

Olhando de forma mais próxima para os números é possível perceber que o principal ‘culpado’ do agravamento do défice comercial são os preços da energia, em particular dos combustíveis.

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O preço do petróleo subiu de forma considerável nos mercados ao longo do ano passado e a diferença pesou nos bolsos dos importadores: no final de janeiro o preço do barril de petróleo brent custava mais 60% que no final de janeiro de 2016.

Este aumento fez-se sentir no custo das importações de petróleo em janeiro deste ano de forma considerável. Em janeiro deste ano a economia portuguesa pagou 560 milhões de euros para importar petróleo e gás natural. Há um ano, só havia gasto 263 milhões de euros.

O preço do petróleo só começou a cair de forma pronunciada no verão de 2015, acabando por atingir mínimos no final de 2015, início de 2016. Este efeito beneficiou as importações em janeiro do ano passado, mas em janeiro deste ano, tal como aconteceu em janeiro de 2015, os valores já são mais elevados.

Retirando os combustíveis, o défice comercial continuaria a existir, mas comparando com o que se verificava há um ano até seria menor em cinco milhões de euros. Ou seja, sem os combustíveis na balança comercial, Portugal tinha exportado mais 591 milhões de euros em janeiro deste ano, e importado mais 586 milhões de euros.

Com os combustíveis nas contas, Portugal exportou mais 720 milhões de euros, mas gastou mais 973 milhões de euros com importações.

O mistério das vendas de eletricidade

Uma das rubricas onde Portugal aumentou as vendas e compras ao estrangeiro em janeiro foi a da eletricidade. Segundo o INE, o valor das exportações de energia elétrica atingiu em janeiro 41,7 milhões de euros, um valor que cresce face a 2016 e a 2015. No entanto, as estatísticas da REN (Redes Energéticas Nacionais) apontam no sentido contrário. Portugal reduziu em muito as vendas de energia elétrica este ano, uma queda de 43%, tendo aumentado o recurso às importações de Espanha que mais do que duplicaram.

O aparente mistério estatístico tem origem num fenómeno de subida temporária e acentuada dos preços da eletricidade no mercado grossista, verificado em janeiro. No primeiro mês, os preços de compra e venda de energia elétrica no Mibel (mercado ibérico de eletricidade) dispararam para mais do dobro. E, apesar de Portugal ter registado uma queda muito grande na energia exportada, acabou por encaixar mais por unidade, o que se traduziu numa subida das exportações em valor no passado mês de janeiro.

A questão preocupou os governos de Portugal e Espanha, que questionaram os respetivos reguladores sobre esta situação. A paragem de algumas centrais nucleares em França, no final do ano passado, aumentou muito a pressão da procura vinda de um mercado tradicionalmente exportador e fez subir os preços nos países vizinhos, que tiveram de abastecer os franceses.

O efeito foi ampliado pelo pico de procura num Inverno mais rigoroso na Europa central e pela situação de seca relativa que se vive em Portugal, que provocou uma baixa de 50% na produção das grandes barragens, que em circunstâncias normais seriam a principal fonte de produção. Esta situação fez disparar a produção das centrais a gás natural, que são as mais caras. Ao mesmo tempo, o preço do gás natural no Sul da Europa também disparou por causa do aumento da procura para abastecer França. Estes foram os principais argumentos invocados pelo regulador português para explicar o fenómeno, mas o Governo ainda não ficou satisfeito e fez mais perguntas sobre o aumento do preço do gás.

Fonte: INE.

China já não é dos que mais compra a Portugal

Depois de anos consecutivos de aumentos da venda de bens para a China, a tendência recente de desaceleração de Pequim está a começar a pesar nas contas da economia portuguesa. A segunda maior economia do mundo deixou de estar entre os dez países que mais importavam bens de Portugal e o futuro próximo não deve trazer grandes mudanças neste destino.

Ainda que a economia chinesa mantenha um ritmo de crescimento robusto — 6,7% no passado — a verdade é que, ao contrário de outros anos, o Governo chinês está a dar sinais de moderação aos agentes: a estimativa de crescimento para este ano é apenas de 6,5%; o banco central ditou recentemente um aumento das taxas de juro tornando preço do dinheiro mais caro, e com ele o custo do investimento; e o orçamento para investimento este ano foi mantido, contrariando os aumentos robustos de outros anos.

Em ano de congresso quinquenal do Partido Comunista, em que o Presidente Xi Jinping deverá reforçar o seu controlo sobre o aparelho partidário e sobre o Estado chinês, o governo chinês está a tentar evitar um sobreaquecimento e um ressurgir da instabilidade nos mercados. Portugal, que vende maioritariamente veículos e outros materiais de transportes, minérios e também papel, viu as importações chinesas a descer ao longo do ano e pode mesmo vê-las a tornarem-se cada vez mais diminutas. Já as exportações de bens chineses para Portugal continuam a aumentar e a China é já o sétimo país que mais exporta para Portugal.

Angola é outro caso de descida continuada. As exportações para Angola até aumentaram em janeiro em 9 milhões, mas a redução continuada dos valores recebidos com bens vendidos para Angola fez com que Luanda caísse do 6.º para o 8.º país para onde Portugal mais vende em 2016.

Alemanha, França e Espanha compram mais

Sinal de recuperação da economia da zona euro: foi para três das quatro maiores economias da zona euro que as exportações de Portugal mais aumentaram. Destaque para a Alemanha, para onde as exportações portuguesas aumentaram mais de 50%. Para França (segunda maior economia da zona euro) e Espanha (quarta maior economia) as exportações aumentaram mais de 25%.

As contas relativas a Espanha explicam-se, em parte, pelo efeito do preço da eletricidade exportada falada acima, todo ele “aproveitado” pelo país vizinho. No total, o saldo das trocas com Espanha, o principal parceiro comercial de Portugal, continua negativo para a economia portuguesa, mas melhorou, tanto através do aumento das exportações, como por via de uma redução das importações. O mesmo aconteceu com França, mas a economia portuguesa tem um excedente comercial com a economia francesa.

Já no caso da Alemanha, o segundo maior parceiro comercial da economia portuguesa, o défice comercial até se reduziu, mas Portugal também aumentou as suas importações vindas do grande motor da economia da zona euro.