Quem chega à Av. Rei Humberto II de Itália, em Cascais, ao lado do Centro Cultural, não se apercebe que há um novo museu. O MARCC, que será apresentado esta quarta feira, fica numa nave que liga a Cidadela de Cascais à marina, mesmo por baixo da praça em betão branco, e tem ligação direta ao parque de estacionamento.

São cerca de 1700 metros quadrados que pretendem mostrar o trabalho de uma nova geração de artistas visuais nacionais e estrangeiros, inspirados pela realidade global dos ambientes urbanos contemporâneos, a partir da coleção privada de Vhils.

Superada a dificuldade de encontrar o espaço, chegamos à entrada do museu pelo lado da marina. O museu, ainda em fase de construção e com o betão à mostra, está dividido por duas zonas de exposição, uma permanente e outra temporária. No meio da sala temporária, a parede branca esculpida com a palavra “Invísivel” marca a presença do estilo artístico de Vhils no museu. Foi construída de propósito para a inauguração oficial das exposições temporárias do MARCC e irá desaparecer quando entrarem as obras da coleção pessoal do artista.

A maquete do novo museu está à vista de todos (foto: Rita Dantas Ferreira)

É aqui que vão funcionar as três exposições rotativas de artistas individuais ou coletivas do museu, organizadas anualmente. E já o calendário já está fechado para 2018: a exposição individual de Vhils para a inauguração, uma mostra histórica, outra do argentino Felipe Pantone e uma outra de um artista ainda a confirmar. O objetivo deste espaço é dar voz a um movimento artístico multifacetado e multidisciplinar que tem registado uma crescente presença em Portugal e no resto do mundo. Ao todo, serão 25 obras adquiridas e comissionadas pela Câmara Municipal de Cascais.

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A exposição permanente ocupará o restante espaço do museu, com uma área privilegiada e que irá funcionar como mostra da Coleção MARCC. Com o acervo privado de Vhils, esta sala será uma das pedras angulares do museu e terá um programa de aquisições de peças feitas em feiras, galerias, ateliers de artistas portugueses e estrangeiros, tanto emergentes como consagrados. O museu pretende ser assim uma nova plataforma mais institucional para preservar, apresentar e fomentar o entendimento da arte urbana contemporânea.

A curadoria do MARCC ficará a cargo de um grupo de portugueses e estrangeiros independentes, com o objetivo de posicionar o museu na sua contemporaneidade portuguesa, que irão fazer um levantamento de obras que existem de norte a sul do país, mas procurando também autores de fora. Apesar da autoria do Vhils, o museu quer envolver outros artistas para preservar a imparcialidade dos criadores das obras.

Esta quarta feira há uma primeira apresentação do MARCC mas ainda há muito trabalho por concluir (foto: Rita Dantas Ferreira)

No espaço que une as duas exposições, funcionará ainda uma bilheteira e uma cafetaria. “Vai funcionar como um espaço público, onde as pessoas podem circular e vir ao museu tomar café, por exemplo”, explica Pedro Ferreira, um dos arquitetos que faz parte da equipa de Vhils e que, em conjunto com António Louro, pensou este projeto.

“O nosso grande desafio era a lógica da circulação. Era preciso resolver a dinâmica da estrutura. As pessoas podem chegar aqui de diversas formas e era importante organizar o espaço”, explicam.

É possível aceder ao museu pelo parque de estacionamento, com entrada na praça D. Diogo de Menezes ou pela marina. Há ainda uma parte desta nave que não foi utilizada e será em breve outro museu. “Queríamos ser muito generosos com a abertura do museu para o exterior”, descrevem os arquitetos.

E é por isso que a parede que faz fronteira com o exterior será toda em vidro e não estará tapada. “Quem passar por aqui, pode ver o que acontece cá dentro”, dizem. Para já, as duas exposições são separadas por uma rede do teto ao chão, mas a ideia é, no futuro, que seja colocada uma parede em tijolos de lado para que quem esteja na exposição temporária consiga ver o que se passa na permanente. “São uma série de cabeças a pensar”, afirmam. O espaço do corredor foi criado para potencializar o museu. Além de permitir a circulação das pessoas, separa uma parte importante do projeto museológico.

“De um lado temos o acervo do museu, o conceito do Vhils. Do outro temos peças do exterior com uma maior rotatividade”, explicam os arquitetos.

O museu será também palco de conferências, palestras, workshops, cursos, projeções de filmes e vídeos e programas de noites abertas com música, mostras e performances. Há já dois projetores montados em cada sala. É uma forma de promover a educação artística com várias atividades e interações. “É um espaço para todos”, descreve a equipa de Vhils.

Ainda não há data marcada para a abertura ao público mas deverá acontecer em breve (foto: Rita Dantas Ferreira)

O museu terá uma parte gratuita e outra paga (com valores ainda por definir) e contará com um programa de associados dos Amigos do MARCC, oferecendo um livre acesso ao museu para as atividades especiais, visitas VIP, ateliers de artistas, entre outros. O novo museu de arte urbana junta-se ao Bairro dos Museus em Cascais e é vizinho da Casa das Histórias Paula Rego, do Museu do Mar e da recentemente recuperada Casa Sommer, sede da biblioteca municipal de Cascais.

Não há ainda data oficial para abertura ao público, mas os arquitetos acreditam que poderá acontecer em breve. “O mais difícil já está”, dizem. O MARCC resulta de uma parceria entre o Município de Cascais e o artista visual português Alexandre Farto, financiado a partir de fontes públicas e privadas.