As investigações que estão a ser efetuadas à EDP e à REN envolvem quatro gestores que foram constituídos arguidos, de acordo com a confirmação feita pela Procuradoria-Geral da República. Saiba quem são António Mexia, João Manso Neto, João Faria Conceição e Pedro Furtado.

António Mexia

António Mexia, presidente executivo da EDP, é licenciado em Economia pela Universidade de Genebra e foi professor convidado do Instituto Europeu da Universidade Católica Portuguesa de 1985 a 1989.

Desempenhou funções num dos governos liderados por Cavaco Silva, quando assumiu funções como adjunto do secretário de Estado do Comércio Externo, entre 1989-1991, quando esta pasta era desempenhada por António de Sousa, futuro governador do Banco de Portugal e, posteriormente, presidente da Caixa Geral de Depósitos.

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Após a experiência no governo, foi nomeado vice-presidente da administração do Instituto do Comércio Externo, atual Aicep, onde se manteve entre 1991 e o ano seguinte. Seguiu-se um período da carreira em que se dedicou ao setor financeiro. Foi vogal do conselho de administração do Banco Espírito Santo, sob a presidência de Ricardo Salgado, antes de transitar para a Galp Energia, onde preencheu os cargos de vice-presidente da administração e presidente da comissão executiva, cargos que acumulou com a liderança da Gás de Portugal, Transgás e Transgás Atlântico.

Com a substituição de Durão Barroso por Pedro Santana Lopes nas funções de primeiro-ministro, em 2004, António Mexia foi convidado a ocupar o cargo de ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações. A experiência governativa foi curta e Mexia acabou por ser nomeado para presidente do conselho de administração da EDP, já durante o primeiro executivo de José Sócrates, em 2005. Manteve o posto, mesmo após a privatização total da empresa, agora controlada pelos investidores chineses da China Three Gorges.

Em 2014, recebeu a Grã-Cruz da Ordem do Mérito Empresarial Classe Industrial das mãos do Presidente da República, Cavaco Silva.

Em entrevista feita em 2017 pela TSF e Dinheiro Vivo, António Mexia declarou, a propósito da alegação de que os preços da eletricidade em Portugal são elevados, que “a eletricidade não é cara, as casas é que são mal construídas”. Noutra entrevista, neste caso à revista Visão, o gestor disse que em Portugal não existe “nenhuma entidade como a EDP. Do ponto de vista de gestão empresarial não há outra. Veja os projetos da EDP nos EUA. Têm uma escala de tal ordem que dá gozo a quem os gere.”

Sobre o interesse na política, confessou à mesma publicação que teve “ambições autárquicas”, chegou a ser dado como possível candidato à Câmara Municipal de Lisboa, mas que se desencantou. Na política, “as pessoas estão permanentemente sob ataque. Não é sob escrutínio”. Revelou, também, ter “pena de não ser bom treinador de futebol” porque, defendeu, é “uma profissão que deve dar gozo”.

Em 2015, António Mexia recebeu 2,1 milhões de euros de remuneração fixa e variável pelas funções que desempenha na EDP. Questionado pela revista Sábado, afirmou: “No futebol, o meu salário equivale ao de um defesa direito de um clube do meio da tabela. Não me considerando eu um jogador desses”.

João Manso Neto

João Manso Neto, 59 anos, nascido em 1958, é presidente executivo da EDP Renováveis. É licenciado em Economia pelo ISEG e iniciou a carreira profissional na banca, no Banco Português do Atlântico, onde permaneceu de 1981 a 1995. Transitou para o Banco Comercial Português (Millennium BCP) já depois de a instituição financeira, na época liderada por Jorge Jardim Gonçalves, ter comprado, através de uma oferta pública de aquisição, o capital do BPA.

Saiu do BCP, após ter integrado a administração, para assumir um cargo de administrador no Grupo Banco Português de Negócios entre 2002 e 2003. Chegou a ser arguido na sequência das investigações ao colapso do BPN e do Banco Insular, mas o “estatuto” durou apenas dois dias.

Em 2003, João Manso Neto entrou para a EDP, quando esta empresa era liderada por João Talone, também ex-quadro do BCP, onde assumiu as funções de diretor-geral e de administrador da EDP Produção. Dois anos após a chegada à EDP, o gestor foi nomeado para as administrações da HC Energía, Genesa e Naturgas Energia, participadas da empresa energética portuguesa. Em março de 2006 foi eleito membro do conselho de administração executivo da EDP, posto que mantém até hoje.

Discreto, parco nas aparições públicas ou nos órgãos de comunicação social, Manso Neto foi considerado, em 2014, o terceiro melhor líder executivo de Espanha, onde a EDP Renováveis tem sede. A distinção foi feita a partir de uma sondagem da Thomson Reuters à comunidade de investidores.

Uma das suas “imagens de marca”, o cabelo longo e grisalho, contrastam com os padrões habituais entre os altos quadros empresariais. Mas esta aparência invulgar não o impediu, durante a carreira, de ser alvo de elogios por quem o conheceu e trabalhou com ele, não por ser considerado um especialista em assuntos de energia, mas porque é visto como um financeiro competente, característica que terá justificado a aposta de João Talone na sua contratação.

Um perfil publicado pelo Jornal de Negócios em 2012 revela que é frugal no que respeita à alimentação, o que ajudará a explicar a figura esguia acentuada pela estatura elevada, mas é um consumidor compulsivo de café. Fontes citadas pelo jornal indicam que tomará 20 por dia, além de ser um fumador inveterado.

João Faria Conceição

Administrador executivo da REN desde 2009, João Faria Conceição, 43 anos, tem um percurso ligado à engenharia e à consultoria. Licenciou-se em Engenharia Aeroespacial pelo Instituto Superior Técnico, formação que reforçou no Von Karman Institute for Fluid Dynamics em Bruxelas.

A especialização em gestão dá-se em 2005, com o MBA na escola de negócios francesa, Insead. Iniciou a carreira profissional no JP Morgan, em Bruxelas, e entrou mais tarde no Boston Consulting Group (entre 2000 e 2007) – a consultora que também aparece envolvida na recente investigação.

Logo a seguir, e durante dois anos, assessorou o Ministério da Economia e da Inovação em questões de política energética. Na REN, é o administrador que supervisiona as áreas de negócio da electricidade e do gás natural, regulação e apoio às concessões.

Pedro Furtado

Pedro Furtado é diretor de estudos e regulação na REN. Licenciou-se em engenharia mecânica no Instituto Superior Técnico, em Lisboa, e fez o Programa Avançado em Economia e Regulação da Concorrência na Universidade Católica, em
2006, e o Programa Avançado de Direção de Empresas, na AESE, que completou em 2008.

Trabalhou na Iglo, no departamento de engenharia mecânica da LM e, posteriormente, na Transgás. Entrou para a REN como responsável pela regulação e tarifas, em 2006 e, de 2011 a 2012 foi diretor de Planeamento e Controlo Operacional
da REN Gasodutos, antes de ascender às funções que ocupa atualmente.