No sempre dinâmico panorama do desenvolvimento de negócios internacionais, o sector de consultoria em Tecnologias de Informação (TI) e integração de sistemas encontra-se numa encruzilhada. À medida que as economias globais lidam com as consequências do aumento do protecionismo e uma retirada das iniciativas de sustentabilidade, emergem novas oportunidades para o crescimento e internacionalização.

Este artigo explora como as políticas protecionistas antecipadas e as medidas céticas em relação ao clima da administração Trump — e movimentos políticos semelhantes — podem, inadvertidamente, fomentar oportunidades para os fornecedores de serviços de TI expandirem sua presença global.

Compreendendo o protecionismo e os seus impactos

O protecionismo, definido como políticas económicas que restringem importações para apoiar indústrias internas, tem implicações profundas para o comércio internacional. Embora os impostos tarifários esperados se foquem provavelmente em bens e não em serviços, ainda assim podem criar efeitos colaterais no mercado de serviços de TI.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

À medida que as empresas ocidentais (não americanas) se deparam com possíveis barreiras comerciais por parte dos EUA, pode haver menos incentivo para investir nos respetivos mercados internos, empurrando-as a procurar inovação e eficiências de custo em mercados terceiros.

Nesse contexto, as empresas de serviços de TI de países mais competitivos a nível de custo de mão de obra, mas que ofereçam as garantias de pertença a um bloco como o da União Europeia, podem ver-se estranhamente bem posicionadas para preencher lacunas deixadas por políticas protecionistas.

A Postura Cética em Relação ao Clima da Administração Trump

A postura cética em relação ao clima da administração Trump no seu primeiro mandato foi marcada por várias ações-chave destinadas a reverter regulamentações ambientais. Por exemplo, a retirada do Acordo de Paris em 2017 simbolizou uma redução significativa no compromisso dos EUA com a ação climática global.

Essa decisão não apenas afetou a posição internacional dos EUA, mas também teve repercussões para as empresas americanas comprometidas com iniciativas de sustentabilidade.

Além disso, a administração procurou desmantelar o Plano de Energia Limpa, que tinha como objetivo reduzir as emissões de carbono das unidades de produção industrial. Tais movimentos levaram a incertezas em muitos sectores, incluindo os serviços de TI, onde as empresas se mostraram tendencialmente cada vez mais inclinadas a incorporar práticas sustentáveis nos seus modelos de negócios.

Essa retirada dos objetivos de sustentabilidade estabelecidos pode diminuir os incentivos para a inovação em tecnologias verdes, áreas onde as empresas de serviços de TI historicamente encontraram oportunidades lucrativas e sobretudo, onde têm feito investimentos significativos, quer seja numa utilização racional e sustentável dos recursos (energia, água, reciclagem de componentes, etc.) quer seja no desenvolvimento de soluções que ajudam os seus clientes a adotarem práticas mais sustentáveis nas suas atividades de negócio.

Adicionalmente, a administração Trump promoveu a desregulamentação em diversos sectores, sinalizando uma preferência pelo crescimento económico em detrimento das proteções ambientais. Essas políticas podem causar uma redução temporária nos custos de conformidade para as empresas, aumentando-lhes os lucros, mas também criam um potencial vácuo no mercado para serviços que apoiam o desenvolvimento sustentável e particularmente podem levar a uma perda de competitividade das empresas americanas na área da sustentabilidade no médio-longo prazo.

Tendências emergentes em serviços de TI derivadas do protecionismo

Embora o protecionismo de Trump possa trazer benefícios a curto prazo para sectores específicos, a realidade é que as grandes empresas de TI (Big-Tech) são predominantemente baseadas nos EUA e servem uma clientela global. Mesmo num ambiente protecionista, essas empresas devem desenvolver estratégias, produtos e serviços adaptados para os mercados externos.

Consequentemente, isso cria oportunidades para as empresas de serviços de TI trabalharem em estreita colaboração com esses gigantes, promovendo colaborações que podem levar a soluções personalizadas e a novas oportunidades comerciais.

Se o protecionismo se intensificar, outros blocos económicos significativos, como a União Europeia (UE), a Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) e o Mercosul, provavelmente reforçarão o comércio entre si. Essa retração do mercado dos EUA pode estimular o crescimento dentro dessas regiões, proporcionando às empresas de TI novas avenidas para explorar e captar oportunidades de negócios. Ao integrar serviços dentro desses mercados interconectados, as empresas de TI podem expandir o seu alcance e aceder a ambientes económicos diversos.

A Interseção da sustentabilidade e internacionalização

Embora as expectáveis políticas da administração Trump possam diminuir o movimento geral pela sustentabilidade a nível federal, é importante reconhecer que nos EUA os estados possuem uma autonomia significativa na definição das suas próprias políticas, nomeadamente quanto à área da sustentabilidade.

Um segmento significativo da população e do mundo corporativo dos EUA continua a priorizar a sustentabilidade, criando um terreno fértil para as empresas estrangeiras que se diferenciam pelas suas abordagens ecológicas e posicionamento sustentável (seja nas suas políticas, modelos, abordagens, processos, produtos, etc.).

Essas empresas podem encontrar oportunidades únicas para entrar no mercado norte-americano ao aproveitar os seus modelos, experiência e foco orientados para a sustentabilidade, respondendo à procura local por práticas empresariais responsáveis.

Além disso, à medida que os EUA ponderam uma retirada das iniciativas de sustentabilidade, blocos económicos regionais como a UE, ASEAN e Mercosul podem, por contraposição, reafirmar e mesmo fortalecer os seus compromissos com a sustentabilidade. Ao reforçar o seu foco na sustentabilidade, essas regiões podem criar oportunidades para serviços de TI que se destaquem em soluções ambientalmente amigáveis. A internacionalização dos serviços de TI dentro dessas regiões pode prosperar, particularmente para as empresas que antecipam e se adaptam às regulamentações em evolução e às preferências dos consumidores em torno da sustentabilidade.

Adaptando-se ao novo normal

Para as empresas de serviços de TI, a capacidade de se adaptar a este novo normal é crucial. À medida que o protecionismo remodela as dinâmicas competitivas, as empresas precisarão de adotar abordagens ágeis e flexíveis para o desenvolvimento de negócios internacionais. Isso pode incluir a diversificação de mercados, exploração de novas parcerias e aproveitamento de avanços tecnológicos para oferecer serviços personalizados a clientes internacionais.

Além disso, investir na competência cultural e compreender os ambientes regulatórios locais será essencial para entrar e navegar com sucesso nos mercados externos. As organizações devem estar preparadas para entender e abordar as necessidades únicas dos clientes integrando os seus serviços com os contextos e prioridades locais. Isto implica uma visão de longo-prazo e de criação de valor nas comunidades locais ao invés duma política oportunista de mera exportação de serviços

Conclusão

Embora as políticas protecionistas e céticas em relação ao clima da administração Trump apresentem desafios, também criam oportunidades únicas para a internacionalização dentro do setor de serviços de TI.

Ao navegar cuidadosamente por essas águas turbulentas e abraçar uma perspetiva global, as empresas de TI podem posicionar-se para prosperar num ambiente em constante mudança. A convergência entre protecionismo (nalguns mercados) e sustentabilidade oferece um futuro complexo, mas promissor, para o desenvolvimento de negócios internacionais no setor de TI – se as empresas estiverem dispostas a adaptar-se, inovar e procurar novas parcerias e oportunidades a nível global.