Estes bolos não ficaram a meio, é tudo charme. Afinal, o que é que distingue um naked cake de um bolo convencional? A diferença está na cobertura. Enquanto um bolo normal, por muito grande que seja, é totalmente coberto por uma pasta ao gosto do pasteleiro, este fica com a massa e com o recheio à vista e, quanto mais camadas tiver, melhor.

Mais ou menos despidos, o que é certo é que a febre dos naked cakes está longe de abrandar. Das festas de aniversário aos casamentos, estes bolos andam por aí a fazer um brilharete, sem contar com as contas de Instagram que quase engordam os seus seguidores só com as imagens que partilham. Conheça três negócios portugueses que se dedicam a pôr os bolos a nu.

Migalha Doce

Antes de se tornar especialista em bolos de várias camadas, Sandra Bernardo experimentou ser blogger. Correu tão bem que, ao fim de um ano, já recebia encomendas. Mas afinal, como é que uma designer de moda se torna numa das pasteleiras mais concorridas de Lisboa e arredores? Começou tudo no dia em que Sandra decidiu fazer um curso de design gráfico. Foi aí que descobriu o complexo mundo do food styling.

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Um dos naked cakes feitos por Sandra. © Divulgação

Em 2014, grávida e a passar a maioria dos dias em casa, criou o blogue Migalha Doce. Fazia receitas simples na cozinha, empratava e decorava-as a gosto e partilhava o resultado final com os seus seguidores. “Comecei com pequenos doces, daqueles que aprendi a fazer com a minha mãe. Ela já me tinha deixado com este bichinho, mas foi nessa altura que ele despertou”, afirma. Mas os pequenos doces foram só no início, porque Sandra descobriu depressa que o que queria era construir em altura. Começou a explorar os bolos em camadas e fez deles a imagem de marca da Migalha Doce. Têm mais de duas camadas e começaram a ter cada vez mais procura. Já Sandra admite ter ficado viciada e, hoje, se um bolo sai do forno só com 15 centímetros de altura é caso para alguma tristeza.

“Ainda me lembro de pôr um aviso no Facebook a dizer que aceitava encomendas para o Dia dos Namorados. Recebi uma”, conta. Sandra estava a dar os primeiros passos, mas só alguns meses depois viria a realizar o grande sonho: fazer um bolo de casamento. A 29 de agosto de 2015, lá ia ele com três andares, meio coberto e decorado com frutos vermelhos. Hoje, Sandra não tem mãos a medir e já perdeu a conta aos bolos de casamento que fez de maio até agora. Os naked cakes continuam a ser os preferidos dos noivos, se bem que a Migalha Doce também tem um meio termo, uma espécie de seminudez aplicada à pastelaria, em que a parte lateral do bolo é coberta muito ao de leve, deixando algumas partes da massa à vista.

Para já, Sandra trabalha em casa e sozinha. Este verão tem sido concorrido e a doceira de serviço já se viu obrigada a recusar encomendas. A dois dias das entregas, é preciso despejar o frigorífico para poder acondicionar todos os ingredientes. Das frutas às flores, passando pelos cremes de cobertura e recheio, tudo é comprado à última para ser o mais fresco possível. Mais cedo ou mais tarde, terá de encontrar um espaço fora de casa e alguém que a ajude, pelo menos na confeção dos bolos, já que ideias não lhe faltam. Sandra diz que já não tem espaço do telemóvel para mais imagens e nem todas são de bolos. “A inspiração pode vir de uma pintura ou de uma peça de cerâmica, não há limites”, confessa. Até macramé já usou para decorar bolos. Um bolo para 10 pessoas anda entre os 45€ e os 50€. Mais do que quilos, Sandra orienta-se com fatias.

O Bolo vai Nu

Em junho deste ano, Vera e Joana criaram O Bolo vai Nu, um nome que não deixa dúvidas sobre qual é a especialidade das duas amigas. Joana andou sempre de olho no que se faz lá fora e decidiu juntar o jeito que tinha para os doces ao bolo que lhe aparecia em tudo o que era blogue. Nesta altura, Vera era só uma cliente fiel, além de uma amiga de infância. Encomendava bolos e doces para festas de aniversário e ceias de Natal, até ao dia em que propôs que arrancassem com o negócio mais a sério.

Dos bolos mais simples aos mais complexos, Joana e Vera criaram a própria empresa em junho e as especialidade são os “naked cakes”. © Divulgação

Joana vem da comunicação social, Vera da gestão. A primeira põe as mãos na massa, a segunda assegura a divulgação e garante que as contas batem certo. Ainda só passaram dois meses, mas o balanço é positivo. Dizem que julho superou as expectativas, mesmo sem nenhum bolo de casamento. “O que as pessoas querem ver é a criatividade na decoração”, afirma Joana. Esta leva quase sempre flores, mas também há quem peça bandeirolas e nomes. O objetivo é ir dando a cada bolo o toque das diferentes estações do ano.

Além dos naked cakes, onde as massas podem variar entre laranja, chocolate, iogurte, red velvet, amêndoa e noz, O Bolo vai Nu continua a dar cartas nas sobremesas. O suspiro de chocolate, o cheesecake e a mousse de verão são clássicos que nunca passam de moda. O preço dos bolos ronda os 25€ por quilo, mas já se sabe que as decorações são decisivas para o valor final. Quem quiser pode simplesmente seguir o Instagram. Lá, inspiração não falta e é grátis.

Conrad’s Bakery

Ao contrário do que seria de pensar, Marta Jerónimo nunca foi grande apreciadora de doces. Sempre gostou de receber amigos em casa, isso sim. E, quando deu por ela, era na doçaria que mais se destacava. “Uma das razões que me levou a começar a fazer doces foi poder comer sobremesas de que realmente gostasse. Isto é, que tivessem muito sabor, mas que não fossem excessivamente doces”, conta. O gosto transformou-se em negócio em 2014, resultado da pressão de amigos e familiares, mas também de quem a seguia no Instagram.

Nem só de bolos nus é feita a Conrad’s Bakery. Este está bem tapadinho e fez sucesso nas redes socais. © Divulgação

Desde então, a Conrad’s Bakery nunca mais parou. Formada em psicologia, Marta continua dividida entre um trabalho a tempo inteiro, na área da restauração, e os bolos que faz para fora. Diz que há dias em que a agenda é um verdadeiro tetris. Mas, pelo aspeto dos bolos, vale a pena. As flores e os frutos vermelhos são os seus ingredientes decorativos favoritos, mas Marta também já usou figuras de animais para tornar os bolos ainda mais especiais.

Enquanto isso, os naked cakes têm arrebatado muitos corações. Para Marta, não é só uma questão de beleza. Estes bolos têm mesmo qualquer coisa de especial. “Os bolos de festa em camadas requerem sempre uma cobertura que lhes dê alguma estrutura. O problema é que estas coberturas são sempre muito doces e podem acabar por dominar o sabor do bolo e isso deixava-me insatisfeita. Os naked cakes têm o mínimo de cobertura possível, o que para mim, em termos de sabor, os torna muito mais apelativos. Esteticamente também são mais descontraídos”, completa. O preço de um bolo destes, com camadas, começa nos 40€.