És jovem? Nem por isso? Não importa. A verdade é que isso da idade não faz diferença nenhuma. Foi só uma maneira de começar este texto sobre o concerto dos The Kills no NOS Alive, uma lição de hora e pouco sobre como fazer uma banda que quando chega ao palco se transforma num monstro. Ficam as dicas:

Mete na cabeça que nunca terás tanto estilo como a Alison Mosshart, a voz-pose-classe-vulcão desta banda. Nunca conseguirás sentir o rock desta maneira, como se fosse algo alcançável apenas por uma raça extra terrestre. Já está, já assimilaste este primeiro princípio? Muito bem. Só depois de aceitares as tuas fragilidades é que podes seguir em frente.

Trata a guitarra como se fosse o teu melhor amigo e a tua melhor companhia numa noite quente, tudo ao mesmo tempo. Não, é estranho, pode parecer mas não é. Há ocasiões em que só a promiscuidade te safa.

Toca antes do cabeça de cartaz como se fosses tu o dono da noite.

Lembra-te que o cabedal nunca passa de moda, nem num casaco nem numas calças. É tudo uma questão de atitude. Ou tens ou não tens, claro, mas isso também se trabalha.

Dá a volta ao rock. Faz tudo de maneira diferente sem lhe quereres mudar a natureza. Se o rock’n’roll sobreviveu até hoje é porque alguma razão muito forte tem de haver para isso ter acontecido. Qual razão? Ainda bem que perguntas: sexo. E com os The Kills, de uma maneira ou de outra tudo é sexo.

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Reduz cenários, luzes e outros elementos acessórios ao essencial. Se conseguires encher um palco com a forma como tocas, como cantas e como te mexes é porque vais conseguir tudo o resto. Tudo.

Diverte-te. Lixa-te no público, nas fotos, nas expectativas. Diverte-te como se fosse o último concerto. Olha para os teus companheiros em cima do palco como quem diz “estes milhares aqui à nossa frente queriam ser todos como nós mas nunca vão conseguir”. Até porque provavelmente não vão mesmo.

Tens canções que toda a gente conhece? A tua banda é uma coisa meio punk, meio indie, sem ser nenhuma delas e ainda assim tens canções que passam na rádio e que são sucessos das coisas do streaming? Guarda-as, faz a malta sofrer, trabalha a ansiedade coletiva.

Bom, também não os faças sofrer de mais. Atira um docinho de quando em vez. Sabes que isto num festival, por exemplo, há distrações em toda a parte. A barraca do Diversões Alentejano, por exemplo.

No meio de toda a tua loucura elétrica faz um slow. Dá tanto para dançar com alguém como para odiar um inimigo. Escolhe bem os acordes menores e faz bom uso da angústia, a tua e a dos outros.

Veste a pele de lobo, sempre. Quando disseres obrigado, vira cordeiro. A malta vai adorar.

Toca aquela. Isso. Essa mesmo. Olha para os The Kills: tocaram “Doing it to Death”, a canção oficial do “nunca ninguém me vai conseguir parar, não há maneira”.

Baixa-te em frente ao público. Acende um cigarro. Faz com que eles entendam que são todos teus, teus e de mais ninguém. Faz com que eles pensem que te podem tocar, que podem chegar até ti. Não podem mas esse jogo de sedução faz maravilhas.

Quando menos se esperar, saca da tua guitarra acústica e atira-lhes uma canção de love sweet love. Toda a gente gosta, até o maior dos rufias se derrete com o queixume certo no tom certo, nunca duvides desta verdade universal.

Acaba em grande. Se tiveres uma pérola do calibre de “Love is a Deserter” não deixes de a mostrar ao mundo. Dá um abraço aos teus colegas, ensaia uma vénia e nunca percas.