“Liderança tranquila: ganhar corações, mentes e jogos” é o título do último livro de Carlo Ancelotti, treinador do Bayern Munique que passou pelo Real Madrid entre 2013 e 2015. Foi ali, a tantas páginas, que se percebeu o porquê da saída do italiano dos merengues quando a maioria ou todos os jogadores (incluindo Ronaldo, à cabeça) queriam que ficasse. E a culpa também foi da UEFA.
Na altura, os espanhóis levavam 22 jogos seguidos a ganhar quando o órgão que tutela o futebol europeu publicou um estudo sobre as horas de treino das equipas. O Real tinha menos do que as outras. De forma propositada: o técnico acreditava que os jogadores precisavam de mais descanso numa fase crítica da temporada, evitando fadiga e lesões. Quando a derrota chegou, o presidente dos merengues, Florentino Pérez, deu o toque: “Temos de trabalhar mais”. E Ancelotti percebeu que os números contavam mais do que o seu trabalho.
A confiança tinha sofrido um revés, mas o golpe fatal veio de outro galáctico que esteve ausente esta noite no Santiago Bernabéu: o agente de Gareth Bale queixou-se que o galês preferia jogar pelo centro e não pelas alas. Florentino perguntou ao transalpino o que iria fazer, Ancelotti disse que não ia mexer no sistema a meio da época. “Nunca mais a relação foi a mesma”, explicou.
Em 2013/14, com Ancelotti como técnico principal e Zidane como adjunto, o Real Madrid ganhou a Liga dos Campeões e a Taça do Rei; em 2014/15, com Ancelotti como técnico principal, Hierro como adjunto e Zidane a treinar da equipa B, o Real Madrid ganhou o Mundial de Clubes e a Supertaça Europeia mas falhou o Campeonato, a Taça do Rei e a Liga dos Campeões. Houve troca, foi um erro de casting: passados seis meses, Rafa Benítez saiu. E chegou Zidane. Que ainda não parou de ganhar. Mesmo sofrendo muito, como aconteceu na segunda mão dos quartos-de-final da Champions frente ao Bayern de Ancelotti: vitória por 4-2 no prolongamento, com um hat-trick de Cristiano Ronaldo.
O francês bebeu muito dos ensinamentos do italiano. Como jogador, em dois anos na Juventus; como treinador, na primeira época no Real Madrid. E hoje é descrito como Carlo Ancelotti deu título ao seu livro: o líder tranquilo que vai ganhando corações, mentes e jogos. Muitos jogos, mais do que se esperava. E além de estar na frente do Campeonato antes do clássico com o Barcelona (no domingo), apurou a equipa para as meias-finais da Liga dos Campeões, prova que ganhou na última época e a que já juntou uma Supertaça Europeia e um Mundial de Clubes.
Com isso, poderá fazer um feito inédito: colocar o Real como a primeira equipa bicampeã europeia desde que foi introduzido o novo formato da Champions. E sabe quem foi o último conjunto a conseguir? O AC Milan, em 1989 e 1990, quando venceu na final de Viena o Benfica com Carlo Ancelotti na equipa… como jogador.